Emoji: a vida dentro de um smartphone
A palavra resulta da combinação de dois termos japoneses: e (imagem) e moji (letra). Hoje em dia já mal se consegue terminar um parágrafo num chat ou numa sms sem recorrer a esses bonequinhos, geralmente de cor amarela, que crescem a olhos vistos, em diversidade, nas caixas de texto. É só escolher e usar. Tornaram-se a forma mais económica e divertida de expressar emoções e humores neste nosso frenético quotidiano, pouco dado ao emprego de muitos caracteres. Ora a conquista que começou na linguagem digital estende-se agora ao grande ecrã, para satisfação dos mais novos. Emoji: O Filme, com assinatura de Tony Leondis, chegou ontem às salas portuguesas em 3D e versão dobrada (com as vozes de Vasco Palmeirim e César Mourão). E embora esteja pronto a oferecer smiles, a verdade é que não vai muito além do meh...
Justamente, a história anda à volta de um emoji, Gene, filho de dois bonecos com a função meh (apatia), que para desassossego dos pais não consegue controlar a versatilidade que tem dentro dele. Dito de outra forma: não sai aos seus. Logo no primeiro dia em que será testado o seu uso numa sms, falha redondamente na expressão para a qual se destinava e passa a ser perseguido pelos antivírus, por ser considerado uma anomalia. A sua odisseia na Textopolis - a cidade no interior de um smartphone - começa aqui, numa fuga colorida e fantástica na companhia de uma obsoleta mão Hi-5... É o chamado "dar uma mãozinha". Pelo caminho, cruza-se com uma pequena pirata que o vai ajudar a livrar-se dos corpulentos agentes digitais. Porque, acima de tudo e de todos, ele quer ser aceite tal e qual como é. Eis a mensagem que Emoji: O Filme tem para passar.
Uma versão pobre de Divertida-Mente
Se por este resumo dos acontecimentos ainda não são notórias as semelhanças narrativas com o aclamado Divertida-Mente (2015), da Disney, é porque este pobrezinho produto da Sony Animation não tem um terço da imaginação do primeiro. Mas, para todos os efeitos, a base é a mesma: se em Divertida-Mente se exploravam as emoções dentro da cabeça de uma menina, mostrando como estas moldavam as suas atitudes, desta vez é a vida dos emojis dentro do smartphone de um rapaz que lança a possibilidade da aventura. Uma diversão que nunca consegue alcançar humor satisfatório - e muito menos inteligente - ou sequer trazer o mínimo comentário sobre o modo como estes "invasores" da linguagem alteraram a comunicação, desde logo, dos jovens. Até porque, não se tratando de um filme exclusivamente infantil (daí que fizesse sentido termos também a versão original distribuída por cá), teria algo mais a explorar fora da atmosfera de um smartphone.
Em vez disso, é claramente identificável uma dimensão comercial neste Emoji: O Filme. Um disfarçado incitamento ao uso, cada vez mais precoce, do aparelho onde vivem os amorosos bonecos. E se podemos recorrer ao argumento de dizer que são apenas desenhos animados para entreter os miúdos, já se sabe que a vulnerabilidade deles é a grande porta aberta para este tipo de animações, aparentemente inofensivas. De resto, vale a pena referir que a crítica internacional não poupou na má adjetivação do filme, que teve 0% de avaliação no Rotten Tomatoes aquando da estreia nos Estados Unidos. Também nesse sentido, é um fenómeno. Mas, para lá de tudo, não restam dúvidas de que vai chamar muitas famílias às salas.
A sessão abre com uma curta-metragem (5 min.) da saga Hotel Transylvania, de Genddy Tartakovsky, onde surge uma nova personagem: um cão gigante com tendência para fazer asneiras do seu tamanho na hospedaria do avô Dracula... Chama-se Cãozinho e é apenas um aperitivo, enquanto não chega o capítulo número três de Hotel Transylvania, previsto para 2018. Por agora, há agitação suficiente dentro de um smartphone. Nada a fazer, é o ar dos tempos.