Os primeiros planos do filme permanecem na retina: dois homens com trajes imaculadamente brancos, no meio do pântano. Tão brancos que parecem corpos num sonho, ou fantasmas. Mas são afinal dois colonizadores portugueses, de carne e osso - João de Mattos (Nuno Lopes) e Sant"Anna (Ivo Alexandre) - que chegam a uma zona do rio Congo para tomar conta de um posto de troca de marfim. Nesse lugar profundo e verde, de atmosfera indefinida, os escravos têm nomes de aristocratas, e a intenção que os oficiais traziam de os "civilizar" torna-se uma tarefa cada vez mais estranha e distante.
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Nesta abordagem do colonialismo no século XIX, em particular do português, Hugo Vieira da Silva compõe um ambiente gradualmente hipnotizante, em que as fronteiras da autoridade desaparecem. A sua adaptação livre do conto de Joseph Conrad, Um Posto Avançado do Progresso, alcançou o essencial: construir a sensação mortífera de se estar em pleno "coração das trevas" - esse outro título mais conhecido do escritor britânico, que designa o território bravio, subtilmente nocivo e esfíngico que é a floresta africana.
Classificação: ***