Ano de 1973. A fachada de um edifício no bairro do SoHo, em Nova Iorque, torna-se notícia. The Wall intitulava-se a escultura monumental, com oito andares de altura, assinada pelo escultor Forrest Myers. Quarenta e duas barras de alumínio, aparafusadas a outros tantos suportes de aço pintados a verde, destacavam-se sobre um fundo azul. The Wall expressava o conceito de arte minimalista que, no contexto em apreço, cobria as cicatrizes arquitetónicas deixadas pela demolição de um edifício. A artéria que em 1891 servira a instalação do laboratório do engenheiro sérvio Nikola Tesla, ampliava-se na década de 1970 com sacrifício do edificado. Myers, nascido em 1941, hoje octogenário, ganhara na época o estatuto de estrela do novo universo criativo norte-americano..Quatro anos antes de erigir The Wall, o artista-plástico protagonizara um dos episódios mais bizarros da corrida espacial. Em particular, na corrida que desde a década de 1960 endereçava arte para além da atmosfera terrestre. Em 1965, o cosmonauta soviético Alexei Leonov produziu o primeiro desenho no espaço, a bordo da nave Voskhod 2. Nos idos de 1969, o projeto de Myers, habitava longe do gigantismo de The Wall, antes reduzindo a uma escala liliputiana a arte de seis nomes grandes da pintura norte-americana. O projeto “Museu da Lua” resume-se à ideia peregrina de Myers de enviar para o espaço, a bordo da missão Apollo 12, um cartão cerâmico de 14x19 mm, talhado com a arte de Andy Warhol, Robert Rauschenberg, David Novros, John Chamberlain, Claes Oldenburg e do próprio Forrest. O cartão não se limitaria a viajar à boleia do módulo lunar Intrepid que alunaria na superfície do satélite natural da Terra a 19 de novembro de 1969. O “Museu da Lua” e a arte mínima que expunha ficaria a descansar no Mare Cognitum que serviu de base lunar aos astronautas Charles Conrad e Alan Bean (Richard F. Gordon permaneceu na órbita lunar). Até ao presente não há prova de que o pequeno museu de Myers tenha, de facto, ganhado a imortalidade na Lua. Certo é que o golpe de marketing que acompanhou o projeto empurrou o ego de Forrest para a ribalta..The Wall, do escultor Forrest Myers..A década de 1960 assistiu ao crescendo da ligação da arte com as tecnologias de então. Fundada em 1967, a nova-iorquina Experiments in Art and Technology (EAT) associou o trabalho de artistas e engenheiros em prol da criação artística. A EAT levou para a arte a projeção de vídeo, a transmissão de som sem fios e o sonar Doppler. Foi à porta da EAT que Forrest Myers se acercou com o seu projeto “Museu da Lua”. Ali, foi recebido pelo engenheiro Fred Waldhauer que, com a sua equipa, recorreu a uma técnica usada no fabrico de circuitos telefónicos para criar entre 16 a 20 cartões cerâmicos. A um destes cartões caberia a honra de deixar a Terra a 14 de novembro de 1969. As restantes cópias foram distribuídas entre os artistas e engenheiros que participaram no projeto. De permeio, Myers afadigava-se em pedidos junto da NASA. Queria daquela agência boleia para o seu “Museu da Lua”. Da NASA, Myers recebeu respostas evasivas. É neste ponto que o projeto ganha o seu cunho de mistério. O cartão cerâmico criado pela EAT seguiu pelos caminhos de um plano B. Consta que Forrest Myers conhecia um engenheiro da empresa aerospacial Grumman Aircraft a operar no módulo de alunagem da missão Apollo 12. Este, disponibilizar-se-ia a ocultar o pequeno cartão na Intrepid. Às 15h35 de 12 de novembro de 1969, Myers terá recebido um telegrama na sua casa de Cabo Canaveral, na Florida: “YOUR ON’ A.O.K. ALL SYSTEMS GO”. Uma mensagem assinada por um enigmático John F. A história seria revelada a 22 de novembro de 1969 nas páginas do jornal The New York Times. .Sobre se o “Museu da Lua” alguma vez terá deixado o conforto do planeta azul para rumar ao espaço continua a pender a incerteza. Em 2010, uma série do canal de televisão PBS, a Detetives da História, confrontou o astronauta Alan Bean, o responsável pela plataforma de lançamento da missão Apollo 12 e o próprio Forrest Myers acerca do paradeiro do “Museu da Lua”. À pergunta “a NASA entregou realmente a arte de Andy Warhol à Lua?”, a resposta não foi conclusiva. Gwen Wright autora do programa deixou um repto aos telespetadores: “se é John F. ou se conhece alguém que pensa que poderia ter sido John F., por favor informe-nos”..Como certo, temos uma cópia do “Museu da Lua” em mostra no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova Iorque. Ali, sobre um fundo de tom leitoso, vivem as minúsculas inscrições de seis famosos das artes da década de 1960: uma única linha, traçada por Robert Rauschenberg; um quadrado negro rabiscado com finas linhas brancas, com a autoria de David Novros; um padrão desenhado de forma a assemelhar-se a um circuito, assinado por John Chamberlain; uma figura geométrica que se aparenta com o Rato Mickey, de Claes Oldenburg, e um desenho gerado a computador pelo próprio Forrest. Mais expressivo, Andy Warhol desenhou um pénis e endereçou-o à Lua na forma de um foguetão.