Era este o verdadeiro rosto de Shakespeare?
The Herball or Generall Historie of Plantes (1598), de John Gerard, nome fundamental da botânica, é o livro que pode conter o único retrato feito em vida do dramaturgo britânico William Shakespeare. É um homem de barba, que usa toga e porta uma coroa de louro. A descoberta e respetiva tese são do historiador e botânico Mark Griffith, que se deparou com o possível rosto jovem de Shakespeare - Griffith estima que este teria 33 anos - quando estudava as 1 484 páginas do livro com mais de 400 anos.
Os símbolos que fazem parte do retrato, flores e outros motivos heráldicos serão referências à identidade de Shakespeare e dos restantes representados, alega Griffith. O dramaturgo seria, então, um dos quatro representados na gravura de William Rogers que figura na primeira página da primeira edição da obra de John Gerard (uma edição limitada de apenas dez exemplares), com o tesoureiro-mor da rainha Isabel I, Lord Burghley, o próprio Gerard e o botânico flamengo Rembert Dodoens.
A descoberta será publicada na revista Country Life esta quarta-feira , publicação com que Griffith colabora regularmente. Mark Hedges, o editor, classificou-a como "a descoberta literária do século" e, seguro, afirma: "Este é o único retrato verificável do maior escritor do mundo em vida."
A "cifra engenhosa", como Griffith classifica as pistas que o levam a afirmar que se tratará de Shakespeare, segundo a imprensa britânica - "Não é uma suposição que se trata de Shakespeare, é álgebra" cita o Telegraph -, é composta, por exemplo, do facto de o número 4 e a letra E formarem quatere em latim, que significa abanar, shake em inglês. Ou porque lança - como a que figura na gravura - é spear em inglês, assim como aquela letra W pode ser de William, ou, outro exemplo, a presença de OR, fórmula heráldica que representa ouro e que remete para o brasão de família do dramaturgo inglês. Outra das pistas apontadas por Griffith é a espiga de milho e a fritilária, que indiciariam a peça Titus Andronicus e o poema Venus and Adonis.
Edward Wilson, do Colégio Worcester, Oxford, confirma a tese de Griffith: "É absolutamente seguro, é sensacional." Wilson afirmou à BBC que terá passado cinco anos com Griffith a consultar especialistas em Shakespeare e língua latina até trazerem a descoberta a público.
O diretor do Shakespeare Institute na Universidade de Birmingham, Michael Dobson, por sua vez, diz-se "profundamente descrente na teoria" de Griffith. "Aparentemente ninguém esteve apto para decifrar isto durante 400 anos", diz o professor. "E não há provas de que alguém pensasse que este é Shakespeare na altura", remata.