Sudoeste. Um festival com anjo-da-guarda
Mal soube que a primeira edição do Sudoeste vinha para o seu concelho, a primeira reação de Nazário Viana foi pegar no telefone e ligar para o comandante da corporação de bombeiros de Paredes de Coura, a pedir-lhe conselhos. Do outro lado da linha, porém, a resposta não foi a mais animadora: "Ninguém está preparado para receber um festival desses", retorquiu-lhe o colega do norte do país. "Mas nós, com a nossa calma alentejana, conseguimos fazer com que tudo corresse bem", refere o comandante dos Bombeiros de Odemira, desde a primeira edição responsáveis pela prevenção e socorro no recinto e no campismo.
"Estamos nisto há quase vinte anos e temos aprendido muito", salienta Nazário Viana, que com o tempo foi aprendendo alguns truques para levar a água ao seu moinho. "O maior de todos foi ter começado a dar o meu número de telemóvel aos miúdos", confessa. Passou a receber muitas mais chamadas por dia, mas diz que vale a pena: "Acabam por ser eles que fazem muito do nosso trabalho de prevenção". E alguns até lhe ligam quando chegam a casa, só para o chefe Nazário saber que a viagem correu bem. Aliás, até já tem a tradição de, no último dia, oferecer o seu boné de comandante a um festivaleiro. "Só tenho é um, porque senão dava muitos mais", conta divertido.
A experiência acumulada ao longo de vinte edições de Sudoeste, permite-lhe hoje fazer uma "avaliação bastante positiva" do festival. "A organização tem uma preocupação extrema com as questões de segurança. Todos os anos há melhorias que facilitam muito o nosso trabalho", assegura. A principal evolução, em comparação com os primeiros anos, foi a iluminação e arruamento do campismo, que acabaram de vez com a praga dos entorses que tanto afligiu a primeira geração de festivaleiros. A posterior canalização com água potável e a criação de uma rede esgotos são outros aspetos que Nazário realça, "pelo modo como tornaram muito mais confortável a vida dos campistas". Este ano, uma das novidades que implementou foram as sessões de esclarecimento sobre o funcionamento do campingaz. É por isso comum, por estes dias, vê-lo no meio das tendas, de volta de pratos e panelas, mas não para cozinhar. "No primeiro ano tivemos 316 ocorrências de incêndio, este ano tivemos apenas uma", sublinha. Precisamente "uma leve fuga de gás" num desses pequenos fogões, prontamente resolvida com a mudança de botija.
Do Brasil para o Canal
Apesar de já serem um clássico do festival, a presença de nadadores-salvadores no canal era um luxo impensável para os festivaleiros que ali mergulharam, nos últimos anos da década de 90. Hoje, o ambiente no Canal mais se assemelha a uma pool party da moda, onde nem sequer falta um dj residente durante a tarde. E com tanta animação e mergulho, os nadadores-salvadores, presentes das 10.00 às 20.00, são indispensáveis para que tudo corra bem. O trabalho não é muito, pelo contrário, como garante Osias Freitas, que ontem se estreou pela primeira vez nestas funções. Não na de nadador-salvador, que nisso já leva ele 10 anos de experiência. Num festival de música é que nunca antes o tinha feito.
É natural de Santa Catarina, no Brasil, e está em Portugal ao abrigo de um programa de intercâmbio entre nadadores-salvadores dos dois países. Nos últimos meses tem trabalhado nas praias do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina. "Quando vim, nunca imaginei vir para um festival, mas está a ser uma experiência muito boa. Diferente, mas muito interessante", diz, enquanto um grupo de amigos espanhóis mergulha na água, molhando-o de propósito com alguns salpicos.
"Portam-se todos muito bem e, à exceção de alguns arranhões no pé, quase não tivemos trabalho", afirma o "socorrista", como lhe gritam da água os espanhóis, cuja missão passa mais por sensibilizar para eventuais perigos: "Digo-lhes para não beberem muito antes mergulhar, porque é necessário estar lúcido na água. E também a não virem depois de comer".