"Aquecimento da alma". Em Portugal, Marron Brasileiro ressalta a importância do frevo (vídeo)
"Se o frevo fosse hoje, a gente chamaria de treta", diz, bem-humorado, um dos expoentes do ritmo pernambucano. Em conversa com o DN Brasil, Marron brasileiro, cantor, compositor e poeta, conta que a história do frevo está ligada às primeiras comemorações de carnaval dos povos africanos escravizados no Brasil depois da libertação.
"Acontecia um apartheid de certa maneira, os pretos eram proibidos, mas eles diziam: a gente vai brincar. E o que acontecia? Conflitos. Esses conflitos eram popularmente chamados de: a situação está 'frevendo'. Fazendo alusão ao termo 'ferver'. Ficou 'frevo', pelo jornalista Oswaldo de Oliveira, que colocou pela primera vez o termo num jornal", diz Marron.
"Era a treta, a confusão, mas ficou como o frevo. Depois, a conotação já não era mais negativa, era do aquecimento da alma, da energia positiva, de onde a gente possa colocar pra fora todas as nossas emoções", completa Marron.
O artista está em Portugal para apresentações em Lisboa, no dia 7, e no Porto, nos dias 8 e 9, quando se comemora o primeiro Dia do Frevo, data em que, em 1907, o jornalista deu nome à celebração.
Em 2012, o frevo foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco, fazendo nascer uma segunda data comemorativa: o Dia Nacional do Frevo passou a ser 14 de setembro, dia do nascimento de Oswaldo de Oliveira.
Marron se apresenta pela primeira vez em Portugal e destaca os fortes laços culturais ente os dois países. "O xote nordestino tem muito a ver com o fado português. O nosso frevo de blocos e diferente, não tem um estandarte, tem um flabelo. A forma de se tocar é muito parecida com a maneira portuguesa com bandolins, violões", diz o artista.
"Que essas ligações não sejam perdidas. Na verdade, ninguém é dono de cultura. Tudo se junta como linhas, como um grande novelo na mão divina, que tem muito a ver com Recife, Lisboa, Brasil e Portugal.
Marron, que também se apresentou em Milão, na Itália, celebra a passagem pela Europa. "Pra mim, estar aqui agora, sabedor de onde eu vim, de dentro das comunidades mais pobre do Recife, de ter lutado tanto e de ter a consciência de que eu sou parte, nao sou o detentor, pois os artistas são parte de algo maior, e estou a representar uma série de outros artistas. E pra mim isso é divino", afirma.
Confira a íntegra da entrevista.
caroline.ribeiro@dn.pt
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