Uma ópera católica onde os dramas são universais
Sobe amanhã (20.00) ao palco do São Carlos uma nova produção dos Dialogues des Carmélites, uma das grandes óperas escritas após a II Guerra Mundial e que não demorou a integrar o repertório corrente da lírica. Co-produção do Teatro Nacional de São Carlos com a Cornucópia, com encenação assinada por Luís Miguel Cintra e direção musical de João Paulo Santos, Les Dialogues des Carmélites foi composta por Francis Poulenc (1899-1963). Estreou no Teatro Scala de Milão (que encomendou a obra) em janeiro de 1957 e, na versão original em francês, na Ópera de Paris, meses depois. No ano seguinte (abril) via-se em Lisboa, mas já antes a peça de teatro estivera em cena no Dona Maria II.
"Li há muitos anos o texto de Bernanos [Georges Bernanos, escritor, autor do texto] devido a essa associação com a companhia da D. Amélia [a companhia Rey Colaço-Robles Monteiro] - conta o encenador - mas aquele lado muito ostensivamente católico da peça deixou-me certas reticências, na altura. Hoje, pelo contrário, é com grande entusiasmo que a faço!"
Da religião para a abstração
Mas a ópera ultrapassa, na sua opinião, essa matriz católica: "Se reparar, no cenário não há uma única cruz, não caracterizamos nada o lado religioso. É uma abstração de um grupo que tem uma regra [a regra Carmelita] e a regra, em dado momento, torna-se esta: "nós queremos morrer e queremos, ao fazê-lo, ser heroínas. Trata-se no fundo, tal como sucede com os artistas, da representação de pessoas que põem o seu objetivo de vida para além da sua própria vida e para além dos limites da vida concreta, sensorial." O hábito das Carmelitas aproxima as personagens, diz, "da ideia de igualdade dos cidadãos" e o anonimato assim criado remete "para os tantos mortos anónimos, vítimas dos totalitarismos e guerras do século XX, convulsões que quer Poulenc quer Bernanos viveram". Tal transposição "faz daquelas 16 freiras uma espécie de símbolo da Europa inteira".
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