Cosplay: hobby e negócio que traz personagens para fora do ecrã
Agregado à cultura pop japonesa, o cosplay tem vindo a ganhar cada vez mais força e adeptos em Portugal. Abreviatura de costume play (jogo de figurino), o cosplay é uma subcultura onde os fãs da cultura japonesa se vestem à imagem das suas personagens preferidas, muitas vezes ligadas ao anime. Apesar de haver várias versões divergentes em relação aos seus primórdios, considera-se que o cosplay terá surgido pela primeira vez em Los Angeles, onde um casal fã de ficção científica se vestiu com roupas "futuristas" para uma convenção científica em 1939. Hoje em dia, a atividade é um hobby, mas também um negócio que junta milhares de jovens um pouco por todo o mundo. O DN falou com alguns cosplayers portugueses.
Do assédio ao negócio: as dificuldades do cosplay
Com um pai a fazer cosplay de stormtrooper, soldado de Star Wars, o fascínio por este mundo em que se veste a pele das personagens preferidas começou cedo para Ana Alves. Hoje com 25 anos, fez primeiro cosplay juntamente com o pai - os dois de stormtroopers em 2010. "Fiquei fascinada com o mundo do cosplay porque já era muito virada para as cenas geek. Quando vi o meu pai de cosplay, disse: "Eu também quero". Tinha 13 aninhos e lá fui eu fazer cosplay com o meu pai", conta Ana Alves, também conhecida como Canela, ao DN, no café Yohoshiro, vestida da personagem principal do anime Darling in the Franxx. A peruca cor-de-rosa veio na mão, num pequeno manequim, com Ana a colocá-la já no café.
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Até 2020, o cosplay era o trabalho a full-time de Ana, mas com a pandemia as coisas mudaram, até porque a maior parte do seu rendimento vinha da participação em convenções e, com a pandemia, estas foram canceladas por razões de segurança. "Continuava a fazer dinheiro, mas não era tanto. Entretanto, encontrei um emprego no aeroporto de Lisboa. Atualmente, tenho basicamente dois trabalhos full-time - o aeroporto - e o cosplay."

© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
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Durante as convenções, Ana Alves costuma fazer workshops e ter uma banca onde vende tatuagens temporárias e prints (fotografias impressas em cosplay). "Os prints são o que vendo mais. E tenho um orgulho imenso de partilhar a minha experiência em workshops, como foi o caso na Comic Con, ou de falar em painéis a discutir ideias."
Recentemente, pensou voltar a dedicar-se unicamente ao cosplay, mas a paixão pelo mundo aeroportuário fez com que ficasse. "Eu digo sempre que qualquer pessoa consegue fazer dinheiro com cosplay, mas não é qualquer pessoa que consegue fazer constantemente dinheiro com cosplay."
Para a cosplayer, a parte mais complicada de lidar no mundo do cosplay é o assédio. Desde descobrirem a sua morada até a ter de pedir segurança nos eventos, foram vários os problemas com que Ana Alves teve de lidar. "Ser conhecido vem com este lado mais negro de ter lidar com os stalkers e com assédio, por vezes em convenções e no dia a dia."
Por ano, a cosplayer veste cerca de 20 fatos. Hoje conta com um estúdio, onde tem quase 80 cosplays. "Cada fato é capaz de rodar 50 a 150 euros, por isso, no final do ano prefiro nem fazer as contas", disse entre risos.
Em criança, no Pinhal Novo, Ana Alves era muito reservada e na escola tinha poucos amigos. "Quando comecei a fazer cosplay, comecei a abrir-me e conheci tanta gente. A maior parte dos meus amigos agora são cosplayers", disse. "Uma criança que sofre bullying na escola pode encontrar aqui um lar."
Interpretar as personagens preferidas

