Pavilhão Rosa Mota. A atleta fica em segundo lugar e não gostou
O Pavilhão Rosa Mota, no Porto, reabre esta segunda-feira com um novo nome, que inclui uma designação comercial de um patrocinador e a inscrição da antiga campeã olímpica - em letras garrafais anuncia-se a nova "Super Bock Arena" e em letras mais pequenas, à largura das primeiras, escreve-se "Pavilhão Rosa Mota".
Rosa Mota é que não ficou convencida, diz-se "enganada" pela Câmara Municipal do Porto e já fez saber que estará ausente hoje da cerimónia de reabertura do antigo Palácio de Cristal, tal como o Presidente da República, que justificou o facto com exames médicos que terá de realizar.
Também os vereadores da oposição na Câmara do Porto anunciaram esta segunda-feira que vão faltar à inauguração do renovado pavilhão por estarem contra a "menorização" do nome da atleta Rosa Mota.
Em causa está o nome original do pavilhão surgir em letras pequenas, ao contrário do nome do patrocinador. "Quando recebi o convite do senhor presidente da Câmara para a reabertura do Pavilhão, e no qual está escrito 'Super Bock Arena Pavilhão Rosa Mota' senti-me definitiva e claramente enganada", escreve na carta enviada aos 13 vereadores da autarquia, a que o DN teve acesso.
Rosa Mota estava convencida de que o nome do espaço seria "Pavilhão Rosa Mota - Super Bock Arena". "Comunico a todos os vereadores, em primeira mão, que não dou a minha anuência a algo que parece estar definitivamente estabelecido e que não foi o que foi acordado."
A atleta dá conta na carta que, no ano passado, teve uma reunião com Rui Moreira, que a convidou "para reunir com ele, na Câmara", na qual o presidente da autarquia garantia que "a toponímia não se muda". E acrescentou Moreira, segundo o relato de Rosa Mota: "Sabendo do meu enorme constrangimento em que o meu nome esteja ligado uma bebida alcoólica e até da legalidade discutível desta situação: Mas se a Rosa pudesse aceitar a bebida alcoólica (Super Bock) a Cidade beneficiaria muito."
"Foi a partir destas duas premissas que, mais tarde, em reunião com a senhora vereadora Catarina Araújo a informei que aceitaria o 'suplemento' Super Bock à designação Pavilhão Rosa Mota, tal como estava num logótipo cedido/elaborado pelo Super Bock Group e que, nessa reunião, entreguei à senhora vereadora e que rejeitava, em absoluto, outro que o Círculo de Cristal tinha apresentado à Câmara e que na mesma altura a senhora vereadora me mostrara, por o consideramos uma inaceitável subalternização da Toponímia da Cidade."
Em causa estão duas propostas distintas: numa, a primeira, que a atleta aceitou, o destaque é dado ao seu nome, em detrimento do patrocinador. Na segunda proposta, é a marca do patrocinador que surge em grande destaque, como se pode ver nas imagens aqui publicadas:
"Foi em função [do primeiro] logótipo que dei a minha anuência à proposta que a senhora vereadora levou à reunião camarária de 27 de novembro, acreditando que a mesma traduzia o logótipo por mim aceite e o nosso acordo", defende-se Rosa Mota.
Salta à vista: a imagem que a própria autarquia publica no seu site - e que ilustra este artigo - o nome do Pavilhão Rosa Mota é secundarizado face ao do patrocinador.
Há quase um ano, quando da discussão no executivo camarário deste "branding comercial", a Câmara do Porto dizia que "à designação toponímica que se manterá como Pavilhão Rosa Mota, o concessionário poderá acrescentar, para efeitos de comercialização, o branding Super Bock Arena". O "poderá" passou a certeza e o "acrescentar" passou a nome principal e o que se lê é Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota.
O executivo de Rui Moreira veio agora defender-se em comunicado, notando que o pavilhão "embora batizado com o nome da atleta, não tinha qualquer inscrição do seu nome nem na fachada nem em nenhum local visível". E acrescentou: "Nunca teve, aliás."
Para a Câmara, no processo de reabilitação do pavilhão, que estava "em pré-ruína e praticamente inutilizado pela degradação e falta de manutenção", segundo a autarquia, "ficou assegurado que ninguém poderia retirar o nome da atleta da designação formal, mas que também no uso comercial o seu nome teria sempre que estar presente".
A polémica tem condimentos políticos: o executivo de Rui Moreira afirma que "o nome da atleta nunca esteve, desde que passou a batizar o pavilhão em 1991, inscrito no edifício", atirando assim o batismo do antigo Palácio de Cristal para quando a Câmara já era liderada pelo socialista Fernando Gomes (e é conhecido o apoio da atleta ao PS).
Aqui a autarquia erra: o nome foi atribuído em 1988, depois da vitória nos Jogos Olímpicos de Seul, pelo então presidente da Câmara, Fernando Cabral. Aliás, em 22 de novembro de 2018, a Câmara do Porto informava que "o equipamento, que se encontrava em avançada degradação, manterá o nome da atleta olímpica que lhe foi atribuído nos tempos do presidente Fernando Cabral e que perdurou até hoje".
Há quase um ano, quando da votação na Câmara do Porto, o PS levantava sérias objeções à proposta. "A proposta que nos é apresentada omite qual será a aparência da futura designação, se esta alteração for aprovada. Há boas razões para temer que a designação Pavilhão Rosa Mota venha a ser abandonada em favor da valorização da marca comercial", apontava o vereador Manuel Pizarro, numa declaração de voto.
A autarquia insinua agora que Rosa Mota só está a levantar problemas por algum falhanço em "negociações" que teriam existido entre a atleta e as partes: "Desconhecemos o que estava em jogo, o que negociaram as partes e que tipo de contrapartidas incluía tal negociação, tentada à margem do processo público de concessão. Não fomos pela atleta ou pelo seu representante convidados a participar em tais reuniões."
Na carta que dirigiu aos vereadores, Rosa Mota é taxativa: "Como nunca quis obter qualquer tipo de vantagem que não o interesse da Cidade e o respeito pelas suas Instituições, disponibilizei-me ainda para, com a máxima discrição possível, pedir a retirada do meu nome do Pavilhão, caso a sua permanência fosse um grande prejuízo para a Câmara/Cidade."
Para o executivo de Rui Moreira, o nome de Rosa Mota agora "está mais do que nunca protegido", não compreendendo o como "alguém se possa considerar mais respeitado dando nome a um edifício em pré-ruína e sem uso, do que num moderno centro de congressos onde a sua designação está claramente inscrita".
Contactado pelo DN, o representante da atleta, José Pedrosa, informou que para já não vão tornar públicos quaisquer comentários sobre a polémica.
[notícia atualizada às 12.30 com a informação de que os vereadores da oposição na Câmara do Porto também vão faltar à reabertura do pavilhão]