Ora vamos lá de novo apaixonar-nos por Elle Fanning
Nesta altura falar de princesas pode dar castigo extremista. Não arriscaremos, mas ficamos com pena de não coroar Elle Fanning como a atual grande princesa do cinema americano. A menina de Sofia Coppola que se fez mulher é das atrizes mais em destaque neste momento e das poucas capazes de seduzir com uma inocência quase paredes-meias com a perversão.
Não há muitas semanas vimo-la a dar corpo, literalmente, a um ser extraterrestre com tendências ninfomaníacas na comédia punk Como Falar com Raparigas em Festas, de John Cameron Mitchell. A partir de quinta-feira está de regresso num papel de grande fôlego, em que dá vida à escritora que criou Frankenstein, Mary Shelley.
Mary Shelley, realizado pela saudita Haifaa al-Mansour, chega às salas a tempo das celebrações dos 200 anos do livro que deu fama à escritora britânica, o primeiro romance de ficção científica da literatura. Uma Elle Fanning preciosa num papel em que volta a provar toda a sua graça de câmara já demonstrada em obras como Somewhere e O Estranho Que Nós Amamos, ambos de Sofia Coppola, ou Mulheres do Século XX, de Mike Mills.
"Por acaso, sou daquelas atrizes que adoram sofrer. Acredito que estar desconfortável ajuda-me como atriz. É dessa forma que consigo pôr-me em causa. Não há melhor sensação do que a de chegar a casa depois de uma certa cena e ter o corpo dorido - sinto que trabalhei de verdade! Essa é a melhor sensação", diz-nos com os olhos esbugalhados e com o entusiasmo de uma rapariga ainda a sair da adolescência.
Aos 20 anos, Elle está com aquela imagem que pode compor personagens ainda de adolescente mas também já de mulher, e prossegue: "Acabei de fazer Teen Spirit, onde tinha uma cena que me deixou muito desconfortável, em que interpreto uma jovem num palco a tentar a sua sorte num concurso de talentos. Fui obrigada a cantar música pop e foi algo de muito estranho."
Sobre Mary Shelley, jura que o fascínio sobre o projeto passou pela condição feminina deste ícone da literatura: "É raro vermos no ecrã histórias centradas em mulheres ligadas à arte... Fiz 18 anos quando estava a filmar este filme e para mim foi um grande salto. Foi a última vez em que fui obrigada a ter aulas no plateau, enfim, foi um marco: cresci tanto neste filme! Senti que depois das filmagens era uma pessoa mais sensata e madura. A Mary Shelley ensinou-me bastante a ser mulher. Senti que peguei naqueles dois anos da sua vida e os experimentei para mim mesma... Pode ser um filme de época, mas tem uma mensagem muito intemporal. Ela foi uma feminista, mas acreditou em todo aquele amor livre..." Dito isto fica no ar a dúvida se a sua geração olha para o amor livre de uma outra maneira. A atriz responde de rajada: "O que é fixe na minha geração é que somos muito tolerantes com todos os conceitos de amor livre. Claro que vai demorar muito tempo para aceitarmos todos como são; as coisas não são tão lineares. O sexismo, por exemplo, é uma coisa que ainda está muito viva e cada um tem o seu preconceito."
Com a sua beleza e os seus metro e oitenta e muitos, Elle só não experimentou o trabalho de modelo porque é uma das atrizes mais procuradas, mas nada que a tenha impedido de se tornar uma it girl do mundo da moda, para não dizer ícone de moda.
A atriz confessa o seu amor pela cultura fashion e diz que adora fazer produções com marcas de roupa, não dispensando a sua própria conselheira de moda para se vestir para as obrigações da passadeira vermelha. "Estou muito informada acerca das novidades do mundo da alta-costura e envolvo-me muito com a minha conselheira quando é para escolher o que vou vestir. Em Neon Demon tive uma experiência louca com a moda."
Se Elle Fanning é um fenómeno passageiro, ninguém sabe. Tudo indica que não. A seguir vai ser a protagonista de A Rainy Day in New York, de Woody Allen, se alguém tiver coragem de lançar o filme, e é de novo uma princesa Disney em Maléfica 2, em que contracena ao lado de Angelina Jolie. É bem provável que a frescura de Elle Fanning nunca vá passar de moda. E continua a ser muito bonito vê-la crescer no grande ecrã e a ser a musa menos institucional dos millennials. Mas a propósito dos millennials, diz-nos: "Sou um pouco infoexcluída, apesar de não largar o meu iPhone como qualquer outra miúda. Acho é que o Instagram pode ser um pouco perigoso, não é?" Dizemos-lhe que sim, para não a contrariar.
Ao despedir-se, quando descobre que o jornalista é português, diz alto e em bom som: "Cool!" Parece mesmo sincera, mas todos sabemos que é também uma atriz sobredotada...