Cor-de-Margarida: a história que Capicua criou sobre a aceitação das diferenças

Ana Fernandes, o nome civil da rapper Capicua, lançou este mês um novo livro infantil, cuja ideia surgiu enquanto contava uma história para adormecer o seu filho, Romeu.
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"O Sol brilhava no céu como um ovo estrelado e a brisa fresca fazia dançar as folhas numa suave coreografia, mas Margarida estava insatisfeita", começa assim o novo livro que Ana Fernandes, também conhecida como Capicua, lançou este mês - Cor-de-Margarida.

Margarida, a personagem principal, é uma flor que quer ficar mais bonita e colorida, como uma rosa ou camélia. Para isso, com ajuda das suas amigas formigas, pinta-se de rosa, mas rapidamente percebe que o melhor é ser ela própria.

Esta é uma história para crianças - e não só - sobre aceitação das diferenças e amor próprio. "As personagens são flores e insetos mas, na verdade, os elementos da história acabam por abordar um sentimento muito humano: a sensação que os outros são sempre mais belos, mais cor de rosa e que queríamos ser diferentes do que somos", afirma a rapper/escritora em conversa telefónica com DN.

Para Capicua, esta é uma mensagem que pode ser aplicada a todas as gerações e por essa razão é que a incluiu no livro. "Há sempre aquele momento em que não gostamos de uma determinada característica nossa ou achamos que se fôssemos diferentes a nossa vida seria mais fácil ou às vezes comparamo-nos com os outros", mas é, no entanto, na infância que esta mensagem tem mais impacto. "As crianças estão ainda a formar uma identidade e depois na adolescência vão perceber que de facto não há nada como estarmos contentes connosco mesmos", acrescentou.

O enredo do livro surgiu à hora de deitar, quando escritora, contava uma história para adormecer o seu filho, Romeu. Depois de repetir a história várias vezes decidiu passá-la para o papel e torná-la num livro.

A maior dificuldade de escrever um livro para crianças é conciliar o texto com as ilustrações mas na criação deste livro essa questão não foi um problema. As sugestões da escritora coincidiram com as ideias da ilustradora, Matilde Horta. Enquanto escrevia o livro, Capicua tinha intenção de mostrar nas ilustrações como as condições meteorológicas estavam ligadas ao estado de espírito das personagem e com o que vai acontecer a seguir. "Foi um bocadinho a partir dessa ideia que depois dei as minhas sugestões à Matilde. A seguir, foi tudo muito intuitivo porque ela desenvolveu uma personagem, a Margarida, com muita expressão e simplicidade", explicou a escritora e rapper.

No entanto, o formato deste livro acabou por sair fora da zona de conforto da autora, sendo que todos os seus projetos anteriores para crianças foram disco-livros, onde o texto era em rima, semelhante à composição de letras de músicas. "Essa é a minha linguagem habitual e estou dentro do contexto musical. Aqui estou a escrever um texto em prosa e é algo que não estou tão habituada. É engraçado perceber e ver como a minha escrita se vai desdobrando em muitos registos diferentes", menciona a autora.

Apesar do gosto pela escrita e pelos livros ter estado sempre consigo desde criança, foi no entanto, quando teve o filho que Ana Fernandes voltou ao mundo da literatura infantil. "Leio histórias ao meu filho e vou criando a lista das minhas favoritas e vou ficando com uma quantidade de livros bons", conta.

Em relação à sua escrita, baseia-se nos livros que a sua mãe lhe leu durante infância.

Capicua é conhecida pela sua música e como rapper com uma discografia de duas mixtapes e três álbuns em nome próprio, além de um disco de remisturas. Começou a transição para a escrita em 2015 com algumas crónicas na revista Visão e atualmente escreve para o JN. As suas crónicas ajudaram-na a explorar a sua própria voz e novas formas de escrita como a prosa. "Agora tenho feito músicas mas para um público infantil e esse é outro exercício. Às vezes escrevo sobre coisas mais emocionais e sociais e aí tenho de resgatar o meu Peter Pan interior para falar desses assuntos mas para um imaginário infantil", disse.

Capicua trabalha na associação entre as palavras e a música. "Ultimamente tenho feito o exercício de trabalhar vários desdobramentos da minha escrita para além da música. Não só nas crónicas, mas também escrevi para teatro em 2021", acrescenta.

A escritora e rapper já criou várias histórias e músicas infantis. O seu último livro-disco Mão Verde II recebeu uma menção especial na primeira edição do Prémio Ibérico Álvaro Magalhães de Literatura Infantojuvenil. E a autora garante que pretende continuar a escrever.

O próximo passo para a artista é a criação de um livro de poesia infantil. "Vou tentando e pode ser que para o ano possa haver mais um livro. Já tenho um rascunho de poesia para crianças, mas não está terminado ", sublinhou.

mariana.goncalves@dn.pt

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