Tal como o futebol é um jogo de ocupação de espaços no relvado, durante o próximo ano, à medida que se aproximam as eleições presidenciais de janeiro de 2026, muito se irá jogar na ocupação de espaço político pelos interessados em suceder a Marcelo Rebelo de Sousa. O posicionamento de uns condiciona decisões de outros, mesmo que não o admitam, ou que o neguem.Com Gouveia e Melo destacado nas sondagens e livre das responsabilidades de Chefe do Estado-Maior da Armada, todos os outros precisam de contrariar o favoritismo de quem deverá aparecer no boletim de voto como um militar na reserva desligado de partidos e com potencial para atrair eleitores dos dois lados do espetro político, com um discurso centrista e recusa de extremos..A hipótese de o almirante que ganhou a confiança de grande parte dos portugueses na pandemia de covid-19 forçar uma segunda volta, que até hoje só sucedeu em 1986, quando Mário Soares contou com o voto útil de toda a esquerda para derrotar Freitas do Amaral, reforça dúvidas no PSD e no PS quanto a quem irão apoiar na corrida a Belém.No PSD, que nas últimas duas décadas fez eleger os ex-líderes Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa, o mais provável candidato é o também antigo presidente social-democrata Marques Mendes. O advogado e conselheiro de Estado tirou partido do comentário televisivo para elevar a notoriedade, e recusa estar condicionado por timings alheios. Mas é impossível negar que muitos não escondem o desejo de que Passos Coelho reconsidere o seu afastamento. E admitem alternativas, que vão da agora vice-presidente do PSD, Leonor Beleza, ao presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco. Além de figuras externas, como o ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, que se desfiliou para fundar o Aliança, e o antigo líder do CDS-PP, Paulo Portas. Embora a moção com que Luís Montenegro foi reeleito diga que “há seguramente nos nossos quadros partidários militantes com notoriedade e conhecimento profundo e transversal do país”..Do lado do PS, após Pedro Nuno Santos apontar Mário Centeno, Ana Gomes, António Vitorino e António José Seguro como presidenciáveis, procura-se dar tempo ao tempo. O governador do Banco de Portugal, o antigo comissário europeu e o ex-secretário-geral têm percursos diferentes, mas convergem na possibilidade de atrair votos ao centro, o que será mais difícil com uma nova candidatura presidencial da antiga eurodeputada Ana Gomes ou na entrada em cena do ex-presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, que em agosto esteve no Fórum Socialismo do Bloco de Esquerda.Confirmando-se a ausência de Passos Coelho, é provável que o Chega queira confirmar o estatuto de terceira força. Uma segunda candidatura presidencial de André Ventura dá garantias de bom resultado, até porque a confirmação do favoritismo do almirante, e a eventualidade de haver mais do que uma candidatura nos campos social-democrata e socialista, tornariam possível uma passagem à segunda volta..Mais difícil será a missão para eventuais candidatos apoiadas por outros partidos. Mas também há independentes na corrida, como o empresário Tim Vieira, nascido na África do Sul e participante na edição nacional do Shark Tank, e André Pestana, coordenador nacional do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.T.O.P.) .