O adeus dos One Direction: chamar os 'boys' pelos nomes
Muito mais uma estratégia da indústria, velhinha de meio século, do que um acontecimento artístico ou uma convergência de talentos, as boy bands já existiam muito antes da expressão ter sido criada para designar os agregados de adolescentes ou jovens machos, candidatos a famas e proveitos, tantas vezes escolhidos pelo palminho de cara ou pelo jogo de cintura, deixando os méritos musicais para um papel acessório. Passam agora 50 anos sobre o concretizar de uma aposta do realizador Bob Rafelson (O Carteiro Toca sempre Duas Vezes, A Viúva Negra), que se propôs explorar a crescente popularidade da TV junto dos mais novos, concebendo uma série que girasse em torno de um grupo musical. Assim nasceram os The Monkees, com um elemento escolhido por Rafelson e associados (Davy Jones) e com outros três selecionados através de audições, 437 se as memórias registadas estiverem certas.
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Alguns dos pressupostos que definiriam mais tarde o conceito de boy band ficavam definidos desde logo: a preocupação com o aspeto visual, roupas e penteados na primeira linha, apontava diretamente ao segmento adolescente do público feminino. Os Monkees não compunham as canções que lhes valiam de cartões-de-visita, não tocavam instrumentos e, nalgumas situações, chegou a duvidar-se se realmente cantariam. Ainda hoje, com honrosas exceções, a maioria dos grupos que se acotovelam nesta área particular da pop segue os mesmos pressupostos, aprimorando-se a primazia do portfolio fotográfico sobre o registo vocal, do jeitinho para a coreografia sobre qualquer espécie de mensagem.
Fica, desde já, explicado que não vale a pena chorar sobre o leite derramado pelo "hiato" na vida dos One Direction, decidido poucos meses depois da partida de um dos integrantes. As boy bands nascem com um tempo de vida limitado porque pouco mais há a uni-las do que as receitas conseguidas com discos e espetáculos, bem como a intensidade das paixões que pro-vocam nas suas leais seguidoras. Quando estas crescem ou quando descobrem outro destino para os respetivos afetos, fica esgotada a razão de ser daquilo que, mais do que um grupo, foi sempre uma reunião de circunstância. Não há, insiste-se, motivos para preocupação ou desgosto sério: por cada banda destas que morre, outra se levantará. Ainda por cima, sobram os dedos de uma mão para enumerar os conjuntos "de laboratório" que deixaram herança musical, que fixaram memórias, e não apenas algumas vagas lembranças.
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Voltamos ao passado. Ultrapassada a fase em que os grandes dinamizadores da "veia artística" dos moços eram os próprios pais ou encarregados de educação, aproveitando os tempos livres (ou mesmo privilegiando os ensaios e digressões face a aulas e estudos) e as dinâmicas caseiras - responsáveis pela criação e explosão de bandas familiares, como os Jackson 5 e os Osmonds, ainda colocados entre os mais rentáveis grupos "do setor" -, as bandas de rapazes conheceram a mais perfeita das suas "traduções", curiosamente montada fora dos circuitos anglo-americanos. Fundados em Porto Rico pelo produtor Edgardo Diaz, os Menudo conseguiram impor a marca sobre o indivíduo. Por outras palavras, depois de um quinteto inicial (1977-1979), os seus elementos passaram explicitamente a confrontar-se com um "prazo de validade": enquanto ficassem bem no retrato infanto-juvenil, ficavam; quando a barba, o bigode ou outras maturações não capilares ganhassem peso, acabavam rapidamente substituídos, em benefício do "carimbo". De 1979 a 1997, e depois no período de ressurreição 2007-2009, foram nada menos do que 35 os jovens recolhidos pelo mesmo coletivo. Entre eles, até andou um tal Ricky Martin...
Os Menudo (Ricky Martin canta Rayo de Luna)
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One Direction
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Veja o reencontro dos Jackson 5 em 1983, seguida de atuação de Michael Jackson
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