Na era Daniel Craig, é fartar vilanagem
Já viveram muitas vidas e muitas mortes os vilões do 007. Foram sinais dos tempos, adversários que se moldavam consoante o tom do filme e, sobretudo, foram quase sempre muito divertidos. Ao longo das diversas fases, a figura do vilão sofreu as mesmas mutações dos próprios filmes.
Na era de Sean Connery, em geral, eram vilões com veia irónica mas também ora duros ora diabólicos. Quem não se lembra do recorrente e calvo Blofeld? Mais tarde, com Roger Moore, a franchise aligeira-se e chegam os vilões mais humorísticos, quase sempre em modo burlesco e sem receio de tiques fantasistas ou over the top.
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Com a chegada de Timothy Dalton e Pierce Brosnan segue-se uma certa tónica mais subtil. Vilões que se poderiam catalogar de mais credíveis ou com justificações menos simplistas como o mero "domínio do mundo". Maus da fita que não deixavam também de ter o habitual resvalo para a loucura.
No reinado Daniel Craig tudo muda. Os vilões ganham uma nova dimensão. Ficam menos unidimensionais e passam a exibir uma sofisticação muito para além da pura maldade da ordem. Se quisermos, a partir daqui tornam-se verdadeiras personagens de cinema, quase sempre em contraponto cénico com a própria nova via mais "desesperada" do agente de Sua Majestade.
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Uma sofisticação que passa por todo um maior tratamento de argumento para as suas personagens. Ou seja, o espaço para o vilão aumentou, ganhou uma relevância. Ele não está ali para pura e simplesmente tentar aniquilar James Bond, vive e mata para além dele. São personagem que pensam e agem com gestão. São também homens com um charme nada desatualizado, em alguns casos, espelho inverso do estilo 007.