Jean Dujardin: "Estar a envelhecer traz situações muito cómicas" 

Estreia-se hoje a comédia de Laurent Tirard, O Quebra-Corações, feita à medida de Jean Dujardin. O DN falou com a star oscarizada, que percebeu que os melhores papéis estão no cinema francês depois de uma incursão nos EUA...
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Já passaram seis anos desde o jackpot de O Artista nos Óscares. Sem usar as suas cordas vocais, Jean Dujardin venceu todos os prémios de interpretação e tornou-se uma estrela à escala mundial. Muitos pensariam que poderia ser o passaporte para uma carreira de Holly-wood, mas não. Dujardin, vindo da comédia, preferiu ficar por França onde é provavelmente o ator mais bem pago logo a seguir a Dany Boon. Da América apenas aceitou The Monuments Men, de George Clooney, num papel secundário. O filme não correu muito bem e Dujardin percebeu logo que os melhores papéis continuavam no cinema francês.

Em O Quebra-Corações, comédia de Laurent Tirard, junta as suas duas especialidades: ser galã e destilar os seus genes cómicos. Um filme para levar muita gente ao cinema e que encena um género específico: a comédia romântica de época com a fórmula de equívoco. Dujardin encarna um oficial do exército francês em 1809 que, depois de partir para a frente de batalha, deixa a sua noiva de coração quebrado. Algum tempo depois, regressa e é montada uma farsa tendo como objetivo transformá-lo em herói, logo ele que era um desertor cobarde...

O conquistador de Dujardin foi visto pela imprensa francesa como uma variação clássica dos heróis garbosos de Belmondo. O ator não concorda exatamente: "Jean-Paul Belmondo é um modelo para qualquer ator mas, para mim, aqui, não o foi... Sabe, o que me inspira nele é o seu prazer em representar."

Um filme como O Quebra-Corações, passado no século XIX, não é propriamente um gesto de modernidade. Dujardin fala mesmo em recuperação de uma certa tradição francesa: "Este tipo de humor em O Quebra-Corações é algo que já não víamos há muito no nosso cinema. Se não há mais filmes destes é porque os investidores têm medo de arriscar, acham que as pessoas têm medo de ver estes filmes de época. O que digo é que eu, por exemplo, tenho muitas ganas de ver este tipo de cinema! Mas estes filmes, claro, são muito caros. No nosso caso, posso dizer que o resultado parece bem mais dispendioso do que o seu orçamento."

Parte do conceito do humor do filme passa precisamente pelo tipo de acting dos atores, em especial o de Jean Dujardin, o herói com lábia de conquistador. E o seu tom passa por muitos franzires de sobrancelhas, colocação de voz superior e uma inclinação robusta para o maneirismo mais cabotino (mas sempre assumido). Isso e jogar com o bigode vaidoso. Tudo um pouco a fazer lembrar o seu mecanismo da série OSS, onde a farsa era a formatação reinante.

Sobre o seu estatuto de vedeta do cinema francês, diz-nos que as coisas estão a mudar, mas sabe que o seu peso é um privilégio raro: "Um nome de um ator não serve para levar as pessoas ao cinema. Claro que há o caso do Dany Boon, que só por si arrasta metade da França aos cinemas. As coisas chegaram a este ponto porque as pessoas não se querem rever no ator, mas sim no próprio filme. As vedetas já não são assim tão necessárias. Sou, ainda assim, uma das poucas exceções: ainda consigo escolher os projetos que quero fazer."

Talvez por isso mesmo surja a questão se a crise da meia-idade é um isco irresistível: "Claro que é! Passa por aquela escolha entre ser um pai ideal e marido extremoso ou alguém ainda muito livre. Estar a envelhecer traz situações muito cómicas. Fiz Descaradamente Infiéis e o motor da narrativa era esse. Aí fazíamos uma charge moral muito forte aos homens", responde e confessa que acredita que a comédia é a opção que nos permite poder rir de tudo na vida.

Por fim, antes de entrar numa sessão de fotografia, diz-nos de peito aberto e com o seu sorriso de galã marca registada que, quando faz comédia, a prioridade é só uma: "Preocupo-me muito apenas com a situação. Não faço este cinema para mostrar que tenho piada, não... Fazer rir a qualquer preço não é para mim. Mesmo na minha vida privada não tenho vontade de provocar gargalhadas só por dá lá aquela palha. Agora a sério, fazer rir é uma coisa generosa e simpática, ok... mas no cinema o que me atrai é a situação. No humor interessam-me algumas situações. Muitas vezes, passa tudo por associações. Um tipo estar a comer e a chorar ao mesmo tempo pode ter um grande piadão!" Em O Quebra-Corações a piada pode estar na desmontagem do porte do macho francês...

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