Heavy Metal, a grande família que vive feliz fora dos grandes festivais de verão
Slayer, Anthrax, Suicidal Tendencies, Sepultura, Hatebreed, Ratos de Porão, Mastodon, Soen, Arch Enemy, Soulfly... Muitas das maiores bandas de metal do mundo visitam Portugal nos próximos meses, uma lista de concertos que arranca já hoje com os Slayer no Coliseu de Lisboa e se prolonga até ao início do próximo ano, com o ultra mediático e quase imediatamente esgotado concerto dos Metallica na Meo Arena. Mas em altura de festivais de verão, porque está este género musical praticamente excluído dos maiores cartazes? São as grandes produtoras que não apostam no metal ou são as bandas de metal que fogem dos eventos mais populares?
"O Super Bock até traz os Deftones. Agora, os Iron Maiden e os Metallica, por exemplo, decidiram andar em digressão em nome próprio, não querem dividir palcos, querem ter os seus próprios cenários. Assim garantem concertos todos os dias, enquanto os festivais são só aos fins de semana", explica Luís Montez, detentor da Música no Coração, produtora que organiza concertos e festivais como o Super Bock Super Rock.
"É um bocado das duas coisas", responde por seu lado Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, uma das bandas portuguesas com maior implantação no estrangeiro e que já tocou em alguns dos principais festivais internacionais. "O dia do metal nos maiores festivais nunca foi suficiente, mas pelo menos era alguma coisa, em que havia boas condições e a preocupação de trazer boas bandas, em que os metaleiros se juntavam. Depois houve um virar de costas, é nitidamente uma estratégia, não sei se por terem um excesso de bandas de indie pop nos cartazes, não deixando espaço para outras."
Já o empresário Luís Montez garante: "Em relação a nós não há preconceito nenhum, quem me dera que os Metallica ou os Iron Maiden quisessem vir". Uma ideia reforçada ao DN por Álvaro Covões, responsável, por exemplo, pelo NOS Alive. "Nós já tivemos os Metallica e não me importava nada de os receber outra vez", garante o diretor da Everything Is New. "Acho que a questão tem mais a ver com o plano de trabalho das bandas de metal, que planeiam as tournées com datas que não coincidem com os grandes festivais, e com o surgimento de festivais exclusivamente dedicados ao heavy metal".
Fernando Ribeiro pega precisamente neste ponto para defender que o metal também fez o que tinha a fazer, percorreu o seu próprio caminho. "Temos festivais que devem ser aplaudidos, como o Vagos Metal Fest, o VOA, o Barroselas, etc. O que as bandas nacionais têm mesmo de fazer é apostar nestes festivais, têm de se juntar. Houve alturas em que achava que havia espaço para todos, mas já perdi essas ilusões depois de ver como bandas com a projeção internacional dos Moonspell são tratadas". E o músico recorre a uma metáfora. "Não vamos num iate com problemas e mal servidos, vamos num barco pequeno mas a festejar com os nossos amigos. E o metal, aquilo que alguns acham que é um nicho, é na verdade muito grande. Não devemos olhar para cima mas sim para o lado".
Viagem pela carreira dos Slayer
Quem não se importará com esta divisão de águas são os metaleiros, que têm cada vez mais festivais especializados e serão presenteados na segunda metade do ano com uma verdadeira enxurrada de concertos de bandas míticas. Desde logo com a presença de dois dos big four do thrash no espaço de apenas um mês: Slayer e Anthrax.
A banda de Tom Araya e Kerry King - agora completada com o guitarrista Gary Holt e o baterista Paul Bostaph, após a morte de Jeff Hanneman e da saída de Dave Lombardo - apresenta-se já hoje em Lisboa. E, olhando para o alinhamento em festivais como o Primavera Sound de Barcelona, no dia 1, os Slayer vão fazer uma viagem por 23 anos de álbuns, não se focando apenas na promoção de Repentless, lançado há dois anos.