Contabilidade pode ter cor

O trabalho de Sara, Ricarda e Filipa é a papelada dos outros. Elas trabalharam juntas na KPMG e, em 2007, Sara foi a primeira a abandonar a consultora: queria lançar um negócio próprio. Começou com uma amiga de faculdade, Cláudia Timóteo, a trabalhar a contabilidade de várias pequenas empresas e achou que o projeto tinha potencial: era preciso mais investimento e um escritório para receber os clientes.

Cláudia optou por ficar a trabalhar com o pai - também contabilista - e Sara pôs mãos à obra. Convidou Ricarda Fernandes e Filipa Xavier de Basto, ex-colegas, e em 2007 fundaram a Your Office, uma empresa de contabilidade que arrancou com poucos clientes e um investimento de 20 mil euros, dividido pelas três e, em grande parte, emprestado pelos pais e maridos.

"A consultora foi uma ótima escola, transmitiu-nos a todas muitos conhecimentos, espírito de sacrifício, capacidade de trabalho e algumas ferramentas que foram essenciais para estarmos agora onde estamos. Mas sentia aquela necessidade de construir algo, de fazer alguma coisa. Na altura, podia achar que era um bocado despropositado abrir uma empresa tão cedo, mas, agora, começa-se a criar o gosto e, pensando bem, hoje acho que era incapaz de fazer outra coisa", diz Sara Meneses e Castro, 31 anos.

A empresa que começou como um gabinete de contabilidade normal, com alguns clientes particulares e pequenas empresas - "nada de grandes ambições" - evoluiu. "Achava que um gabinete de contabilidade servia meramente para cumprir as obrigações fiscais e não para dar rumo e um verdadeiro parecer fiscal aos clientes", esclarece Sara.

"Ao longo do tempo, fomo-nos apercebendo de que não fazia sentido prestar só serviço de contabilidade. Os clientes e mesmo as pequenas empresas precisavam de muito mais. Mais consultoria fiscal, mais controlo de gestão, um entendimento puro do negócio para poder dar os aconselhamentos certos. Foi sim que começámos a encaminhar-nos."

Ao outsourcing de contabilidade juntou-se um serviço de controlo de gestão, direções financeiras para clientes que não tinham estrutura para ter diretor financeiro e que acabavam por contratar a Your para assegurar esse papel por uma tarde ou um dia, por exemplo.

"Deixámos um pouco o dito gabinete de contabilidade e começámos a oferecer outros serviços. Essa é a essência do Your Office. Mas o cliente acaba por ser aquela pessoa que nos pergunta um bocadinho de tudo. Foi nisso que nos tornámos", esclarece Sara.

O tempo ajudou ao crescimento. "O nosso investimento nunca foi muito em dinheiro, mas sim em trabalho. Mensalmente, em vez de termos salário, investíamos esse valor. Tentávamos construir alguma coisa." A marca foi ganhando corpo.

"O ideal para nós e para o cliente é o facto de oferecermos uma série de serviços de gestão sob a forma de outsourcing, a PME e atualmente a algumas grandes empresas - das quais, muitas vezes, somos praticamente o único fornecedor. Aqui encontram contabilidade, informática, serviços de faturação e secretariado, seguros, logótipo... Ao longo dos últimos anos, conseguimos criar um conjunto de áreas de negócio de que qualquer pessoa precisa como apoio à gestão. Não pretendemos ser boas em tudo, por isso temos várias empresas, num grupo em que cada uma é especialista em determinada área."

O grupo Your tem seis áreas de atividade: Your Office (contabilidade e fiscalidade), Your Consulting (consultoria), Your Time (serviços administrativos e de secretariado), Your Insurance (seguros), Your Support (assistência informática, técnica e de aconselhamento) e Your Agency (estratégias de comunicação). O grupo trabalha mais de 600 clientes de todas as áreas de negócios - entre eles a Vodafone. A próxima Your será a People, dedicada aos recursos humanos.

A empresa faturou mais de um milhão de euros em 2011 e espera ultrapassar os 1,5 milhões de euros este ano.

"Sempre quisemos trabalhar na área financeira, mas a evolução surgiu das necessidades dos clientes e de sentirmos que, de facto, precisariam de mais áreas e serviços. Se já tinham confiança em nós, porque não tentar?"

O resultado são clientes que se mantêm na empresa desde o início. O facto de o grupo crescer à medida dos clientes levou à criação de pacotes específicos para startups, cujos preços de avença vão evoluindo à medida do crescimento e das necessidades, variando com a sua dimensão. "Para evitar que as empresas pequenas, mal começam a trabalhar connosco, tenham um pacote muito pesado. Também sabemos o que é começar do nada."

O cliente ideal é aquele que começa a trabalhar com o grupo desde o início. "Isso é o nosso delírio: um cliente que começa e cresce connosco", explica Sara.

Os preços variam consoante a dimensão da empresa e o tipo de serviços prestados e são determinados mediante orçamento. Por isso, Sara assegura que os serviços da Your acabam por ser um pouco como "fatos feitos à medida" de cada cliente e de cada empresa. "Foge às tabelas fixas. Cada cliente é um cliente. Para nós, os pequenos são iguais aos grandes, até porque o cliente mais pequeno foi o que nos trouxe o maior cliente."

Cinco anos depois da fundação da empresa, na Your trabalham 30 pessoas. A maioria são mulheres. "Daí a nossa cor. A gestão somos nós as três. Somos mulheres. E gostamos."