O telescópio que está a mudar a perceção humana do espaço foi batizado com o nome da astrónoma norte-americana Vera Rubin, que defendia a ciência como a melhor explicação do nosso papel no universo.

 
O telescópio que está a mudar a perceção humana do espaço foi batizado com o nome da astrónoma norte-americana Vera Rubin, que defendia a ciência como a melhor explicação do nosso papel no universo.  

A ciência também vai a banhos

Os três mais recentes livros da coleção Ciência Aberta são de cientistas portugueses e, se cada um vem de uma área do conhecimento próprio, todos se leem sofregamente.
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Se há coleção de livros que marcou várias gerações de leitores ávidos de conhecimento divulgado de uma forma mais acessível, mesmo que não facilitado, ela chama-se Ciência Aberta. Que ao longo das décadas se confundia com o nome da própria editora, a Gradiva, e lhe moldava o perfil desde o primeiro volume publicado em abril de 1982 até ao mais recente, o de julho de 2025. A lista soma 254 títulos! Com autores cujos nomes foram sendo esquecidos, como é o caso do volume inaugural da Ciência Aberta, o do biólogo francês François Jacob e do seu sucesso O Jogo dos Possíveis. Segue-se de imediato uma das vozes de maior sucesso da coleção, a de Hubert Reeves, com Um Pouco Mais de Azul, e o quinto livro será assinado por uma das maiores “estrelas” do firmamento, Carl Sagan e o seu Cosmos, título que percorreu o mundo de uma ponta à outra e até hoje não deixou de orbitar o planeta de leitores desta área do conhecimento.

Da lista de mais de duas centenas e meia de volumes que tem mantido viva a coleção Ciência Aberta não faltaram outros nomes indispensáveis à divulgação científica que se sucederam aos primeiros editados, uns mais profundos e outros mais acessíveis, mas todos eles com ângulos próprios que levam o leitor a aperceber-se do que é enquanto ser, do planeta onde vive e do espaço ainda insondável que o cerca. Nomes como Einstein, Francis Crick, Stephen Hawking, Juan Luis Arsuaga, Neil deGrasse Tyson, Richard Dawkins, Stephen Jay Gould ou Richard P. Feynman são alguns deles. Não faltam ainda neste impressionante desfile de autores várias dezenas de cientistas portugueses, dos quais se referirá por agora apenas Carlos Fiolhais, que é um dos autores nacionais que mais frequentemente colabora, além de dirigir desde o número 200 a coleção Ciência Viva.

Diga-se que no último trio de meses, os últimos lançamentos desta coleção são todos de autores nacionais e qualquer um dos três com temáticas extremamente sedutoras e a exigir a atenção do leitor pela sua aproximação ao tema - além de perfeitos enquanto objeto-livro. O mais recente é do arqueólogo Pedro Correia da Silva e intitula-se Escavar o Passado, pretendendo ser Uma breve história da Arqueologia que desmistifica algumas lendas em torno desta ciência num país em que não abundam trabalhos desta natureza apesar da grande interligação entre a arqueologia e a (nossa) história. Quem o começa por afirmar é o autor do Prefácio, Luís Raposo, vice-presidente da Associação e Arqueólogos Portugueses, que destaca as incursões em histórias de suspense, «ao jeito de thrillers, num ambiente em que cada leitor é convidado a semicerrar os olhos e a imaginar”. 

