Em Alfama o cinema sai à rua
Nesta época do ano é a céu aberto que o cinema se torna mais atrativo para o público. E de entre as várias propostas que surgem um pouco por toda a parte, o Cinalfama -Lisbon International Film Festival distingue-se pela sua especificidade: é uma iniciativa voltada para o cinema independente, com particular sensibilidade social ou comunitária, que tem lugar no coração de um dos mais antigos bairros lisboetas. Até à próxima sexta-feira, há nada menos do que cinco dezenas de filmes para ver, na sua maioria curtas-metragens (31 estreias nacionais e 46 títulos internacionais), todos os dias ao ar livre, nas Escadinhas de São Miguel, e também no Museu do Fado, à tarde.
A abrir esta 3ª edição, o filme Judgment in Hungary (hoje, 21h) apresenta-se como um olhar reflexivo sobre o julgamento de crimes de ódio contra membros da comunidade cigana – já tinha marcado o arranque do primeiro Cinalfama e agora a sua exibição vem enriquecida pela presença da realizadora, a húngara Eszter Hajdú, que estará à conversa com o ativista Rogério Roque Amaro. Um ato de abertura que não deixa de encaixar no tema da integração e diálogo intercultural, a que é dedicada uma mostra em parceria com a associação Renovar a Mouraria.
Num festival com muitos convidados nacionais e internacionais, e um júri que integra cineastas como Leonor Teles e Pedro Cabeleira, a novidade este ano é um projeto piloto de “recolhas filmadas de histórias e oralidades de Alfama”, como se lê no comunicado. A ideia passa por uma vontade de conservar a memória do bairro de uma maneira dinâmica, e incentivar uma lógica de arquivo que permita abordar as questões identitárias desta zona histórica de Lisboa. Os resultados do projeto, ainda em fase inicial, serão exibidos no dia 26.
A “utopia comunitária” do Cinalfama faz-se então de diferentes categorias que procuram organizar os filmes por características particulares. Há, por exemplo, o City in Film Award, destinado aos filmes em que a cidade é a personagem principal; o Animalfama, cinema de animação para adultos; Micro & No Budget, com filmes de baixíssimo orçamento; Best Soundtrack, a distinguir a banda sonora; Melhor Filme Português e Melhor Filme Alemão, neste caso porque a Alemanha é o país convidado, tendo como representação Good News (dia 25, 21h), as aventuras e desventuras de um jornalista alemão na Tailândia, com assinatura de Hannes Schilling – o realizador estará presente na sessão para trocar ideias com Teresa Althen, do Goethe-Institut. A mais importante distinção do festival é, claro, o Grande Prémio Cinalfama, para conferir na reta final do programa.