Ao longo de séculos, os ventos alísios desempenharam um papel importante na navegação marítima. Ventos constantes, moderadamente intensos, que sopram de leste para oeste nas regiões tropicais, próximas à linha do Equador, numa faixa entre as latitudes de cerca de 30° norte e 30° sul. Um sopro que nasce da diferença de pressão atmosférica entre as áreas de alta pressão subtropicais e as áreas de baixa pressão equatoriais. Anualmente, os ventos alísios transportam mais de 240 milhões de toneladas de poeira do deserto do Saara. Uma viagem aérea sobre o oceano Atlântico que se traduz em algo mais do que apenas partículas em suspensão. Este imenso véu de poeiras representa um mecanismo essencial para a fertilização natural de ecossistemas marinhos e terrestres. Formada pela erosão de rochas e solos do deserto, esta poeira é rica em nutrientes como ferro, fósforo e nitrato, fundamentais para o crescimento de plantas e organismos aquáticos. No decurso da viagem, o ferro passa por alterações químicas quando exposto à luz solar e ao ar, tornando-se mais biodisponível e, assim, mais acessível..Um fenómeno especialmente relevante, dado que o ferro, em particular, é um elemento escasso em áreas oceânicas afastadas de terra. Ali, as águas expelidas pelos rios, uma fonte natural de minerais, não conseguem alcançar o oceano. Ao chegar aos grandes espaços oceânicos, a poeira deposita-se na superfície e alimenta o fitoplâncton, que recorre a estes nutrientes para crescer e se reproduzir. Esse aumento de fitoplâncton estimula a produção primária, alimentando pequenas criaturas marinhas e, eventualmente, toda a cadeia alimentar oceânica, incluindo grandes peixes e mamíferos marinhos. Além disso, o fitoplâncton captura dióxido de carbono da atmosfera através da fotossíntese, ajudando a mitigar os efeitos das alterações climáticas..Agora, um estudo apresentado na revista Frontiers in Marine Science vem sugerir que à medida que a poeira do Saara sopra milhares de quilómetros ao longo do oceano Atlântico, esta torna-se progressivamente mais nutritiva para os microrganismos marinhos. As reações químicas na atmosfera ‘trituram’ os minerais de ferro na poeira, tornando-os mais solúveis em água, o que cria uma fonte crucial de nutrientes para os mares carentes de ferro. “As nuvens de poeira que se depositam no Atlântico podem gerar florações de fitoplâncton que sustentam os ecossistemas marinhos”, diz Timothy Lyons, biogeoquímico da Universidade da Califórnia. “O ferro é incrivelmente importante para a vida. O fitoplâncton precisa dele para converter dióxido de carbono em açúcares durante a fotossíntese”, lemos no site da revista Science News, num artigo publicado a 4 de outubro e assinado pelo jornalista Douglas Fox. .De acordo com as conclusões do estudo intitulado Long-range transport of dust enhances oceanic iron bioavailability, “ao analisar mais profundamente o transporte de poeira e as reações químicas na atmosfera, os cientistas poderiam entender melhor quais as regiões dos oceanos que são pontos biológicos ‘quentes’ para o fitoplâncton e os peixes”..O referido estudo também propôs responder à questão da natureza das poeiras que se depositam no Atlântico numa escala de tempo alargada a 120 mil anos. Desta forma, os cientistas envolvidos no trabalho “analisaram minerais derivados de poeira em quatro núcleos retirados do fundo do mar - dois no Atlântico Oriental, perto de África, e dois mais a oeste, perto da América do Norte. Concluíram que durante o voo transatlântico das poeiras, ao longo de vários dias, o seu ferro reativo foi alterado, atacado por ácidos e radiação ultravioleta, que separaram os minerais (...) Há transformações fotoquímicas que tendem a tornar o ferro mais solúvel na água”. À medida que o ferro modificado se deposita no oceano, dissolve-se e é consumido pelo fitoplâncton. O único ferro reativo que chega ao fundo do mar é o material que não foi alterado durante o transporte aéreo e não foi engolido mais tarde. Os resultados sugerem que a proporção de ferro biorreativo era menor nos núcleos estudados mais a ocidente face àqueles mais a leste. Ou seja, uma proporção correspondentemente maior de ferro biorreativo perdera-se da poeira e teria sido utilizada por organismos na coluna de água, pelo que nunca tinha chegado aos sedimentos no fundo..Livros.Artificial: A nova inteligência e a fronteira do humano: Mariano Sigman (neurocientista) e Santiago Bilinkis (empreendedor e tecnólogo), autores de Artificial: A nova inteligência e a fronteira do humano (edição Temas e Debates), lançaram-se no seu primeiro projeto conjunto. Para escrever sobre um dos temas na ordem no dia, os autores começam a narrativa em 1938, com o inglês Alan Turing, criador de uma máquina que viria a permitir determinar o conteúdo das mensagens encriptadas da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. A partir daqui seguem o rasto do desenvolvimento da inteligência artificial (IA). Sigman e Bilinkis consideram que para enfrentar o futuro será imprescindível navegar na onda da IA e não deixam órfã a pergunta: “O que fará a humanidade com esta lâmpada de Aladino?” O livro tem o preço de capa de 18,80 euros..Para o infinito e mais além: Com recurso à mitologia, à história e à literatura, o astrofísico norte-americano Neil deGrasse Tyson encaminha o leitor numa viagem através do tempo e do espaço, começando com o Big Bang e viajando até aos confins do Universo e mais além. No livro Para o infinito e mais além (edição Gradiva) a ciência entrelaça-se com a cultura.
