Woody Allen. Entre alguns crimes e muitas escapadelas

Crime e culpa são temas centrais de alguns dos melhores filmes. Que títulos devemos conhecer antes do <em>Homem Irracional</em> que estreia na quinta-feira?
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Os russos nunca deixaram Woody Allen - é o próprio a admiti-lo. Particularmente, Fiodor Dostoievski, autor de Crime e Castigo, clássico em torno do qual realizou alguns dos seus mais aplaudidos filmes, persistentes variações contemporâneas e filosóficas. Mas porquê mencionar esta influência literária, quando nos propomos visitar os "filmes obrigatórios" que abrem caminho ao Homem Irracional? A razão é simples: esta não é a comédia romântica que o trailer - talvez sem ponta de inocência - fazia crer. Pelo contrário, é o regresso do realizador nova-iorquino às questões universais da culpa (agravada pela cultura judaica), da moral e da existência, ou não, de um Deus vigilante dos atos humanos. Homem Irracional estreia na próxima quinta-feira, e surge na pista e memória de outros filmes de Allen, em que os protagonistas, de súbito, se deparam com a necessidade de cometer um homicídio... a que se segue o inevitável fardo do remorso.

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Neste último, Joaquin Phoenix é Abe Lucas, um professor de Filosofia que se deixa mover por esse impulso, no que considera ser um gesto criativo, ou melhor, de genuíno propósito altruísta: corrigir uma injustiça alheia. E se, em Crime e Castigo se lê "O crime é um protesto contra um sistema social anormal.", digamos que isso, aqui, se aplica perfeitamente.

Já em 1975 Woody Allen apresentava, num trabalho exemplar, a sua mais fulgurante "homenagem satírica" à grande literatura russa. Nem Guerra, Nem Paz é uma excêntrica combinação de Tolstoi com Dostoievski, em que o realizador se apropria do contexto histórico de Guerra e Paz para criar um pano de fundo ao debate intrínseco de Os Irmãos Karamazov e Crime e Castigo. Nessa segunda ocasião em que representa ao lado de Diane Keaton (sua namorada, à época), faz imperar o estilo palavroso, nos diálogos existencialistas que surgem, apesar de tudo, com naturalidade e sempre com um travo cínico: "Matar é imoral!", diz ele, "A Imoralidade é subjetiva.", responde ela. E assim continuam.

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