Raridade com 300 anos comprada para o Palácio de Sintra
Feito de ébano e prata, e produzido em Portugal, este leito de dossel é a mais recente aquisição da Parques de Sintra. Ficará no quarto de hóspedes do Palácio Nacional de Sintra. É, segundo a empresa gestora, "o único existente em território nacional".
O leito pertenceu à marquesa Olga de Cadaval (1900-1996), como foi dado a conhecer pelo médico e historiador Reynaldo dos Santos no livro História da Arte em Portugal. Benemérita e amante de música, a italiana Olga Maria Nicolis di Robilant instalou-se em Colares em 1929, após o casamento com António Caetano Álvares Pereira de Melo, marquês de Cadaval, e foi viver para a Quinta da Piedade, cujo património se dedicou a recuperar.
A cama agora adquirida (por valores que não foram divulgados pela Parques de Sintra) tem cerca de 3 metros de altura e pouco mais de 2 metros de largura, e é datável do final do século XVII, início do século XVIII. Foi vendida em 1963 num leilão da Leiria & Nascimento e em 2003, 40 anos depois, voltou ao mercado na Feira de Antiguidades da FIL, segundo a Parques de Sintra. "Dada a excecionalidade da peça, chegou então a ser considerada a sua aquisição para o Palácio Nacional de Sintra, um dos poucos edifícios com enquadramento histórico e escala para o acolher, facto que só agora se consumou."
"A incorporação desta obra de referência no património artístico nacional era, de resto, há muito reivindicada por especialistas que se debruçaram sobre a peça", refere o comunicado da Parques de Sintra. A sua aquisição foi recomendada logo em 1972 por Bernardo Ferrão
Num estudo publicado em 1972, o historiador Bernardo Ferrão defendeu de forma veemente a sua aquisição pelo Estado, o mesmo sucedendo com Arthur Sandão, que chegou a lamentar e dar como certa a sua venda para o estrangeiro, precisa a Parques de Sintra.
Poucos exemplares resistiram
Em Portugal não se conhece outro leito com as mesmas características. Foi identificado, isso sim, um outro, semelhante, em Espanha, no acervo da Basílica de Santa Maria de Elche, por doação de Gabriel Ponce de León e Lencastre, duque de Aveiro e marquês de Elche. A investigação em torno desta peça permite afiançar que a peça saiu de Portugal em 1753 e foi, de seguida, restaurada em Alicante. "Passou a ser utilizada na cerimónia litúrgica da Oitava da Assunção da Virgem, servindo para apresentar a Dormição de Maria, costume que se mantém até ao presente".
Os materiais de que foi feita o leito adquirido para o Palácio Nacional de Sintra -- o ébano e a prata -- eram usados em móveis muito especiais, como documenta o Inventário e sequestro da Casa dos marqueses de Távora, no reinado de D. José I.
O futuro da peça é o Quarto de Hóspedes do chamado Palácio da Vila, após "uma intervenção de conservação e restauro centrada na consolidação da estrutura e limpeza dos numerosos elementos metálicos que o constituem", detalha a empresa gestora do monumento. Segue-se o estudo aprofundado do leito para tentar averiguar, por exemplo, se era um leito matrimonial ou funerário.