Para rasgar o cinema português

As escolhas de Rui Pedro Tendinha para o LEFFEST
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Escolher filmes num festival de cinema não é propriamente estar à procura de uma agulha no palheiro. Os melhores festivais são aqueles que fazem que o espectador queira vender a alma ao diabo para poder multiplicar o seu tempo. As minhas escolhas no LEFFEST dividem-se entre a competição e o que está fora de competição, um notório best-of de festivais como Veneza, Berlim, Cannes, Toronto e Locarno. Sou precisamente fã cerrado da Palma de Ouro e do Urso de Ouro que vão ser exibidos: O Quadrado, de Ruben Östlund, sátira ácida que é uma fonte de prazer para o espectador, e Corpo e Alma, de Ildikó Enyedi, um monumento de perturbação romântica.

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Mas, depois, olho para o dementemente cruel I Love You, Daddy, do acossado Louis C.K., e lembro-me do contágio que as gargalhadas do público do Festival de Toronto provocaram em mim ou de como a precisão da escrita de Martin McDonagh em Três Cartazes à Beira da Estrada fez-me pensar que está aqui um dos grandes filmes do ano e ficar torcedor de Frances McDormand nos próximos Óscares.

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Na competição, impossível não recomendar a participação portuguesa, o avassalador Verão Danado, do estreante Pedro Cabeleira, cineasta de 24 anos que quis filmar a juventude que viveu quando veio estudar para a Escola de Cinema e encontrou uma Lisboa onde os putos mergulham em festas de "pastilhas" e consomem-se na perdição do som eletrónico. São imagens em transe para rasgar amarras com todas as outras famílias do cinema português. Ainda na competição, destaque para Chama--me pelo Teu Nome, de Luca Guadagnino, filme que a Sony adquiriu em Sundance e que é tão bom ou melhor do que todo o hype que reuniu até agora.

Golpes de coração? Tenho um e chama-se Um Desastre de Artista, obra que redime James Franco de todas as porcarias que tem feito como realizador. Para quem tem o tal pacto com o diabo relativo à multiplicação do tempo, por amor de Deus não perder o melhor filme alemão do ano, O Capitão, de Robert Schwentke, nem o milagre que é ver Gary Oldman a fazer de Churchill em A Hora Mais Negra, de Joe Wright.Quem quiser uma experiência tóxica, escolha evidente: ver em grande ecrã os dois primeiros episódios do novo Twin Peaks, de Lynch.

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