Atores: favoritos há muitos

Nas categorias de interpretação o cenário está renhido, depois de uma temporada de prémios oscilante e a que não faltou ruído - caso da nomeação de Andrea Riseborough. Mas há mais.

Ao contrário da última edição dos Óscares, em que foram altamente previsíveis os vencedores de cada uma das categorias de interpretação, este ano paira uma incógnita generalizada... Bem, para sermos rigorosos, há pelo menos um nome que parece certo: Ke Huy Quan, nomeado para melhor ator secundário, está lançadíssimo na reta final, depois de acumular Golden Globe, Critics Choice Awards e SAG. O companheiro de Michelle Yeoh no favorito Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo só falhou mesmo o BAFTA para o irlandês Barry Keoghan, mas essa atenuante nem sequer belisca Quan. Estamos a falar do vietnamita que possui a narrativa mais extraordinária desta temporada de prémios, alguém que surgiu em Hollywood como ator infantil (Indiana Jones e o Templo Perdido), sem nunca ter sido valorizado pela indústria, até que de repente, aos 51 anos, vê a sua carreira catapultada por uma performance conquistadora. Os seus trunfos vão da comédia às artes marciais.

De resto, o cenário é complexo. A começar pela categoria de melhor ator, com o Elvis de Austin Butler a posicionar-se, segundo os analistas, como o presumível vencedor (arrecadou o Golden Globe e o BAFTA), ao mesmo tempo que Brendan Fraser, outro ator "ressuscitado", é mantido cautelosamente nas probabilidades, com aquela que será a interpretação da sua vida, em A Baleia, filme onde carrega as mágoas profundas de um homem obeso (ganhou os Critics Choice e SAG). A corrida parece ser entre estes dois, mas Colin Farrell também tem os seus argumentos na personagem do indivíduo rústico de Os Espíritos de Inisherin, que lhe valeu o Golden Globe na vertente da comédia.

Na categoria de melhor atriz a complexidade aumenta de forma significativa. Desde logo porque a competição está ao rubro entre a genial maestrina de Cate Blanchett (Tár) e a fenomenal imigrante chinesa de Michelle Yeoh (Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo), esta última que ainda há poucos dias teve a infelicidade de partilhar no Instagram um excerto de um artigo da revista Vogue que se refere ao possível Óscar para Blanchett como uma desnecessária confirmação do seu "status de titã da indústria", alegando que, se fosse entregue a Yeoh (a si própria), seria "transformador: o seu nome seria para sempre precedido pelo termo "vencedora do Óscar", e isso resultaria em papéis mais carnudos".

É claro que a publicação se evaporou da conta da atriz malaia-chinesa, mas não deixou de ser questionada a sua hipotética infração. Um pouco à semelhança do caso da nomeação controversa da atriz Andrea Riseborough (Para Leslie), cuja campanha também passava por posts de apoio de amigos atores... Para o ano, a Academia terá de rever a sua política de redes sociais, isso é certo. Para já, vença Blanchett ou Yeoh, no momento será difícil disfarçar o incómodo desta falta de decoro em tempos de vida em rede.

Outro dado curioso relacionado com Michelle Yeoh é uma afirmação dúbia da Hollywood Reporter que a anunciava como a "primeira mulher asiática nomeada para este prémio". Na verdade, esse estatuto pertence a Merle Oberon (1911-1979), a atriz de origem indiana nomeada pelo filme O Anjo da Noite (1936), mas que na altura - e toda a vida - se fez passar por branca para evitar a perseguição racial... E por falar em questões raciais, nas atrizes secundárias as apostas concentram-se em Angela Bassett (Black Panther: Wakanda Para Sempre), a única atriz negra nomeada, Jamie Lee Curtis (Tudo em Todo o Lado...) e Kerry Condon (Os Espíritos de Inisherin), sem uma clara favorita. Já a nossa escolha seria Hong Chau (A Baleia), que nos lembra uma brilhante secundária da Hollywood clássica: Thelma Ritter.

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