Pacheco Pereira leva os seus objetos com história para a TVI24
Que história nos conta um objeto? Dos que se encontram no arquivo Ephemera de José Pacheco Pereira sairá, em setembro, um novo programa semanal de televisão na TVI24.
"Quem manda é o objeto dentro desta ideia de que o objeto não é apenas um prato, uma caneca, uma lapiseira. O objeto pode ser um documento", começa por explicar o historiador ao DN, sobre a premissa de que parte o programa anunciado ontem pela TVI. "Tem sempre como pretexto alguma coisa que se encontra no arquivo. Se forem relacionados pode ser mais do que um [objeto]". Pode ser uma imagem, uma gravação áudio... O que o autor do programa garante é que "como se trata de documentos que pela sua natureza são únicos haverá sempre uma história".
Grande parte dos objetos estão escolhidos, avança Pacheco Pereira, mas a seleção não está fechada. "Pode escolher-se em função da atualidade". Dá um exemplo: "Se o programa existisse quando foram os incidentes recentes nos EUA com os racistas e supremacistas brancos, eu poderia mostrar os materiais do arquivo do Ku Klux Klan". E eles existem porque, conta o historiador, a Ephemera é internacional e reúne documentos objetos oriundos de 60 países. Guarda, por exemplo, cartazes espontâneos contra Trump nas manifestações ou documentação espanhola, recolhidos por voluntários que se encontram nesses países.
Ephemera é, além de Biblioteca e Arquivo de Pacheco Pereira (sediados na vila ribatejana da Marmeleira), nome de associação cultural sem fins lucrativos. "O objetivo é dar um enquadramento institucional com protocolos com universidades, que existiam informalmente e que assim podem ser formalizados", nota Pacheco Pereira. É constituída maioritariamente por voluntários, "responsáveis por que se publique e tenha na rede muito mais do que outros arquivos institucionais que têm financiamentos". Vive da dedicação das pessoas e da facilidade que têm em encontrar espaços onde é recolhido o material que depois chega ao arquivo. Um desses espaços é a livraria Ler Devagar. Neste lugar, na Lx Factory, em Lisboa, às terças e quintas-feiras, entre as 17.00 e as 19.00, voluntários tratam o material que foi entregue ao arquivo.
Existem outros lugares que estão a fazer este trabalho: dois no Porto, dois em Viana do Castelo e, em breve, também em Coimbra e na Figueira da Foz. São os mesmos voluntários, mais de cem nas contas de Pacheco Pereira, que se dedicam ao projeto de recolher todo o material possível das Autárquicas que se realizam a 1 de outubro (ver caixa). Desta recolha, chegaram já 600 pastas com materiais ao blog Ephemera. Dá exemplos: "Pode encontrar papéis de um movimento em Figueiró dos Vinhos, pode encontrar sobre a candidatura de Isaltino Morais em Oeiras, podem encontrar os papéis da CDU na vidigueira". "É um trabalho que ninguém faz", considera Pacheco Pereira.
O número de pastas que podem ser consultadas online chega às 18 mil e, ao mesmo tempo, e para lá do programa de televisão, a associação também organiza exposições. A próxima inaugura a 9 de setembro nas Galerias Mira, no Porto, e é sobre as eleições norte-americanas de 2016. "Com material original, porque só trabalhamos com material original". "Quando se quer mostrar às pessoas o trabalho que fazemos os objetos físicos têm um papel fundamental", defende.
Para 2018, preparam no Instituto Superior Técnico, com "uma exposição grande sobre a luta estudantil nos últimos anos antes do 25 de abril, sobre o Maio de 68".
Ainda sem data de estreia, uma informação que a TVI, contactada pelo DN, não quis avançar, o programa Ephemera, semanal, terá várias repetições e "reflexo online". "Um pequeno filme destes é autossuficiente, pode sobreviver num canal youtube ou no sítio da internet da TVI. São pormenores que estamos a estudar", afirma Pacheco Pereira.
Só não será à quinta-feira à noite, dia em que Pacheco Pereira reúne com Lobo Xavier e Jorge Coelho na Quadratura do Círculo na SIC Notícias.
Os objetos das eleições
À semelhança do que aconteceu em 2009 e 2013, o arquivo dedica-se a recolher objetos relacionados com as eleições de 1 de outubro. "Desta vez como temos um número muito elevado de voluntários, estamos em muito melhores condições de o fazer e está a correr bastante bem", diz Pacheco Pereira. "Pessoas que pegam no seu carro ou que aproveitam as férias, e nos sítios onde passam, vão às sedes buscar panfletos e tiram fotografias aos cartazes, o que faz com que neste momento já tenhamos quase 600 pastas publicadas na Internet".