Cancro do endométrio: ser proativa faz a diferença
O cancro do endométrio tem origem numa malformação da camada interna do útero, ou seja, do endométrio, um tecido que sofre alterações cíclicas ao longo da vida de uma mulher (desde a primeira menstruação até à menopausa) sob efeitos hormonais. (e. A oncologista do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra, Dr.ª Tatiana Cunha Pereira, alerta que os principais sintomas são "hemorragia uternina anormal, um corrimento vaginal excessivo, dor pélvica ou distensão abdominal, assim como dor aquando das relações sexuais". Estes são motivos para que as mulheres procurem assistência médica.
Fatores de risco da doença
A maior parte dos casos de cancro do endométrio ocorre após os 60 anos, ou seja, em mulheres na menopausa. Entre os fatores de risco com maior impacto na doença destaca-se a exposição prolongada a níveis elevados de estrogénio, sem a presença de progresterona para balancear o seu efeito, em resultado da terapêutica hormonal e outros fármacos que alteram a ação destas hormonas, o que aumenta o risco de desenvolvimento de lesões pré-malignas. Por outro lado, a infertilidade, obesidade e uma componente heriditária (em menos de 10% dos casos) são fatores que podem também conduzir ao aparecimento deste tipo de cancro.
Otimismo na maioria dos diagnósticos
De uma maneira geral, as pacientes recorrem ao médico assistente quando ocorre uma hemorragia uterina. Cerca de 80% de cancros do endométrio são detetados em estadio 1, ou seja, precocemente e com elevado potencial curativo com intervenção cirúrgica. Os tumores identificados nesta fase da doença têm, de acordo com a Dr.ª Tatiana Cunha Pereira, uma taxa de sobrevivência a 5 anos superior a 95%.
“A consciencialização por parte das mulheres dos fatores de risco, de sinais e sintomas, assim como a sua proatividade na realização de exames regulares e na adesão a programas de rastreio são aspetos que podem fazer a diferença no caso de um diagnóstico de doença oncológica.“
Avanços no tratamento de estadios mais avançados
Nos últimos anos, com a introdução de novas opções terapêuticas, o tratamento do cancro do endométrio tem mudado drasticamente, o que veio a melhorar em muito a sobrevivência das doentes, principalmente aquelas que se encontram em estadios mais avançados, com envolvimento ganglionar ou mesmo doença à distância (metástases). Entre as opções terapêuticas, além da quimioterapia clássica, existe também a imunoterapia em associação. A este respeito, a Dr.ª Tatiana Cunha Pereira afirma que "a imunoterapia já está presente na prática clínica e felizmente as doentes podem beneficiar desta estratégia inovadora que consiste em potenciar a eficácia do sistema imunitário no combate ao tumor". Por outro lado, a médica do IPO de Coimbra completa referindo que "são outras moléculas que estão também a entrar no leque de opções terapêuticas em contexto de doença avançada, nomeadamente terapêuticas orais, que aliam eficácia e segurança, sempre com primazia para a manutenção da qualidade de vida das doentes“
Prevenção nas avaliações de rotina e ecografia
As mulheres devem conhecer o seu corpo e, acima de tudo, procurar assistência médica, quando apresentam sintomas de novo, como a presença de hemorragia ou qualquer outra queixa do foro ginecológico, assim como nos casos em que se verifica um agravamento do estado geral da mulher. Idealmente, as mulheres deveriam ter uma avaliação ginecológica anual com exames de imagem (ecografia ginecológica) que podem mostrar um espessamento anormal do endométrio, o que motiva exames complementares adicionais e um diagnóstico precoce. Mas, importa lembrar a importância de aderir aos programas nacionais de rastreio, como é o caso do cancro do colo do útero.
Apesar do progresso da investigação ter reflexo na deteção e tratamento do cancro do endométrio, a consciencialização por parte das mulheres dos fatores de risco, de sinais e sintomas, assim como a sua proatividade na realização de exames regulares e na adesão a programas de rastreio são aspetos que podem fazer a diferença no caso de um diagnóstico de doença oncológica.
Tatiana Cunha Pereira, Médica Oncologista do Instituto Português de Oncologia de Coimbra
Os autores do artigo não recebem qualquer honorário para colaborar nesta iniciativa.
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