Indicadores climáticos chave no vermelho. "Tudo vai na má direção"
Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

Indicadores climáticos chave no vermelho. "Tudo vai na má direção"

Temperatura média global subiu 1,24 ºC acima da era pré-industrial entre 2015 e 2024, e no ano passado a melhor estimativa desse aumento observado na superfície do planeta foi de 1,52 ºC.
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Gases com efeito de estufa (GEE), subida do nível do mal, limiar dos 1,5 graus centígrados (1,5ºC) de aquecimento global - uma dezena de indicadores climáticos chave estão no vermelho, alertaram 60 cientistas de renome em estudo divulgado na quinta-feira.

“O aquecimento de origem humana aumentou a um ritmo sem precedente, atingindo 0,27°C por década em 2015-2024”, salientaram.

As emissões de GEE, resultantes da utilização das energias fósseis, atingiram um nível recorde em 2024, com uma média anual de 53 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na última década.

Por outro lado, as partículas poluentes no ar, que têm um efeito refrescante, diminuíram.

O estudo foi publicado na revista Earth System Science Data e resultou do trabalho de investigadores provenientes de 17 países.

O interesse deste estudo é o de fornecer indicadores atualizados, com um base anual, sem ter de esperar pelo próximo relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

Em relação a 2024, o aquecimento observado em relação à era pré-industrial atingiu os 1,52°C, dos quais 1,36°C atribuíveis apenas à atividade humana. A diferença respeita à variabilidade do clima, a começar pelo fenómeno designado El Niño.

Isto não significa que o planeta já passou o limiar do Acordo de Paris – conter o aquecimento global em 1,5ºC -, para o que tem um horizonte de algumas décadas.

Mas a janela de oportunidade está a fechar-se cada vez mais.

O orçamento de carbono residual – a margem de manobra, expressa quantidade total de CO2 que ainda pode ser emitida, mantendo em 50% as hipóteses de limitar o aquecimento do planeta em 1,5ºC – está em vias de se fechar.

Este ‘orçamento’ é apenas de cerca de 130 mil milhões de toneladas, um pouco mais de três anos de emissões ao ritmo atual, contra cerca de 200 mil milhões há um ano.

Estudo revela que o desequilíbrio energético da Terra - o excesso de calor retido pelo efeito estufa - aumentou em 25% quando comparado à década passada, segundo explica o The Guardian.

“É um número realmente grande e muito preocupante”, afirmou Piers Forster, autor principal do estudo.

“Tenho a tendência de ser uma pessoa otimista. Mas [este estudo mostra que] tudo vai na má direção”, referiu o especialista, sem esconder a preocupação com os dados revelados pela análise dos cientistas.

Piers Forster afirmou que estamos a "assistir a mudanças sem precedentes e à aceleração do aquecimento da Terra e da subida do nível do mar."

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Abril passado foi o segundo mais quente já registado

Estudo revela: temperatura média mundial subiu 1,24 ºC acima da era pré-industrial entre 2015 e 2024

A temperatura média global subiu 1,24 ºC acima da era pré-industrial entre 2015 e 2024, e no ano passado a melhor estimativa desse aumento observado na superfície do planeta foi de 1,52 ºC, segundo a equipa de cientistas.

Os investigadores de 17 países, coordenados na iniciativa Indicadores das Alterações Climáticas Globais (IGCC), afirmam em comunicado que, do aumento de 1,52 ºC em 2024, 1,36 ºC é “atribuível à atividade humana”, tal como 1,22 ºC do aumento de 1,24 ºC entre 2015 e 2024.

Estas medições “não significam que o Acordo de Paris tenha sido violado”, esclarece a equipa, uma vez que as temperaturas médias globais teriam de exceder 1,5°C durante várias décadas, mas “reafirmam a distância e a rapidez com que as emissões estão a avançar na direção errada”.

O painel IGCC, que fornece atualizações anuais dos principais indicadores climáticos comunicados pelo Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC), acrescenta que a atividade humana gerou o equivalente a cerca de 53 gigatoneladas de dióxido de carbono (CO2) emitidas anualmente para a atmosfera durante a última década.

As estimativas do volume de carbono restante para garantir o aumento de 1,5°C são de 130 gigatoneladas de CO2, que podem vir a ser consumidas em pouco mais de três anos às taxas atuais de emissões, enquanto o consumo de uma quantidade de carbono que leve a um aumento de 1,6°C ou 1,7°C poderá ser excedido em apenas nove anos.

As concentrações de gases com efeito de estufa de CO2, metano e óxido nitroso "aumentaram desde 2019" e o resultado é um aumento equivalente do desequilíbrio energético da Terra, um "indicador crucial para monitorizar o aquecimento atual e futuro", insistem.

Os cientistas afirmam também que, entre 2019 e 2024, o nível médio global do mar subiu cerca de 26 milímetros, muito acima da taxa de longo prazo de 1,8 por ano registada desde o início do século XX.

O estudo completo dos investigadores será apresentado esta quinem Bona (Alemanha) e publicado na revista Earth System Science Data.

Com Lusa

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