Não será por acaso que o prefaciador destaca o registo do autor: “Um livro que estimula ao mesmo tempo razão e emoção”. Aliás a leitura do Prefácio deixa como certo que qualquer arqueólogo é também um aventureiro e sonhador no querer concretizar descobertas que lhe permitam preencher os vazios deixados entre os artefactos que encontra. Pedro Correia da Silva não foge a esse espírito e o modo como dá início é sob o tom de uma história bem contada: a descoberta casual de Ötzi, o antepassado europeu mumificado mais antigo que se conhece, por um casal de montanhistas. As informações que a arqueologia encontrou para Ötzi são fascinantes, tal como o relato nas quatro páginas iniciais. Segue-se uma cronologia dos grandes divulgadores da área nas televisões inglesa e norte-americana que entusiasmaram espetadores, mas o ponto alto da devoção ao alegado espírito “aventureiro e sonhador” do arqueólogo só irá surgir com o personagem Indiana Jones, um pouco também com a personagem Lara Croft, e a nível literário com os livros de Agatha Christie, que casou com um arqueólogo. Chegados à página 33, imerge-se definitivamente na Arqueologia e dos seus meandros já não se sai. Um bom exemplo é esta frase: “A arqueologia tenta ser a voz das frágeis ressonâncias de todo o universo de expressão material deixada pelos nossos antepassados e o arqueólogo tenta ser o seu intérprete”.  O leque de informações, cientistas, teorias e tudo o que tem a ver com esta área está muito bem equilibrado no livro, que se lê com curiosidade e prazer.

O segundo volume do trio recém-publicado na Ciência Aberta está nos antípodas da arqueologia: o universo. O título é O Céu é o Máximo, um trocadilho com o nome do físico e astrónomo amador Máximo Ferreira, o autor, e também porque desde sempre o universo que rodeia os habitantes da Terra fascinou o olhar e a curiosidade sobre as suas leis e causas ainda por descobrir, designadamente num ano em que o mais potente telescópio – o Vera Rubin – está a abrir de par em par as portas do espaço. Um “milagre” que tem sido construído desde que Galileu fez o primeiro telescópio e que desde então tem permitido caminhar pelas estrelas e planetas maís próximas, sendo que este “guia” é um perfeito cicerone científico para esclarecer todas as dúvidas e dar pistas para uma caminhada espacial que nunca terá fim.

Mais uma vez, a capa de A Harmonia das Esferas é um bom exemplo para o terceiro objeto-livro, no qual se observa Einstein a tocar violino e um subtítulo apropriado: Música, ciência e os mistérios do universo. Dois cientistas assinam o volume, João Paulo André e Carlos Fiolhais, e dão-lhe início com a estranheza que poderá ser a “tentativa de relacionar ciência e música”. Em mais de trezentas páginas sucedem-se explicações sobre essa relação, de uma forma que o leitor não poderia jamais imaginar. Desde a mitologia grega ao filósofo Francis Bacon, ou aos caminhos paralelos entre as descobertas de Darwin e as óperas de Wagner, os autores vão construindo um relato magistral no que respeita a sonoridades dos elementos.

ESCAVAR O PASSADO

Pedro Correia da Silva

Gradiva

263 páginas

O CÉU É O MÁXIMO

Máximo Ferreira

Gradiva

203 páginas

Outras novidades literárias 

AS MULHERES DA ILÍADA

De vez em quando surgem livros que interrompem o ciclo de leitura tradicional que desde há séculos ou milénios se fazem de uma obra considerada clássica. É o caso desta investigação da historiadora Emily Hauser, que decidiu reinterpretar a Ilíada reconquistando o papel das mulheres nesse épico de Homero. Com uma profusão de exemplos, testemunhos antigos e releituras, Míticas é uma verdadeira revelação.  

MÍTICAS

Emily Hauser

Bertrand

358 páginas 

O PRÍNCIPE D. LUÍS

De todos os monarcas portugueses, o filho do rei D. Carlos será o de menor biografia enquanto sucessor do pai no cargo. O assassinato de pai e filho a 1 fevereiro de 1908 no Terreiro do Paço, com a morte de ambos distanciada em poucos minutos, dá ao príncipe Luís Filipe esse brevíssimo estatuto de monarca mas não de exercício do poder que lhe estava destinado. É a partir desses instantes que Isabel Lencastre dá a conhecer o rei que não reinou.   

O REI QUE NÃO REINOU

Isabel Lencastre

Oficina do Livro

379 páginas

O telescópio que está a mudar a perceção humana do espaço foi batizado com o nome da astrónoma norte-americana Vera Rubin, que defendia a ciência como a melhor explicação do nosso papel no universo.

 
Três vidas muito diferentes mas com o mesmo final

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