Dom Quixote de Terry Gilliam foi mesmo visto em Cannes
O novo filme de Terry Gilliam, O Homem que Matou Dom Quixote, não ficará, por certo, como um dos momentos mais felizes da sua obra. Infelizmente, a saga do herói de Cervantes, recriada no presente através de um ator acidental (sapateiro de profissão) que acredita ser Dom Quixote, é um espetáculo longo e desconexo, com alguns momentos visuais exuberantes, mas carente de energia espetacular.
Para a história, fica o diferendo que opôs Terry Gilliam a Paulo Branco. Em causa estavam (e estão) direitos sobre o filme, com o produtor português, inicialmente ligado ao projeto, a interpor uma ação legal no sentido de bloquear a sua projeção na Cote d"Azur. A lei francesa repudiou tal hipótese, autorizando a apresentação do filme (extra-concurso), embora considerando necessário dar conta do processo em curso. Assim se fez: um cartão de abertura lembrou que os eventuais direitos de Branco e da Alfama Films continuam a ser dirimidos nas instancias legais.
Para além do prestígio de Gilliam, ainda e sempre ligado aos tempos heroicos dos Monty Python, O Homem que Matou Dom Quixote terá sido escolhido para passar em Cannes como símbolo de um cinema que aposta na grandiosidade dos meios. Mais do que isso: estamos perante um exemplo de produção europeia (com uma parte significativa rodada no Convento de Cristo, em Tomar) apostada num registo tradicionalmente dominado por Hollywood. Recorde-se que, na sua evolução, o projeto acabou por resultar da aliança de entidades de Reino Unido, Espanha, Franca e Portugal (através da Ukbar Filmes, de Pandora da Cunha Telles).