Música sem espartilhos na Culturgest e no Panteão

A partir de hoje, o Festival Rescaldo celebra dez anos a divulgar a música de vanguarda nacional, com dez concertos.
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A edição do Festival Rescaldo que hoje arranca na Culturgest, em Lisboa, é sem dúvida uma edição especial. Longe estão os tempos em que o teatro A Barraca era o espaço de abrigo para uma série de apostas em nomes emergentes (e não só) da música de vanguarda portuguesa. Até ao próximo dia 18, a Culturgest e o Panteão Nacional voltam a receber alguns dos mais inventivos nomes independentes de espartilhos musicais, naquela que é a 10.ª edição do Rescaldo.

"É sem qualquer dúvida um marco considerável", afirma o comissário do festival, Travassos, ao DN. Muitos têm sido os nomes que já passaram pela história do Rescaldo, dos RED Trio a Rafael Toral, passando por Sei Miguel, Rodrigo Amado, Pop Dell"Arte, Filipe Felizardo, Norberto Lobo, Gala Drop ou Tó Trips. E muitos outros menos mediáticos. "Estamos em crer que, ao longo dos anos, o festival tem ajudado uma série de bandas e projetos a firmarem alguma notoriedade, tanto pela oportunidade que lhes é concedida em tocar num reconhecido palco como pelo apoio editorial que consequentemente lhes permite a tão almejada internacionalização. Acreditamos sobretudo que é um festival necessário", refere.

No ano passado, por exemplo, o grupo de Barcelos Black Bombaim juntou-se ao veterano saxofonista Peter Brötzmann e depois do concerto no Rescaldo gravaram um disco que foi editado pela Shhpuma Records, editora associada ao festival.

Nesta 10.ª edição, serão os Älforjs a apresentarem no Rescaldo o seu segundo álbum, Demons 1, lançado pela Shhpuma. "Os Älforjs são das bandas nacionais mais originais. Praticam um género singular que por defeito apelidamos de xamanismo urbano. Uma música recheada de momentos hipnóticos e ritualistas que tanto vão beber ao kraut como ao jazz ou aos sons africanos mais recônditos", define o programador.

O grupo toca no último dia do festival, 18, na garagem da Culturgest, numa noite em que vão partilhar o palco com Ondness (projeto de Bruno Silva, ativo músico no meio independente lisboeta, que já lançou por editoras internacionais como Where to Now, Metaphysical Circuits, Seagrave, entre outras), e as Pega Monstro, duo das irmãs Júlia e Maria Reis, que com o álbum Alfarroba (lançado em 2015 pela britânica Upset the Rhythm) se afirmaram como um dos mais vitais projetos rock portugueses da atualidade. A ter em conta os seus últimos concertos, serão muitas as novidades a revelar no Rescaldo.

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Pela Culturgest vão ainda passar nomes como Marco Franco (reconhecido baterista que já tocou com Dead Combo ou Memória de Peixe e que aqui fará um solo ao piano), Bruno Pernadas Quarteto, Luís Lopes, Ana Deus (ex-Três Tristes Tigres/Osso Vaidoso) com Nicolas Tricot, Live Low, Jejuno e David Maranha com o célebre baterista Paal Nilssen-Love.

Nesta 10.ª edição o Rescaldo volta a estender-se a outras salas para além da Culturgest, chegando neste ano pela primeira vez ao Panteão Nacional, onde neste domingo a trompetista Susana Santos Silva fará um solo. "Desde há algum tempo que ambicionava lançar o desafio à Susana Santos Silva para fazer um solo no Rescaldo. Em pesquisa para um espaço ideal para um concerto com estas características surgiu a hipótese de realizar o concerto no Panteão. É um feliz privilégio tendo em conta a monumentalidade e, especialmente, as extraordinárias características acústicas do espaço, as quais constituem um elemento determinante para o resultado da performance", explica Travassos.

O Rescaldo continua, assim, a seguir-se pelos mesmos valores que há dez anos levaram Travassos a criar este festival: "Fazer um balanço do que mais relevante aconteceu no ano anterior nos extensos territórios da música nacional, destacar nomes ou bandas que normalmente se movimentam pelas franjas e, no nosso entender, merecem notabilidade pela qualidade e perseverança do seu trabalho, e mesclar públicos diferentes que habitualmente não assistem a concertos que fujam da sua zona de conforto."

Ao longo de dez edições não só o festival mudou como o panorama nacional em que se insere. "Noto mudanças especialmente na proliferação de bandas e na multiplicação de espaços - em consequência cresceram novos públicos. Mudou também o apoio logístico com o aparecimento de editoras e outras estruturas com capacidade para apoiar os músicos em várias frentes", diz. Segundo o programador, "Portugal é, atualmente, um gerador efervescente de música bastante interessante, de elevado nível, que tem merecido a melhor atenção por parte da imprensa internacional. Um exemplo disso é o recente destaque da revista Wire sobre a música portuguesa de vanguarda".

Serão mais de dez concertos ao longo de cinco dias. As entradas para cada dia desta 10.ª edição do Festival Rescaldo custam seis euros.

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