Paula Hawkins volta para infernizar o leitor
A autora continua a matar mulheres e a culpar... Ups! Escrito na Água só sai dia 2 e ainda é proibido revelar a trama do novo thriller.
Após ter vendido 130 mil exemplares em Portugal com o thriller A Rapariga no Comboio, Paula Hawkins tornou-se a autora de maior sucesso nas livrarias nacionais desde que teve o seu livro lançado em 2015. Um triunfo que poderá ter continuação com o segundo thriller psicológico, que será publicado no próximo dia 2, e que tem a particularidade de não fugir à receita que catapultou a escritora para os primeiros lugares das tabelas de vendas em todo o mundo.
A primeira grande pergunta é se Paula Hawkins conseguirá manter o ritmo do seu primeiro grande sucesso com este novo trabalho, intitulado Escrito na Água. Essa é sempre a grande dúvida para quem teve um bestseller vindo do nada. E a resposta é sim... Hawkins consegue manter um suspense ao correr das 382 páginas desta novidade.
A segunda grande pergunta é se Paula Hawkins conseguirá manter os leitores na ignorância de quem matou quem durante quase todo o volume? E a resposta é sim... Hawkins vai introduzindo pistas falsas, disfarçando culpados e encaminhando os leitores para um criminoso que não será o verdadeiro e que só desvenda na reta final.
A terceira pergunta é se Escrito na Água será o sucesso de vendas de A Rapariga no Comboio. Aí, a resposta caberá ao leitor... Mesmo que a editora Top Seller acredite que sim e tenha 40 mil exemplares impressos para inundar as livrarias e tornar este o livro do verão 2017.
Diga-se que Escrito na Água não difere de A Rapariga no Comboio. O estilo é parecido: intimista, confessional e muito dirigido às leitoras. A história é apresentada do mesmo modo, com um enquadramento dos acontecimentos e várias versões sobre os factos, nunca coincidentes, em catadupa.
Se o primeiro livro caracterizava-se por ter um comboio em marcha constante, este tem as águas de um rio que nunca param de correr. Que ao passarem por um lugar chamado Beckford criam uma atração em demasiadas mulheres, sendo o número de afogadas extenso e periodicamente renovado.
É nas duas últimas mulheres afogadas que tudo se centra. Sem se desvendar mais do que está na contracapa ou se pode saber de antemão - afinal este é um dos livros mais resguardados de sempre e muito poucos foram os que o leram em Portugal -, pode dizer-se que vive em Beckford uma mulher que quer conhecer a razão de tantas vítimas se entregarem à morte neste rio. Chama-se Nel. Apesar de estar atenta, de investigar todas as mortes anteriores e de ter instalado um sistema de filmagem para captar alguma pessoa a afogar-se, ela não escapa ao destino das anteriores vítimas e morre afogada, tornando-se o motivo da investigação policial de Escrito na Água.
Mas não foi a única durante esses meses, pois antes de Nel também tinha morrido afogada neste rio que passa pela localidade a melhor amiga da sua filha. Ou seja, a conjunção de duas mortes torna a situação incomportável para as autoridades e dois agentes são obrigados a investigar o que realmente se passa no lugarejo.
É aí que tudo começa, num processo de escrita que Paula Hawkins domina como ninguém e torna a vida do leitor infernal. Tal como em A Rapariga, o leitor é desencaminhado ao longo da estrutura muito picuinhas de Escrito na Água. São na maioria capítulos curtos, com uma meia dúzia de visões de cada morador e potencial culpado nas duas mortes mais recentes. Há cenas de ciúmes adolescentes, de irmãs desavindas, de pais protetores em demasia, de polícias bons e maus. Ou seja, a intriga vai correndo as páginas e a única certeza que se tem é que a terra é pequena mas a vingança gigantesca.
Mesmo que Hawkins coloque uma pista fundamental à p. 64, logo "afogará" qualquer certeza de se estar no caminho certo. Ou que à p. 92 dê um empurrão à trama ao dizer que "Beckford não é um local de suicídios" mas onde se "livram de mulheres problemáticas". Ou irrite o leitor com uma pulseira perdida desde cedo e que à p. 324 ainda não tenha resolvido a questão. Que à p. 251 baralhe tudo com uma alegada violação.
Desta vez, Paula Hawkins não tenta fazer com que o leitor ganhe empatia com qualquer uma das personagens. Mesmo assim tenta evitar que lhe aconteça ao segundo livro o que sucedeu a J.K. Rowling: nunca repetir o sucesso planetário de Harry Potter. Claro que o thriller também é um subgénero e só Agatha Christie é que teve honras de chamarem literatura ao que fez.
Escrito na Água
Paula Hawkins
Editora TopSeller
382 páginas
PVP: 18,80
Sai dia 2 de maio