LEFFEST com rosto francês e distintos americanos
"Isto não é um Festival de passadeira vermelha". Paulo Branco, diretor do Lisbon & Sintra Film Festival (LEFFEST), fez questão de o dizer ontem na apresentação do programa da 11ª edição, que decorreu no átrio principal do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Basílio Horta, presidente da Câmara de Sintra, com quem este ano o Festival divide paisagem, não deixou de reparar, no entanto, que existe uma espécie de passadeira invisível entre Lisboa e Sintra, que é possível ver através dos vidros desse átrio: a estação de comboios. De acessos estamos conversados.
Apesar da recusa do termo "passadeira vermelha", o LEFFEST não deixa, evidentemente, de trazer nomes que fazem tocar os sinos. Entre eles, a grande homenageada deste ano, já anunciada, Isabelle Huppert, assim como o encenador Peter Brook, David Cronenberg (presidente do júri), Mathieu Amalric, Willem Dafoe, Abel Ferrara e - sem confirmação, mas com grandes probabilidades de vir - Robert Pattinson.
Contudo, Paulo Branco quis sublinhar que a presença das personalidades não se limita ao efeito de montra. Elas vêm partilhar experiências com o público. Desde logo, Huppert, com uma retrospetiva de cerca de 30 filmes, marcará presença no primeiro fim de semana do Festival para apresentar algumas sessões e inaugurar a exposição Isabelle Huppert: Woman of Many Faces no MU.SA - Museu das Artes de Sintra. Uma mostra que reúne mais de cem fotografias de artistas como Henri Cartier-Bresson, Robert Doisneau ou Nan Goldin.
Para além desta retrospetiva, e das anunciadas de João Mário Grilo, José Vieira e Peter Brook, também uma das referências maiores do cinema independente americano, Abel Ferrara, estará de regresso ao Festival (depois de ter apresentado Pasolini em 2014) para acompanhar a retrospetiva que lhe faz tributo. O seu último filme, Piazza Vittorio, tem aqui antestreia marcada.
Outros dois nomes completam as retrospetivas deste ano: o cineasta Alain Tanner, que no início da década de 1980 filmou Lisboa com carinho (A Cidade Branca), e o artista e realizador norte-americano, Julian Schnabel, conhecido pelo filme O Escafandro e a Borboleta (2007).
Na seleção oficial em competição, salta à vista Lucky, de John Carroll Lynch, o derradeiro filme do ator Harry Dean Stanton, que nos vai fazer chorar, mas também Call Me By Your Name, de Luca Guadagnino, e The Day After, do coreano Hong Sang-soo. Já fora da competição e em antestreia, temos um rol de preciosidades óbvias, desde O Amante de Um Dia, de Philippe Garrel, ao novo Woody Allen, Roda Gigante, passando pela Palma de Ouro deste ano em Cannes, O Quadrado, de Ruben Östlund, novos filmes de Abdellatif Kechiche, Richard Linklater, Paul Schrader ou William Friedkin.
E como o LEFFEST se caracteriza pelo cruzamento das artes, não faltam expressões disso: no teatro, a peça Battlefield, de Peter Brook, e Ensaio Para Uma Cartografia, de Mónica Calle, na música, o filme Alain Planès, L"Infini Turbulent, e outro sobre os refugiados, Images of The East, e a literatura em performance de Enrique Vila-Matas. Em dedicatória à nova vila associada, haverá leituras de diários e cartas escritas por W. H. Auden, Christopher Isherwood e Stephen Spender aquando da sua passagem por Sintra, nos anos 1930.