O que Robles já disse sobre especulação imobiliária, lei do arrendamento e despejos
Desde que assumiu a candidatura à Câmara Municipal de Lisboa nas eleições de 1 de outubro do ano passado, Ricardo Robles sempre se mostrou um feroz opositor à especulação imobiliária na capital, criticando o desequilíbrio que favorece "investidores com capacidade financeira alta". Entretanto, foi eleito vereador pelo Bloco de Esquerda e manteve o discurso em diversas intervenções públicas, entrevistas e até em tweets, o último dos quais publicado esta quinta-feira, em que disse estar "ao lado dos moradores" contra o "bullying e a especulação imobiliária".
No entanto, esta sexta-feira o Jornal Económico adianta que Robles e a irmã, Lígia, compraram um lote de prédios no valor de 347 mil euros em 2014 e, depois de obras exigidas pela autarquia que terão tido um custo de cerca de 650 mil euros, colocaram-no à venda por 5,7 milhões de euros, estando assim à beira de assegurar uma mais-valia de quatro milhões.
1 de novembro de 2016 (ao DN): "O centro de Lisboa está sob enorme pressão por várias razões incluindo turismo e residentes não permanentes - e estes são uma espécie de offshore no centro da cidade. Os benefícios são tais que a capacidade de compra de imóveis no centro por estrangeiros ultrapassa a de quem mora aqui. Uma cidade cosmopolita tem de estar aberta tanto aos endinheirados que procuram a cidade como aos menos afortunados que procuram refúgio. E hoje há um desequilíbrio para investidores com capacidade financeira alta."
11 de março de 2017 (ao DN): "Há uma visão especulativa: os terrenos, os prédios de Lisboa são para negócio, não são para habitação, não são para quem quer viver na cidade. E isso não é uma política de esquerda. Essa tem que olhar para a cidade e disponibilizá-la para as pessoas."
"Fernando Medina diz que não e que não pretende limitar o crescimento do turismo. Nós temos a posição contrária a essa visão. Há zonas da cidade onde a pressão do turismo já ultrapassou todos os limites. Aliás, há índices em que a pressão do turismo no centro da cidade de Lisboa é superior aos de Barcelona, em que nós sabemos os problemas que foram criados pela pressão do turismo."
14 de abril 2017 (em artigo de opinião no DN): "É certo que as responsabilidades de Fernando Medina são partilhadas com a ex-ministra Assunção Cristas em matéria de expulsão de habitantes da cidade: a agora candidata Assunção Cristas foi a autora do Novo Regime de Arrendamento Urbano, a lei dos despejos, que continua a ser o instrumento para expulsar inquilinos, sejam os mais pobres seja a classe média."
11 julho 2017 (à Rádio Renascença): "Fui ler o programa do PS em 2013, onde Fernando Medina foi eleito número 2, que dizia que se iria privilegiar a reabilitação de edifícios para renda acessível com vários programas municipais, entre eles o Reabilita Primeiro Paga Depois. Fui consultar os dados sobre este programa e foram vendidos 100 imóveis entre 2013 e 2015, no valor de 33 milhões de euros, e não há um que seja para renda acessível. A CML transformou-se numa agência imobiliária que contribui para a especulação na cidade, mas que não dá nenhum contributo para resolver o problema da habitação."
"Em Santa Maria Maior, a freguesia do centro histórico [onde se inclui Alfama], uma em cada cinco casas estão em regime de alojamento local e isto cria uma drenagem de disponibilidade de habitação absolutamente brutal para quem quer viver na cidade e faz subir o preço do arrendamento em flecha como temos assistido."
14 de setembro de 2017 (ao Observador): "Uma proposta que temos é refletir-se no Plano Diretor Municipal (PDM) a obrigatoriedade que, sempre que há construção nova ou uma grande intervenção de reabilitação, reservar 25% ou uma percentagem a definir de fogos a custos controlados. O promotor quando faz uma obra sabe que tem taxas municipais, sabe que tem cedências de espaço público e sabe que tem uma responsabilidade sobre a habitação em Lisboa."
22 março 2018 (ao DN): "O problema da habitação tem-se vindo a agravar em Lisboa. Os preços continuam a aumentar brutalmente e isto está a criar uma crise social. Encontrar casa, seja para arrendar seja para compra, apesar de o crédito para a habitação estar mais acessível, continua a ser proibitivo. A tendência é ir para fora da cidade procurar uma casa. E isto abre problemas gravíssimos, do ponto de vista ambiental, da economia da cidade. Voltamos a ter movimentos pendulares. O município e o próprio Estado central têm de fazer uma intervenção muito grande."
"Temos estado sempre em total oposição ao regime de arrendamento urbano. A lei que Assunção Cristas criou [em 2012, quando era ministra] gerou uma crise gravíssima do ponto de vista social. Estas pequeníssimas alterações permitiram prolongar por alguns anos a situação dos arrendatários, mas continuamos a ter um problema grave."
"Houve aqui uma tempestade perfeita, um cocktail explosivo. Tivemos a lei de Assunção Cristas, a liberalização total do alojamento local também no governo PSD-CDS e, por outro lado, cada vez maior interesse turístico na cidade, que é um aspeto positivo mas cria estes impactos negativos fortíssimos. Este cocktail explosivo está a criar um problema grave de habitação e para a própria cidade, para a sua sustentabilidade. A Câmara de Lisboa tem de ter um papel forte, por exemplo, através das quotas para o alojamento local. No centro histórico, há zonas onde os preços se tornaram proibitivos."
"Esta é uma cidade cada vez mais para ricos e menos para lisboetas e para quem quer viver na cidade, para trabalhar, morar, estudar."
5 de julho de 2018 (Twitter): "Parar os despejos. Mudar a Lei. Combater a especulação imobiliária."
26 de julho de 2018 (Twitter): "Estes lisboetas merecem ser defendidos perante o bullying e a especulação imobiliária. Estamos do lado dos moradores."