o que fazer a estas coleções de arte?
São mais mil obras de 280 artistas de 38 nacionalidades, e já foi considerada uma das 80 coleções empresariais mais importantes. A coleção de fotografia do Novo Banco (que já foi Bes) foi criada em 2004 e integra obras de artistas internacionais como Cindy Sherman e Gilbert & George ou portugueses como Helena Almeida, Jorge Molder ou Gérard Castello-Lopes. No entanto, desde que começou a crise do BES que uma das perguntas que tem sido feita no meio artístico é: o que é que vai acontecer a esta coleção?
Até agora ninguém sabe. No espaço expositivo do Novo Banco, no Marquês de Pombal, está neste momento a mostra Da fuga e do encontro: Inversões do Olhar, com curadoria de Sérgio Fazenda Rodrigues. "A exposição inaugurou em novembro e vai ficar até ao final do primeiro trimestre de 2017", esclarece ao DN Paulo Tomé, diretor de comunicação do Novo Banco. "A coleção está a ser bem cuidada. E está a ser exposta. Por isso estamos a fazer o nosso trabalho", garante. Quanto ao futuro, é impossível fazer especulações antes de se saber qualquer coisa sobre o próprio futuro do banco, mas Paulo Tomé está confiante: "Esta é uma coleção muito importante. E é um património importante para o Novo Banco."
As palavras tranquilizadoras poderão não ser suficientes quando todos sabemos quão volúvel pode ser a situação das coleções de arte dos bancos. O caso mais recente e mais falado foi o dos quadros de Miró - que estão neste momento expostos na Fundação de Serralves, no Porto, e que são apenas a face pública do espólio da Parvalorem e da Parups, sociedades de capitais públicos criadas para gerir os ativos e recuperar os créditos do ex-Banco Português de Negócios (BPN), nacionalizado em 2008. Trata-se de coleção de 175 obras de arte, reunida pelo ex-BPN, avaliada em três milhões de euros. No total, são 40 trabalhos de 28 artistas estrangeiros e 135 obras de 84 artistas portugueses, como Júlio Pomar, Paula Rego, Maria Helena Vieira da Silva, Mário Cesariny ou Julião Sarmento, entre outros. O governo conseguiu salvar os 80 quadros de Miró mas não terá muita margem de manobra para agir em relação ao resto da coleção, que irá ser vendida em leilão. O DN tentou perceber se o Ministério da Cultura está a acompanhar estes casos mas não obteve qualquer resposta do gabinete de Luís Filipe Castro Mendes.
E há ainda o caso da Fundação Ellipse. Criada em 2004, pela Holma - Serviços de Consultoria, e com uma dotação de 20 milhões de euros, a Ellipse tinha como objetivo a "criação e manutenção de uma coleção de arte em representação dos clientes do grupo Banco Privado Português (BPP)". Em 2006, a Ellipse inaugurou o Centro de Arte Moderna, em Alcoitão, que deveria ser um grande centro cultural, com exposições, conferências e residências artísticas, mas que, afinal, neste momento é apenas um armazém onde, desde a última exposição (2011), se encontram armazenadas as quase 800 peças da Ellipse, incluindo obras de João Onofre, Stan Douglas, Vasco Araújo, Wolfgang Tillmans, Julião Sarmento, Douglas Gordon ou José Pedro Croft. Estão fechadas, arrumadas, à espera que a liquidação seja concluída para que, muito provavelmente, se possa realizar um leilão.
Num país onde a cultura continua a valer 0,1% do Orçamento do Estado - muito menos do que os desejados 1% que o setor reclama constantemente - e em que o investimento privado no setor continua muito aquém do que acontece noutros países e do que seria desejável, os bancos apareceram, nas últimas décadas, como verdadeiros salvadores, investindo em coleções de artes (e comprando obras de artistas portugueses), criando prémios e até inaugurando galerias. Mas vendo o que aconteceu noutros casos, a preocupação com a coleção Novo Banco é tudo menos infundada. Na inauguração da exposição Joan Miró: Materialidade e Metamorfose, na Casa de Serralves, o primeiro-ministro, António Costa, afirmou: "Com esta coleção ficámos a saber que os bancos, por muito valiosos que sejam, podem ir-se, mas há algo que fica e que é permanente e de um valor intangível." Esse algo, que é a arte, até pode permanecer. Mas permanece onde, em que condições e a que custo?