Antiga Cidade de Dali: Milénios entre a serra de Cangshan e o lago Erhai
No sudoeste da China, na província de Yunnan, ergue-se a antiga cidade de Dali, com apenas 3 km² de área. A cidade fica localizada no sopé da serra de Cangshan, cujo pico mais alto ultrapassa os 4000 metros, e junto às águas cristalinas do lago Erhai, um vasto reservatório de água doce. Desde o reino de Nanzhao, durante o período da dinastia Tang (618-907), até ao reino de Dali, na era Song (960-1279), esta cidade foi o centro político, económico e cultural da região durante mais de 500 anos. A cidade tem sido, ao longo dos séculos, o lar de diversas etnias, como os bai e os yi.
Dali está situada a uma altitude média de 2000 metros, numa encosta suave que desce da serra em direção ao lago. A cidade beneficia de um clima ameno ao longo do ano, sem invernos rigorosos nem verões abrasadores, com temperaturas médias a rondar os 15 °C. Ao contrário do modelo axial tradicional das cidades chinesas, o traçado urbano de Dali adapta-se à topografia do terreno, elevado a oeste e baixo a leste. O centro encontra-se numa zona elevada, junto à serra, aproveitando a proteção natural contra ventos frios e o acesso a recursos valiosos como madeira e ervas medicinais. O lago, por sua vez, oferece uma fonte abundante de água, essencial à sobrevivência e ao desenvolvimento de atividades como a agricultura e a pesca. A encosta, fértil e de fácil lavoura, encontra-se naturalmente protegida contra inundações. Esta disposição reflete os princípios tradicionais chineses de “viver junto à montanha e à beira da água”.
Ao passear pela antiga cidade, avistam-se casas tradicionais das minorias étnicas, datadas das dinastias Ming, Qing e do período republicano (1368-1949). Templos, escolas tradicionais e igrejas cristãs pontilham a paisagem urbana, enquanto as ruas, organizadas em padrão de xadrez, são atravessadas por canais de água cristalina provenientes da serra de Cangshan. Os habitantes utilizam essa água para cultivar flores que enfeitam janelas e pátios, trazendo vida e um charme especial à cidade.
As casas típicas do povo bai destacam-se por duas configurações arquitetónicas tradicionais: as chamadas “três casas e uma parede” e “quatro casas e cinco pátios”. A primeira consiste em três casas dispostas em forma de U, voltadas para uma parede orientada a nascente ‒ a chamada “parede de fengshui”, que simboliza a saudação à luz matinal e a invocação de boa sorte. Essa parede é frequentemente decorada com caracteres auspiciosos como “fú” (sorte e felicidade) e “shòu” (longevidade). A segunda disposição apresenta quatro casas em torno de um pátio central, com pequenos pátios que asseguram ventilação e iluminação nos quatro cantos.
Ao entrar numa residência tradicional dos bai, é impossível não se ficar encantado com as portas centrais do salão principal, verdadeiras obras-primas de madeira lavrada, cada uma meticulosamente incrustada com entalhes delicados que retratam cenas da história chinesa ou lendas populares, ornamentadas com motivos vívidos de flores e animais.
Outro marco cultural de destaque é a Feira de Março de Dali, um dos mercados mais antigos do oeste de Yunnan e o maior evento cultural e económico do povo bai. A feira tem lugar anualmente durante sete dias, a partir do 15.º dia do terceiro mês lunar, e a sua origem remonta à dinastia Tang (meados do século VII), quando teve ínicio como uma celebração budista. Posteriormente, transformou-se num grande encontro comercial, centrado na troca de cavalos e ervas medicinais, consolidando o seu papel fundamental no intercâmbio comercial e cultural entre a China e o Sudeste Asiático.
Hoje, a Feira de Março é um evento multifacetado que combina mercado tradicional, turismo e criação cultural. Atividades ancestrais como corridas de cavalos, duelos musicais, comércio de bens e troca de produtos medicinais continuam a fazer parte do programa ao mesmo tempo que se integram iniciativas contemporâneas, tais como festivais internacionais de música e feiras de criação artesanal inovadora. Essa vitalidade renovada atrai cada vez mais visitantes, sobretudo jovens. Em 2008, a Feira de Março de Dali foi oficialmente reconhecida como Património Cultural Imaterial a nível nacional.
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