"Sou eu quem põe cá para fora o bebé"

Está nas salas "Duas Mulheres, Um Encontro". O DN esteve à conversa com Catherine Frot, a parteira desta comédia realista.
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Este rosto é daqueles que muitos reconhecem de certos filmes mas esquecem-se sempre do nome. Em França, é das mais respeitadas atrizes da sua geração e nos últimos anos tem optado por uma carreira naquele cinema do "meio", os chamados filmes de qualidade que também pensam no grande público. Ajuda se dissermos que foi a chef de Haute Cuisine - Os Sabores do Palácio, de Christian Vincent, e a pior cantora do mundo em Margueritte, de Xavier Gianolli. Catherine Frot tem dois Césares e inúmeras nomeações da Academia francesa. Cobra mais de 600 mil euros por filme e foi fundadora da companhia de teatro Chapeau Rouge. Aos 61 anos consegue ainda os melhores papéis.

Em Duas Mulheres, Um Encontro enfrenta pela primeira vez a rainha de todas as atrizes, Catherine Deneuve. Frot interpreta a ex-enteada da personagem de Deneuve, uma parteira que cresceu com o trauma de uma madrasta que abandonou o pai e o deixou de coração quebrado. A parteira de Frot é, antes de mais, um desafio etário - a personagem diz que tem 49 anos para fazer sentido ser enteada de Deneuve. Mas o verdadeiro desafio é não desaparecer perante Deneuve, em registo de exuberância siderante. Uma Deneuve que dança, canta, ri, chora e bebe. O incrível é que se é verdade que esta é uma das melhores Deneuve dos últimos tempos, tal o deve ao espaço dado por Frot.

E é acerca de Deneuve que começa a conversa: "Nunca nos tínhamos cruzado. O curioso com a Deneuve é que aqui ela tem uma espécie de papel duplo. Ao mesmo tempo é uma princesa húngara e também uma mulher sem meios. Há ali uma irrealidade que se abate sobre si." O resultado é uma química de atrizes que fascina.

"Duas Mulheres, Um Encontro é um filme sobre palavras grandes. Falamos de nascer e morrer. A minha personagem é uma mulher imensamente dedicada ao seu ofício, que é precisamente dar à luz. Na pesquisa para o papel conheci algumas parteiras e percebi que são todas mulheres extraordinárias. Tratam-se de mulheres que estão sempre a ser confrontadas com o nascimento mas também com a morte - um parto é sempre algo perigoso!", continua. A atriz esteve mesmo presente em alguns partos verdadeiros e logo a primeira cena do filme é ela quem segura num bebé acabado de nascer. Um exercício de realismo que dá logo o balanço certo a esta comédia dramática.

A atriz, no começo, não queria ir tão longe mas as circunstâncias assim a levaram. Milagres do cinema, milagres da vida... "Sim, milagre da vida! Eu estava mesmo ao lado da parteira e a câmara focava-me a mim, mas acabei mesmo por ser eu a puxar o bebé cá para fora!! No filme vemos três partos verdadeiros. Foi cá uma experiência que nem lhe conto! Uma experiência de mulher, não de atriz. Mas escreva isso: sou eu quem põe cá para fora o bebé..." Está escrito. E é desse realismo que o filme faz uso. A câmara de Martin Provost não faz batota emocional.

Em Berlim

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