Exclusivo "A comédia trabalha de forma leve assuntos profundos e infinitos"
Numa parceria entre o Teatro do Elétrico e o Teatro da Trindade, Ricardo Neves-Neves encenou uma das comédias mais famosas de Shakespeare, Noite de Reis. Amores, desamores, enganos e trocas de género, mais ou menos propositadas.
Como surgiu esta colaboração entre o teatro da Trindade e o teatro do Elétrico para esta Noite de Reis?
Com a direção do Diogo [Infante] fizemos um espetáculo em 2018, que já tinha sido programado pela anterior diretora do Trindade, a Inês de Medeiros, A Canção do Bandido, uma ópera. Não foi com o Teatro do Elétrico, mas com o Teatro São Carlos e o Trindade. E no final de 2019 o Diogo contactou-me para apresentar um espetáculo em 2023 com a colaboração das duas companhias. Depois desse ponto de partida pensámos em vários textos e chegámos rapidamente à Noite de Reis. Já conhecia a peça, mas nunca a tinha lido com os olhos de a encenar. No Teatro do Elétrico nunca trabalhámos muitos clássicos, mas os que fizemos foram sempre com relação com a música, como uma opera de Mozart, em 2015, Sebastião e Sebastiana, e no ano passado fizemos no CCB Cortes de Júpiter, que é uma peça de teatro de Gil Vicente com muitas indicações de música, numa altura em que ainda não havia ópera como esse nome. E agora avançamos para este clássico, o terceiro nestes quinze anos de Teatro do Elétrico, e mais uma vez com uma relação muito vincada com a música, que é tocada ao vivo.
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Houve algum objetivo concreto nesta encenação?
A adaptação do texto não foi assim tão grande. Aquilo que fiz, em primeiro lugar, foi comparar o original com as três traduções: duas de português de Portugal e uma de português do Brasil. E depois foi um trabalho de corte e costura, com essas traduções fazendo eu próprio algumas para dar num espetáculo de duas horas. Mantivemos o lirismo da linguagem e a relação que o texto tem com a poesia, mas não fiz grandes alterações à natureza do próprio texto.