Relembrar esse dia de 1965 em que prémio a Luandino enfureceu Salazar e a PIDE

A Caminho prepara agora a edição de <em>Papéis da Prisão</em>, revelou Zeferino Coelho na cerimónia que relembrou o livro <em>Luuanda.</em>
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"Nem por um só instante cedeu às pressões da ditadura", sublinhou ontem José Manuel Mendes, referindo-se à Sociedade Portuguesa de Escritores que há 50 anos enfureceu o regime salazarista premiando Luuanda, livro de Luandino Vieira, então preso no Tarrafal por defender a independência de Angola.

Antepassada da Associação Portuguesa de Escritores, a SPE atribuiu o seu Grande Prémio de Novelística de 1965 a "um livro novo, inovador, verdadeiramente maior", sublinhou o presidente da APE, numa cerimónia na Gulbenkian, em Lisboa, que serviu para lançar uma edição comemorativa de Luuanda, perante uma assistência onde estavam diplomatas lusófonos, escritores vários, ex-presos políticos e muita gente que quis ouvir também a historiadora Irene Pimentel explicar o contexto daquele ano de especial repressão, o do assassínio de Humberto Delgado, o general que em 1958 prometera, caso fosse eleito presidente, demitir Oliveira Salazar da chefia do Governo.

Nascido José Vieira Mateus da Graça, em Vila Nova de Ourém, a paixão pela sua terra adotiva faz o escritor assumir o nome de Luandino e militar pela independência de Angola, o que lhe valeu a prisão e uma longa passagem pelo Tarrafal, na ilha cabo-verdiana de Santiago. Aliás, Luuanda, que traz histórias dos musseques e exibe uma linguagem inovadora, foi escrito já preso e passada por Luandino para a mulher, que o dactilografa para ser editado, como contou ontem Zeferino Coelho, da Caminho. E quando o prémio da SPE é atribuído, Luandino continua detido, não sabendo de nada. Desses tempos na prisão, ficaram notas várias, uma espécie de diário, que a Caminho promete editar em breve. Serão os Papéis da Prisão, segundo Zeferino Coelho.

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