Catarina Gaita vestida de Gato Noir, personagem dos desenhos animados Miraculous Ladybug.
© Direitos Reservados
O quarto é o local onde Catarina Gaita, também conhecida como Kit, grava vídeos e tira fotografias em cosplay para as redes sociais. No Instagram conta com mais de 12 mil seguidores, mas no TikTok tem quase 65 mil. Por enquanto, vestir a pele de personagens de animação ainda é só um hobby para a estudante de Psicologia, de Torres Vedras, e a gravação de conteúdo é apenas uma diversão.
"Se pudesse ser cosplayer a full-time, seria", explicou em conversa com o DN por videochamada.
Catarina Gaita ainda nem sabia o que era cosplay quando aos 14 anos vestiu pela primeira vez a roupa de Hatsune Miko, uma personagem virtual que canta e já inspirou videojogos. "Não foi algo que tinha planeado. Eu só gostava de uma personagem: Hatsune Miko. Só queria vestir-me como ela".
As convenções são a parte que Catarina Gaita gosta mais. Vai com a melhor amiga, que também faz cosplay. "É o que eu mais gosto, porque as pessoas conhecem-me, vêm falar comigo e pedem-me fotografias e elogiam-me. E esses comentários são o que me dá mais motivação e me deixa mais feliz."

Catarina Gaita vestida da personagem Kokomi do jogo Genshin Impact.
© Direitos Reservados
Para além do preço dos cosplays, arranjar perucas é o que Catarina Gaita aponta como sendo o mais complicado deste hobby. "Evoluí bastante, principalmente na maquilhagem e nas perucas porque, para mim, antes era só comprar a peruca e usar aquilo que já estava feito. Nem cortava a franja nem nada", disse.
Cada vez que a cosplayer arranja um fato, coloca-o numa capa para o proteger. Depois, todas as roupas são guardadas num armário apenas dedicado aos cosplays.
Catarina Gaita vende pacotes de 20 ou 40 fotografias suas em cosplay. "As pessoas que me querem apoiar e ver as fotografias, compram", explicou.
Para a cosplayer, vestir a pele de um personagem é trazê-la para vida real, quase como se fosse uma peça de teatro. "Fazer cosplay é duro, porque, às vezes, fazemos muita coisa e nem se pensa no que está por detrás daquilo. Eu até escrevo traços da personalidade daquela personagem e da forma como devo agir em eventos."
Anisama. O evento que junta cosplayers

© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
Andreia Antunes, Bárbara Freitas, Diego Freitas e José Leão fazem parte da organização do Anisama, evento anual que promove a cultura e animação japonesa. Surgido em 2010, este tem sido um ponto de encontro para cosplayers.
José Leão, de 33 anos, é o organizador do Anisama e dedica o seu tempo inteiro a este evento, que demora cerca de seis meses a organizar. E continua a crescer. "Organizar um evento como este é uma das coisas que dá mais trabalho e muita chatice neste meio. Mas é algo bastante bom", disse José leão em conversa com o DN no café Conbini, que costuma ser espaço para encontros e eventos de cosplayers.

José Leão, Andreia Antunes, Diego Freitas e Bárbara Freitas no café Conbini.
© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
Andreia Antunes, 22 anos, para além de fazer parte da organização do Anisama, entrou recentemente para o mundo do cosplay. Foi um hobby que surgiu durante a pandemia devido à influência de amigos e ao gosto pela cultura japonesa. Até ao momento fez quatro cosplays, mas pretende fazer mais. E já tem o próximo planeado: vai fazer de mascote do Anisama para o próximo evento.
"Por enquanto é apenas um hobby porque é muito caro. Mesmo que seja uma coisa simples continua caro, custa cerca de quarenta euros. O meu primeiro cosplay foi durante a pandemia, fui comprando as coisas aos poucos e percebi que era divertido e continuei", disse Andreia.
Já Diego Freitas, de 23 anos, faz cosplay há cinco ou seis anos. Nunca comprou um fato. Criar e planear é o que acha mais desafiante. Vestido de Ghost, do jogo Call of Duty, referiu ao DN, que fez a máscara e apenas comprou roupa militar. "Gosto sempre de fazer as máscaras, armaduras e as próprias armas."
O cosplay foi um hobby para Diego durante vários anos, mas agora pretende avançar com uma loja para venda de peças de cosplay, desde armas falsas a máscaras. "No passado uma amiga minha pediu-me para fazer uma arma de uma personagem do anime Seven Deadly Sins. Começou aí o desejo de abrir uma loja."
Bárbara Freitas, de 25 anos, irmã de Diego, costuma ajudá-lo com as roupas das personagens, encontrando peças e tratando de costurar. No entanto, já vestiu a roupa de duas personagens, uma delas Hunter, do jogo Destiny, em que usou uma armadura. "Não é todos os dias que se pode vestir uma armadura", disse.
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