Dia Mundial do Cancro do Ovário: prevenir é dar tempo

Dia Mundial do Cancro do Ovário: prevenir é dar tempo

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O cancro do ovário afeta mais de 300 mil mulheres por ano e é muitas vezes diagnosticado tarde. No Dia Mundial do Cancro do Ovário, a ginecologista Patrícia Pinto alerta para a importância da prevenção, do acompanhamento e da atenção aos sinais.

É uma doença silenciosa e frequentemente detetada em fases avançadas. O cancro do ovário continua a ser um desafio para a medicina, mas também para as mulheres, famílias e cuidadores. Todos os anos, mais de 300 mil mulheres recebem este diagnóstico no mundo. Em Portugal, surgem cerca de 500 novos casos por ano. A grande dificuldade? Os sinais, pouco específicos, confundem-se facilmente com outros problemas.

Quando os sintomas são discretos

 Distensão abdominal, sensação de enfartamento logo ao início da refeição, dores pélvicas, desconforto abdominal, alterações urinárias ou intestinais — estes são alguns dos sintomas do cancro do ovário. Mas passam muitas vezes despercebidos. “São sintomas que se confundem com problemas digestivos ou urinários. Isso faz com que o diagnóstico chegue tarde”, explica Patrícia Pinto, ginecologista do IPO de Lisboa e doutoranda em cancro do ovário avançado.

Ao contrário de outros tumores, como o do colo do útero ou da mama, não existe um rastreio específico para este tipo de cancro. Por isso, os médicos insistem: é essencial fazer consultas regulares de ginecologia e estar atenta às mudanças no corpo.

Diagnóstico tardio continua a ser regra

 “O mais importante é ter noção do próprio corpo. Ao mínimo sinal ou queixa, procurar ajuda médica — idealmente com um ginecologista”, reforça Patrícia Pinto. A deteção precoce pode salvar vidas, mas ainda são muitos os casos que chegam tardiamente ao consultório.

A ausência de um rastreio organizado torna ainda mais essencial o papel da observação pessoal e o acesso a cuidados regulares. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maior a probabilidade de sucesso no tratamento.

Da doença fatal à condição crónica

Apesar do cenário desafiante, há também boas notícias: “O cancro do ovário, que era muitas vezes fatal, passou a ser considerado uma condição crónica. Isto deve-se ao aparecimento de novos fármacos e a um acompanhamento mais estruturado”, afirma a médica do IPO.

Este avanço é também fruto de equipas multidisciplinares que acompanham as doentes em todas as fases do tratamento — da avaliação pré-operatória à recuperação. “A conjugação da ginecologia com a oncologia médica, mas também com outras especialidades, como urologia e cirurgia geral, faz toda a diferença”, sublinha.

Quando o risco está na família

Alguns casos de cancro do ovário têm origem hereditária, estando associados a mutações em genes como o BRCA1 e BRCA2. Nestes casos, é possível fazer rastreio genético e atuar de forma preventiva. “É importante que se tenha consciência do risco familiar. Muitas mulheres não sabem que têm antecedentes relevantes e não fazem avaliação”, alerta a ginecologista.

Ter conhecimento da história clínica familiar e comunicá-la ao médico pode ser decisivo. A literacia em saúde e o acesso a aconselhamento genético podem antecipar diagnósticos e salvar vidas.

Nenhuma mulher deve ficar para trás

Este é o lema do Dia Mundial do Cancro do Ovário: garantir que nenhuma mulher é esquecida. A chave está na prevenção, no acompanhamento regular e na consciencialização sobre fatores de risco familiares.

Mais do que tratar, é preciso saber detetar a tempo. Porque conhecer o corpo é o primeiro passo para cuidar.

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