Finding Home – Discovering the lost phase of fish species”, assim se denomina o projeto que pretende perceber os processos que controlam o destino das larvas de peixe durante as migrações entre as áreas de desova e berçário em quatro regiões do Oceano Atlântico: Portugal, São Tomé e Príncipe, Estados Unidos e Dominica. Um projeto assinado por Vânia Baptista, investigadora no Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, que mereceu o reconhecimento do júri do FLAD Science Award Atlantic, promovido pela Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento (FLAD). O galardão de carácter anual visa “promover a nova geração de cientistas portugueses, e apoiar projetos com um grande foco na obtenção de resultados práticos, como a criação de engenharia e tecnologias, que facilitem a nossa compreensão e exploração dos ecossistemas atlânticos”, salienta a FLAD..Contactada para pormenorizar os objetivos e alcance do projeto que desenvolverá nos próximos três anos, Vânia Batista sublinha que “pretendemos descobrir o que acontece entre a desova e a chegada das larvas de peixe aos habitats de berçário, onde encontram alimento e proteção, considerada a ‘fase perdida’ por se saber muito pouco sobre os processos que a controlam. Vamos estudar o comportamento, a escolha de habitat, a orientação e capacidades natatórias das larvas de peixe. Iremos também perceber como é que estes habitats são importantes para os stocks de pesca, ou seja, determinar quanto tempo é que passam nestes habitats através da análise de otólitos [estruturas rígidas presentes no ouvido interno dos peixes], e analisar a sua condição fisiológica. Iremos ainda incluir análises moleculares para perceber como é que as diferentes respostas se relacionam com alterações nos seus genes, bem como o efeito das alterações ambientais”. .Ainda de acordo com a investigadora no Centro de Ciências do Mar, “todos os resultados serão combinados em modelos matemáticos costeiros de modo a obtermos uma imagem geral do que poderá estar a acontecer e dos processos envolvidos”..Sobre as espécies envolvidas neste trabalho, Vânia Batista destaca que o estudo recai sobre aquelas de “elevada importância socioeconómica e com diferentes estratégias de vida, desde a sardinha, ao robalo, à dourada e ao sargo que precisam de encontrar as pistas dos habitats ideais na costa portuguesa, ao peixinho que precisa de escalar cascatas em São Tomé e Príncipe e Dominica. No caso do peixinho, a captura destas espécies durante a fase de larva/juvenil é o sustento para muitas famílias”..A investigadora não parte sozinha para este projeto. Conta com um leque de parceiros. “Em Portugal, tenho o apoio do Centro de Ciências do Mar e Universidade do Algarve; nos Estados Unidos conto com o Rosenstiel School of Marine, Atmospheric, and Earth Science – University of Miami. Em São Tomé e Príncipe, entram neste estudo a Universidade de São Tomé e Príncipe e a ONG MARAPA. Finalmente, em Dominica, junta-se a este trabalho a University of West Indies – Dominica Campus e Soufriere-Scott’s Head Marine Reserve”..No terreno, o projeto visa diferentes fins, nomeadamente “determinar os principais processos responsáveis pela variação da quantidade de larvas que consegue sobreviver e encontrar um habitat que lhes fornecerá alimento e proteção para se desenvolverem em adultos e estando assim disponíveis para a pesca”. O impacto das alterações climáticas no comportamento das espécies a estudar será tido em conta como detalha Vânia Baptista: “Pretendemos perceber como é que o aumento da temperatura, salinidade e acidificação dos oceanos afeta as respostas das larvas, na sua condição fisiológica, e como é que está representado em alterações nos genes. Assim, pretendemos determinar como é que as alterações ambientais vão afetar a dispersão das larvas de peixe, a dinâmica das populações e consequentemente a disponibilidade dos recursos pesqueiros”..Um dos objetivos explicitados por este projeto está “uma melhor compreensão das comunidades locais em relação à proteção dos ecossistemas, contribuindo para o progresso de Pequenos Estados Insulares”. Sobre esta dimensão, pormenoriza a investigadora: “Este projeto contribuirá para a literacia dos oceanos, promovendo uma compreensão mais profunda sobre a necessidade de proteger os ecossistemas marinhos, através de workshops e da inclusão das comunidades locais nas diversas fases do projeto. Queremos contribuir para o avanço destes Pequenos Estados Insulares de Desenvolvimento, como São Tomé e Príncipe e a Dominica”..A avaliação das candidaturas foi entregue a um júri composto por Miguel Miranda (Universidade de Lisboa), Pedro Camanho (Universidade do Porto), Rui Ferreira dos Santos (Universidade NOVA de Lisboa) e Elsa Henriques (Universidade de Lisboa)..Em 2023, José Ricardo Paula, investigador auxiliar júnior no MARE, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, venceu a quarta edição do FLAD Science Award Atlantic.