"Carne, peixe e legumes frescos cozinhados em azeite, com uma pitada de sal." Eis o segredo do chef Vítor Esteves para o sucesso dos pratos da área de take away e dos restaurantes do Pingo Doce. Uma receita que assenta na "confeção caseira, com produtos naturais, inspirada na dieta mediterrânica", frisa o chef impecavelmente equipado na cozinha central de Odivelas, em Lisboa. . Veja aqui filme da reportagem . A cozinha central da Meal Solutions do Pingo Doce, que fez um ano em dezembro, já mostra bons resultados não só para a marca, que reforça a proximidade com os clientes, mas também para as vendas do Pingo Doce: no ano passado, as de marcas próprias (onde o take away e restauração se incluem) subiram 42%. . Esta é uma área que está a crescer "dando continuidade à oferta de produtos frescos e de marca própria Pingo Doce", explica João Neves, responsável pela área Meal Solutions do grupo Jerónimo Martins (JM). . Hoje quase todas as 372 lojas Pingo Doce espalhadas pelo país têm oferta de take away e 36 têm restaurantes. Só na cozinha de Lisboa (há mais duas a norte, Aveiro e Gaia), sob a orientação de Carlos Silvestre, trabalham 240 pessoas. Produzem entre 200 e 300 pratos diferentes todos os meses. A sopa - assumidamente de influência mediterrânica - é dos pratos mais vendidos. . O mesmo acontece com as sobremesas "que estão a explodir" e viram o estatuto de marca própria reforçado através de um rótulo/tarja preto com a assinatura "Take away Pingo Doce. Da nossa cozinha para a sua mesa". . "As pessoas procuram soluções de comida cada vez mais simples e económicas, mas com sabor, com cheiro, feita como em casa." É assim que João Neves justifica o sucesso, para o qual também pesa a mensagem que vai passando de boca a boca, reforçada pela revista Sabe Bem. A publicação é vendida nas lojas e tem a missão de envolver os jovens e as famílias, com a mesa e a cozinha. Aprende-se a receita na revista e compra-se na loja, com os cupões de desconto. . A revista é uma peça de comunicação valiosa, numa altura em que o grupo reduziu substancialmente o investimento em publicidade - desde 2012, depois da megapromoção de 50% no dia 1 de maio, "para criar oportunidades de poupança reais e imediatas ao seu consumidor", como dizia o seu presidente Alexandre Soares dos Santos. . "O preço é a base, confirma João Neves, explicando que as pessoas estão "cada vez mais racionais na escolha e na compra". Como conhecem o preço da matéria-prima, o prato "não pode ir além do custo normal da sua confeção", diz. . Este princípio serve para o take away e para os restaurantes, a "montra privilegiada de comida feita por nós", define João Neves. Mas também para as unidoses, lançadas em algumas lojas no Algarve, este verão. . A receita para... um prato . Até o prato chegar à loja, há um longo caminho a percorrer. Tudo começa com a ideia de uma comida sugerida por um fornecedor, pelos clientes ou pelos próprios colaboradores. . Depois, o prato é idealizado pelo chef executivo, que compõe todos os ingredientes e a forma de confeção. Segue-se a fase de teste no atelier - réplica da cozinha maior, dentro da loja Pingo Doce de Odivelas. "É um trabalho multidisciplinar que envolve nutricionistas, controlo de qualidade, equipas de compras, escolha de matérias primas e cozinheiros", explica João Neves. . As últimas ideias a sair deste grupo, com atenção ao preço, foram dois pratos que não há quem recuse: o bitoque, lançado no início do mês (4,89 euros), e a francesinha, a 27 de junho (3,99 euros). Mas a oferta é vasta e feita da mesma forma: confeção caseira, produtos naturais, em quantidades industriais, com arrefecimento imediato, e vendida em pequenas doses. . Susana Santos, que recebe na porta gigante os legumes já lavados e cortados trazidos por fornecedores locais, é uma das pessoas que contribuíram para este processo. A porta abre às 6 da manhã e fecha às 10 da noite, com a temperatura constante a rondar os quatro graus. . "Cuidado, deixa passar", avisa, firme, parecendo esquimó. Da boca saem-lhe nuvens de calor. Explica que tudo o que entra leva uma etiqueta. Só cenouras, diariamente, são capazes de chegar cerca de quatro toneladas, que são cortadas das mais variadas formas, em função dos pratos a que se destinam. Tal como a abóbora, alho, cebolas, nabos... Até o bacalhau. . Este é tratado de forma própria, apesar de ser igual ao que é vendido no Pingo Doce. É guardado numa câmara com níveis de humidade altos, colocado em tanques; o sal vai sendo retirado pela água que entra de um lado e sai de outro. . Entretanto, o "maestro da banda", Cristóvão, vai preparando os ingredientes para cada prato com a ajuda de um computador - que recebe os pedidos diários das lojas. Um bacalhau com natas, por exemplo, tem 18 ordens de ingredientes. Depois é só multiplicar pelo número de pratos pedidos pelas lojas. . Arrumados em prateleiras em carrinhos verticais, os ingredientes entram na parte da cozinha propriamente dita, alimentada com energia a vapor. O espaço é dominado pelos fogões e fornos onde são feitos o arroz de pato ou o bacalhau com natas. . Tal como em casa, depois de desfiado à mão por seis pessoas, o pato entra com o arroz na água da cozedura. Quanto ao bacalhau, o refogado é feito com cebola e azeite, até caramelizar. E já cheira. Acabada a parte da composição, os pratos seguem para o arrefecimento rápido (cook and chill) em câmaras próprias, para se obter o sabor caseiro e a segurança alimentar. . Já a sopa é feita em panelas gigantes, onde os legumes são triturados por varinhas mágicas que têm nomes e tudo: o "camelo" e a "girafa". Ali somos envolvidos por um cheiro intenso, capaz de nos fazer recuar à infância e despertar veia de verdadeiro crítico gastronómico - como Anton Ego, de Ratatui. Ou o caro leitor.