Ao longo de séculos, os ventos alísios desempenharam um papel importante na navegação marítima. Ventos constantes, moderadamente intensos, que sopram de leste para oeste nas regiões tropicais, próximas à linha do Equador, numa faixa entre as latitudes de cerca de 30° norte e 30° sul. Um sopro que nasce da diferença de pressão atmosférica entre as áreas de alta pressão subtropicais e as áreas de baixa pressão equatoriais. Anualmente, os ventos alísios transportam mais de 240 milhões de toneladas de poeira do deserto do Saara. Uma viagem aérea sobre o oceano Atlântico que se traduz em algo mais do que apenas partículas em suspensão. Este imenso véu de poeiras representa um mecanismo essencial para a fertilização natural de ecossistemas marinhos e terrestres. Formada pela erosão de rochas e solos do deserto, esta poeira é rica em nutrientes como ferro, fósforo e nitrato, fundamentais para o crescimento de plantas e organismos aquáticos. No decurso da viagem, o ferro passa por alterações químicas quando exposto à luz solar e ao ar, tornando-se mais biodisponível e, assim, mais acessível..Um fenómeno especialmente relevante, dado que o ferro, em particular, é um elemento escasso em áreas oceânicas afastadas de terra. Ali, as águas expelidas pelos rios, uma fonte natural de minerais, não conseguem alcançar o oceano. Ao chegar aos grandes espaços oceânicos, a poeira deposita-se na superfície e alimenta o fitoplâncton, que recorre a estes nutrientes para crescer e se reproduzir. Esse aumento de fitoplâncton estimula a produção primária, alimentando pequenas criaturas marinhas e, eventualmente, toda a cadeia alimentar oceânica, incluindo grandes peixes e mamíferos marinhos. Além disso, o fitoplâncton captura dióxido de carbono da atmosfera através da fotossíntese, ajudando a mitigar os efeitos das alterações climáticas..Agora, um estudo apresentado na revista Frontiers in Marine Science vem sugerir que à medida que a poeira do Saara sopra milhares de quilómetros ao longo do oceano Atlântico, esta torna-se progressivamente mais nutritiva para os microrganismos marinhos. As reações químicas na atmosfera ‘trituram’ os minerais de ferro na poeira, tornando-os mais solúveis em água, o que cria uma fonte crucial de nutrientes para os mares carentes de ferro. “As nuvens de poeira que se depositam no Atlântico podem gerar florações de fitoplâncton que sustentam os ecossistemas marinhos”, diz Timothy Lyons, biogeoquímico da Universidade da Califórnia. “O ferro é incrivelmente importante para a vida. O fitoplâncton precisa dele para converter dióxido de carbono em açúcares durante a fotossíntese”, lemos no site da revista Science News, num artigo publicado a 4 de outubro e assinado pelo jornalista Douglas Fox. .De acordo com as conclusões do estudo intitulado Long-range transport of dust enhances oceanic iron bioavailability, “ao analisar mais profundamente o transporte de poeira e as reações químicas na atmosfera, os cientistas poderiam entender melhor quais as regiões dos oceanos que são pontos biológicos ‘quentes’ para o fitoplâncton e os peixes”..O referido estudo também propôs responder à questão da natureza das poeiras que se depositam no Atlântico numa escala de tempo alargada a 120 mil anos. Desta forma, os cientistas envolvidos no trabalho “analisaram minerais derivados de poeira em quatro núcleos retirados do fundo do mar - dois no Atlântico Oriental, perto de África, e dois mais a oeste, perto da América do Norte. Concluíram que durante o voo transatlântico das poeiras, ao longo de vários dias, o seu ferro reativo foi alterado, atacado por ácidos e radiação ultravioleta, que separaram os minerais (...) Há transformações fotoquímicas que tendem a tornar o ferro mais solúvel na água”. À medida que o ferro modificado se deposita no oceano, dissolve-se e é consumido pelo fitoplâncton. O único ferro reativo que chega ao fundo do mar é o material que não foi alterado durante o transporte aéreo e não foi engolido mais tarde. Os resultados sugerem que a proporção de ferro biorreativo era menor nos núcleos estudados mais a ocidente face àqueles mais a leste. Ou seja, uma proporção correspondentemente maior de ferro biorreativo perdera-se da poeira e teria sido utilizada por organismos na coluna de água, pelo que nunca tinha chegado aos sedimentos no fundo..Livros.Artificial: A nova inteligência e a fronteira do humano: Mariano Sigman (neurocientista) e Santiago Bilinkis (empreendedor e tecnólogo), autores de Artificial: A nova inteligência e a fronteira do humano (edição Temas e Debates), lançaram-se no seu primeiro projeto conjunto. Para escrever sobre um dos temas na ordem no dia, os autores começam a narrativa em 1938, com o inglês Alan Turing, criador de uma máquina que viria a permitir determinar o conteúdo das mensagens encriptadas da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. A partir daqui seguem o rasto do desenvolvimento da inteligência artificial (IA). Sigman e Bilinkis consideram que para enfrentar o futuro será imprescindível navegar na onda da IA e não deixam órfã a pergunta: “O que fará a humanidade com esta lâmpada de Aladino?” O livro tem o preço de capa de 18,80 euros..Para o infinito e mais além: Com recurso à mitologia, à história e à literatura, o astrofísico norte-americano Neil deGrasse Tyson encaminha o leitor numa viagem através do tempo e do espaço, começando com o Big Bang e viajando até aos confins do Universo e mais além. No livro Para o infinito e mais além (edição Gradiva) a ciência entrelaça-se com a cultura.