Recordar o músico que insistia "não ser tristeza"

Muitos concertos, exposições e encontros. Na quinta-feira passam 30 anos sobre a morte de José Afonso.
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Um concerto na Academia de Santo Amaro, em Lisboa, outro no Conservatório Gulbenkian, em Braga, ambos com o título "Insisto não ser tristeza", um verso de José Afonso, assinalam na quinta-feira os 30 anos da morte do compositor. Estes dois concertos são dois dos 30 espetáculos, num total de mais de seis dezenas de iniciativas, que a Associação José Afonso (AJA), com os seus 14 núcleos em Portugal mais o de Bruxelas, promove ao longo do ano para recordar o autor de "Grândola, vila morena", "Maio, maduro maio" e "Coro da Primavera".

Na Academia de Santo Amaro, em Lisboa, atua o Canto Afonsino, na quinta-feira, com músicos como Carlos Alberto Moniz, Francisco Naia e Rui Freire, enquanto no Conservatório Gulbenkian, em Braga, se apresenta o grupo Canto d'Aqui, com vários convidados, entre os quais Artur Caldeira, Ana Ribeiro e Uxia.

Em Aveiro, na quinta-feira, será exibido o documentário "Não me obriguem a vir para a rua gritar", de João Pedro Moreira, no Auditório da Associação Cultural Mercado Negro, numa sessão que vai contar com "um momento aberto à participação de todos" os que quiserem partilhar a memória de José Afonso.

Na quinta-feira, também a Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, numa iniciativa própria, independente das ações da AJA, inaugura uma mostra documental "em homenagem a José Afonso", que inclui poemas e canções, fotografias e discos em vinil, aliando documentos em suporte original e em suporte digital, e que vai ficar patente na Torre do Tombo, em Lisboa, até 21 de março.

Quanto aos concertos a realizar ao longo do ano, pela AJA, vão contar com Francisco Fanhais, Manuel Freire, Afonso Dias, Rui Pato, Pedro Fragoso, entre outros participantes, estando ainda prevista a atuação do músico espanhol Patxi Andion, num concerto em Évora, em junho.

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Do programa de iniciativas que, segundo o presidente da AJA, Francisco Fanhais, visam "não fazer perder a memória do Zeca no coração das pessoas", constam ainda dezoito exposições sobre a obra discográfica e a vida de José Afonso.

Vinte e duas outras iniciativas, entre as quais uma sessão intitulada "Zeca Afonso, professor", a realizar no dia 11 de março, na Casa da Cultura, em Setúbal, com a presença anunciada do secretário de Estado da Educação, João Costa, constam do programa das comemorações.

"A ideia é celebrar os 30 anos da Associação [José Afonso] e evocarmos o legado que o Zeca nos deixou, que não está morto, mas que devemos perpetuar para as gerações que nos seguirem, porque, se não o fizermos, não cumpriremos a nossa função", sublinhou Francisco Fanhais à agência Lusa.

Lisboa, Setúbal, Braga, Faro, Santiago do Cacém, Santo André, Aveiro, Seixal, Almada, Évora, Santarém, Agualva-Cacém, Abrantes e Bruxelas são os locais onde as iniciativas se realizam, até ao final do ano.

A Associação gostava ainda de poder realizar um grande concerto em Lisboa, este ano, mas tudo dependerá dos custos, disse Francisco Fanhais à agência Lusa. O Coliseu dos Recreios, onde José Afonso deu o último concerto, em 29 de janeiro de 1983, e onde foi cantada a "Grândola, Vila Morena", na noite de 29 de março de 1974, é uma das salas com que o presidente da AJA gostaria de contar para a iniciativa, assim como a Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa.

Para Francisco Fanhais, "o mais importante", porém, "é mostrar que Zeca foi um artista da música, da poesia, da voz e que pôs a sua arte ao serviço da cidadania de uma maneira desprendida e desinteressada, de forma a contribuir para uma sociedade sem muros nem ameias, e sem exploradores nem explorados".

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José Afonso "complementou as convicções com uma prática muito intensa, muito ativa na defesa dos valores da liberdade, dos valores da emancipação das pessoas, na defesa do poder popular, e isso é uma dimensão perfeitamente impossível de esconder" na sua obra.

Fanhais sublinhou ainda que é "extremamente perigoso" querer limitar José Afonso a um cantor de intervenção, esquecendo a qualidade excecional da sua obra poética. "O Zeca disse sempre que a música é comprometida, quando o músico é comprometido". José Afonso, músico, compositor, poeta, combatente pela liberdade, o criador de "Grândola, vila morena", nasceu a 2 de agosto de 1929, em Aveiro. Morreu, aos 57 anos, em Setúbal, a 23 de fevereiro de 1987.

A Associação José Afonso foi criada a 18 de novembro de 1987, por amigos de José Afonso, "com o objetivo de ajudar a realizar as ideias do compositor e intérprete no campo das Artes".

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