Matthew Perry
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Estrelas e "médicos sem escrúpulos": morte de Matthew Perry é último exemplo de uma história tóxica

As acusações contra os médicos Salvador Plasencia, que se declarou inocente, e Mark Chavez, que aceitou declarar-se culpado de conspiração para distribuir cetamina, assemelham-se a outros casos anteriores de celebridades que morreram com overdoses.
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A trágica morte do ator de “Friends”, Matthew Perry, veio realçar a relação secreta e tóxica que existe há muito tempo entre celebridades problemáticas e os médicos que cuidam dos seus vícios.

Perry, que tinha um longo historial de abuso de substâncias, foi encontrado morto na banheira de hidromassagem da sua luxuosa casa em Los Angeles, no ano passado, com níveis extremamente elevados de cetamina no organismo.

As autoridades federais disseram que a estrela ficou viciada enquanto procurava tratamento para a depressão e “recorreu a médicos sem escrúpulos” quando fontes legais se recusaram a aumentar a sua dosagem.

“Em vez de ‘não causarem danos’, causaram-nos deliberadamente para que pudessem ganhar mais dinheiro”, disse Anne Milgram, da Drug Enforcement Administration dos EUA, numa conferência de imprensa esta semana.

As acusações contra os médicos Salvador Plasencia, que se declarou inocente, e Mark Chavez, que aceitou declarar-se culpado de conspiração para distribuir cetamina, são reminiscentes de outros casos de celebridades.

Por exemplo, o médico de Michael Jackson, Conrad Murray, foi condenado em 2011 por homicídio involuntário por administrar uma dose letal de um poderoso anestésico cirúrgico à mega-estrela da pop.

As mortes de outros ícones do espetáculo, de Elvis Presley e Marilyn Monroe a Prince e Tom Petty, estiveram todas ligadas ao consumo fatal de substâncias controladas obtidas junto de profissionais médicos. “As regras vão pela janela fora com pessoas famosas e isso leva constantemente à tragédia”, disse Harry Nelson, um proeminente advogado de saúde sediado em Los Angeles. "É uma loucura".

"Uma armadilha"

O ganho financeiro é, muitas vezes, um motivo chave para estes casos. Plasencia terá vendido frascos, avaliados em 12 dólares, por valores até 2.000 dólares a Perry, chegando mesmo a enviar mensagens a Chávez: "Pergunto-me quanto é que este idiota vai pagar... Vamos [sic] descobrir."

Mas o advogado Harry Nelson, que esteve pessoalmente envolvido em mais de uma dúzia de “tragédias de primeira página e manchetes” envolvendo atores famosos, estrelas de rock e atletas, disse que o quadro completo é muitas vezes mais complicado.

"As celebridades têm uma necessidade genuína de privacidade. Ir ao médico para obter uma receita e depois ir a uma farmácia para recolher os medicamentos não é viável para pessoas problemáticas que são frequentemente perseguidas por paparazzi", lembra.

No entanto, os médicos podem rapidamente ficar impressionados com o “romance e excitação” da proximidade com estrelas mundialmente famosas e para “permanecer nas boas graças dessa pessoa e continuar a ter esse papel privilegiado”, os médicos podem acabar por racionalizar: “Vou fazer o que essa pessoa quer, mesmo que seja contra o melhor julgamento”, diz Nelson.

"Mas é uma armadilha. É uma armadilha tanto para o paciente famoso como para o médico", acrescenta.

"Festas da cetamina"

O uso da cetamina como “droga para festas” devido aos seus efeitos dissociativos e alucinatórios explodiu na década de 1990.

Em meados da década de 2000, as "festas de cetamina" realizadas em casas particulares em Los Angeles eram frequentemente frequentadas por grandes estrelas, de acordo com Nelson.

“Havia um punhado de médicos em Los Angeles que facilitavam estas festas, literalmente, em que todos faziam infusões de cetamina na casa de uma celebridade, em Malibu, na praia”, disse.

O conselho médico reprimiu estes médicos, disciplinando ou retirando as licenças a vários.

Hoje, o medicamento é cada vez mais utilizado para o tratamento legítimo da depressão e do TEPT.

O sul da Califórnia tornou-se um centro para clínicas de reabilitação privadas que oferecem privacidade absoluta – por taxas extravagantes – a celebridades e aos ultra-ricos, diz Nelson.

No caso Perry, um dos acusados, Mark Chávez, geriu anteriormente uma clínica de cetamina.

"Liberdades"

O medicamento, que pode causar efeitos na saúde, incluindo perda de consciência e problemas respiratórios, só deve ser administrado sob a supervisão de um médico, e os doentes devem ser monitorizados de perto.

Plasencia terá entregue frascos de cetamina ao assistente de Perry - chegando mesmo a encontrá-lo numa esquina à meia-noite, algumas semanas antes da morte do ator, por uma troca de 6 mil dólares em dinheiro, de acordo com a acusação.

“A ideia de que alguém possa simplesmente tomá-lo em casa e entrar na banheira de hidromassagem enquanto toma esta droga é criminosa, é irresponsável”, aponta Nelson.

“Os médicos que o fizeram sentiram, sem dúvida, que podiam tomar algumas liberdades, porque estavam a lidar com uma pessoa famosa que precisava de maior privacidade”. Um erro que voltou a custar caro, como em tantas outras vezes anteriormente no mundo do espetáculo.

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