Páscoa: Das Paixões de Bach a uma maratona em São Roque

Com a Semana Santa a começar, multiplicam-se os concertos um pouco por todo o país, com propostas centradas nesta época festiva, com destaque para a Paixão e Morte de Cristo, mas também para a Ressurreição. Sugestões que vão das mais populares Paixões de J. S. Bach, passando por um Requiem do português Bomtempo ou uma maratona pelo grupo belga Graindelavoix
Publicado a
Atualizado a

Os vários mistérios que se celebram na Páscoa, festa maior do calendário cristão, inspiraram, ao longo dos séculos, a composição de inúmeras obras. Claro que o júbilo, propriamente no Domingo de Páscoa, da Ressurreição foi tema e inspirou variadíssimos compositores: basta lembrar que uma das peças mais universalmente conhecidas da música clássica - o Aleluia do Messias de Händel - canta, proclama essa Ressurreição.

Mas, mais ainda que essa festa de alegria que é a Páscoa, foram os dias que a antecedem que mais inspiraram os compositores. Falamos especificamente da Paixão e Morte de Cristo, isto é, de Sexta-Feira Santa. Esse dia, e a Semana Santa que ele culmina, motivaram - e continuam a motivar -, pelas riqueza e variedade do seu potencial expressivo, a composição de muitas das maiores obras-primas da história da música ocidental.

O curioso é que grande parte delas foi escrita como música funcional, isto é: uma encomenda/encargo para determinada cerimónia em determinado local em dado ano, escrita por um compositor ao serviço da Igreja, ou de uma Capela vinculada a uma corte.

Nesta Páscoa 2018, em Portugal, temos vários exemplos desse repertório secular inspirado pelo tempo pascal. Deixamos-lhe algumas sugestões.

As Paixões de Bach

Quando se fala em música pascal e em grande obras-primas, as Paixões (as duas que chegaram aos nossos dias) de J. S. Bach, segundo os Evangelhos de João e de Mateus, são das primeiras a ocorrer-nos. Tanto melhor que este ano tenhamos oportunidade de ouvir ambas em Lisboa.

Tal como na ordem de composição, primeiro vem a de São João. Será no CCB, já amanhã (17.00, Grande Auditório) e terá por intérpretes a Orquestra Metropolitana e o Coro Sinfónico Lisboa Cantat, a que se juntam os solistas Eduarda Melo (soprano), Carlo Vistoli (contratenor) e Jorge Vaz de Carvalho (barítono). Evangelista será o tenor Marco Alves dos Santos e a voz de Jesus será a do baixo José Corvelo. Dirige Enrico Onofri.

Um dia depois, é a vez da de Mateus ser ouvida na Gulbenkian (dias 26 a 28, sempre às 20.00, no Grande Auditório). Aqui, à Orquestra e Coro da casa junta-se um notável conjunto de solistas, no qual se destacam o soprano Rachel Harnisch e o contratenor Carlos Mena, sem esquecer a presença relevante do jovem português André Baleiro no papel de Cristo. O importante papel de Evangelista (no fundo, o narrador) será interpretado pelo tenor Hans Jörg Mammel. Inicialmente, a direção estava confiada ao decano Michel Corboz, mas por motivos de saúde ele foi substituído por Andreas Spering, especialista em repertório barroco alemão.

Um Requiem em Guimarães

Na cidade minhota, o III Festival Internacional de Música Religiosa que ali se realiza encerra este ano com a execução do Requiem em dó menor, op. 23, à memória de Camões, uma obra-prima da música portuguesa, da autoria de João Domingos Bomtempo (dia 31, às 21.30, no Centro Cultural Vila Flor). Toca a Orquestra de Guimarães, mais o Coro Autêntico da ESART de Castelo Branco, sob a direção de Rui Pinheiro. Serão solistas Dora Rodrigues (soprano), Elisabete Matos (mezzo), Mário Alves (tenor) e Nuno Dias (baixo).

Bach e Händel na Casa da Música

Continuando a Norte, a Casa da Música faz o respetivo concerto de Páscoa no dia 28 (às 21.00, na Sala Suggia), com a Orquestra Barroca Casa da Música, sob a direção de Laurence Cummings, a interpretar um programa preenchido com obras de J. S. Bach e G. F. Händel, e em que será solista o soprano suíço (naquela que será uma estreia em Portugal) Marie Lys. Destaque para duas cantatas de Paixão de Bach: Ich bin vergnügt mit meinem Glücke e Mein Herze schwimmt im Blut, de Bach, e para o Salve Regina" de Händel.

Antes da Ressurreição

Voltamos a Lisboa, onde no mesmo dia (quinta-feira santa, às 21.00) o Grande Auditório do CCB acolhe novo concerto pascal, desta vez da iniciativa do Teatro de São Carlos. E para a época, a escolha recaíu sobre uma das duas grandes obras sacras que nos deixou Rossini: no caso, o Stabat Mater. De origem medieval, esta obra é uma exaltação de Maria, mãe de Cristo, com o filho, morto, nos seus braços. Solistas nesta apresentação serão o soprano Sophie Gordeladze, o mezzo Cátia Moreso, tenor Luís Gomes e baixo - atenção a ele - Mirco Palazzi. Dirige Antonio Pirolli, um dos maestros que melhor impressão tem deixado no Teatro São Carlos nos últimos anos. O espetáculo contará com a Sinfónica Portuguesa e o Coro do São Carlos.

Gesualdo em São Roque

Príncipe italiano famoso por um crime de honra, compositor genial, Gesualdo (1566-1613) pôs uma imensa expressividade em tudo quanto escreveu. Não admira por isso que tenha escrito um conjunto de Responsórios para serem cantados no Ofício de Trevas de 5.ª e 6.ª feiras santas e de Sábado de Aleluia.

É esse conjunto de peças, bastante extenso (cerca de três horas e meia de música), que o agrupamento vocal de origem belga Graindelavoix, uma das maiores autoridades na música medieval e renascentista, se propõe hoje (a partir das 18.00) interpretar, na Igreja de São Roque, em Lisboa, sob a direção do seu fundador, Björn Schmelzer. Uma maratona e um desafio. E um privilégio para nós.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt