"O lugar onde a América se exibe”. Assim merecia descrição nos guias de viagem do século XIX a Euclid Avenue, artéria traçada de leste a oeste na cidade de Cleveland, nos Estados Unidos. O então prestigiado guia Baedeker, nascido na Alemanha em 1827, clamava ao viajante europeu não esquecer, na sua visita ao Novo Mundo, um passeio naquela via ladeada de olmos. No último quartel do século XIX, meia dúzia de quilómetros arrebanhavam uma parte considerável da fortuna americana. O magnata da indústria petrolífera, John D. Rockefeller, ali tinha uma mansão, assim como Jeptha Wade, benfeitor e fundador da Western Union Telegraph; Isaac N. Pennock, inventor do primeiro vagão ferroviário de aço dos EUA e o industrial Charles E.S. Lang..A avaliação das mansões construídas em Euclid Avenue excedia o valor dos imóveis da cosmopolita 5.ª Avenida, em Nova Iorque. Os atuais 30 quilómetros de extensão da avenida na cidade do estado do Ohio, guardam histórias de um passado povoado de excentricidades e de empreendedorismo. Uma delas, a de um multimilionário que prosperou no setor da então crescente indústria da eletricidade. Nascido em 1849 no Ohio, Charles Francis Brush, inventor, filantropo e empresário, moldou a feição da Eculid Avenue. Por cerca de 20 anos quem passava na artéria mais famosa de Cleveland, não só admirava a beleza da mansão de 17 divisões ali erguida em 1884, como mirava o nascimento de uma nova era, a da eletricidade gerada pela força do vento. Elevando-se 18 metros acima do terreno circundante, uma torre eólica construída em madeira obedecia com as suas pás à força do vento. A alguns metros, o interior da mansão de Charles Brush, brilhava na noite do Centro-Oeste dos Estados Unidos. Ali, o ocaso tinha como resposta uma aurora fruto do engenho humano. Uma pequena galáxia de lâmpadas incandescentes acendia-se no interior da moradia. Um “milagre” proporcionado pela força do vento. .Recorrer ao vento como forma de gerar energia através de dínamos ocupava os pioneiros da eletricidade. A adaptação do milenar moinho de vento ao referido uso levantava inúmeros problemas, entre eles, o da força motriz, a construção do próprio dínamo e os meios para transmitir a força da roda para o dínamo, assim como um aparelho para regular, armazenar e utilizar a corrente elétrica. .Na época, um jovem engenheiro de minas, formado na Universidade do Michigan no ano de 1869, aspirava a uma carreira como químico analítico. Frustrado o sonho, Charles Brush voltou-se, no início da década de 1870, para a comercialização de minério de ferro extraído nas cercanias do Lago Superior. As portas a um novo mundo trazidas pela descoberta da eletricidade, motivaram o espírito inventivo de Brush. Em 1876, o inventor obteve o apoio da Wetting Supply Company no projeto de construção do seu dínamo, um gerador de eletricidade para alimentar a luz de arco. Esta, inventada no início do século XIX pelo britânico Humphry Davy, traduziu-se numa das primeiras formas de iluminação elétrica. Resultava numa luz gerada pela passagem de uma corrente elétrica entre dois elétrodos condutores, geralmente de carbono, apartados por um pequeno espaço no ar. Quando a corrente elétrica fluía, o ar entre os elétrodos ionizava-se para formar um “arco elétrico” que emitia uma luz intensa e brilhante. Teatros, faróis, entre outros espaços públicos, beneficiavam desta luz, dada a sua alta intensidade. .Na Europa, a primeira turbina eólica geradora de eletricidade fora instalada em 1883 pelo engenheiro austríaco Josef Friedländer na Exposição Mundial de Viena. Quatro anos volvidos, o engenheiro James Blyth ergueu no jardim de casa, na localidade de Marykirk, na sua Escócia natal, uma torre eólica com dez metros de altura. Ali, rente ao litoral do Mar do Norte, fixava-se a primeira casa do mundo dotada de energia elétrica resultante da força do vento. Seria, contudo, a mastodôntica eólica de Charles Francis Brush a primeira a dar prova do potencial futuro desta nova tecnologia..Construída entre 1887 e 1888, o colosso de Brush, a pesar mais de oito toneladas, contava com um rotor de 17 metros de diâmetro, dotado de 144 pás de madeira de cedro. O mecanismo ligava-se a 12 baterias instaladas na cave da mansão, com uma modesta potência de 12 kW..Das mais de 300 lâmpadas instaladas no imóvel, perto de uma centena iluminava-se em simultâneo fruto da energia eólica. Em simultâneo, a eletricidade enxameava de vida os motores dos equipamentos instalados no laboratório de Francis Brush. Na época, o empresário assumia o comando da Brush Electric Company e tirava proventos dos desenvolvimentos que empreendera na luz de arco. Boston, Filadélfia, Baltimore, São Francisco e Cleveland iluminavam-se com os sistemas de luz de arco de Brush. .Em 1906, a turbina eólica de Charles Brush foi desmontada. O inventor, viveria mais 23 anos, embora longe do mundo dos desenvolvimentos na eletricidade. Em 1889 vendera a sua empresa à rival Thomson-Houston, mais tarde parte da General Electric, nascida em 1891..Nesse mesmo ano, o cientista dinamarquês Poul la Cour, descobriu as benesses das turbinas eólicas de rotação rápida face ao pachorrento movimento da eólica de Brush. Em 1900, a paisagem dinamarquesa enxameava com 2500 moinhos de vendo ligados a primitivos geradores de eletricidade.