Diretor do MNAA: "Estava a falar num contexto de sala de aula"
António Filipe Pimentel, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, esclarece as suas declarações na Escola de Quadros do CDS. O gabinete do Ministro diz desconhecer "qualquer ocorrência concreta que possa ter provocado este sinal de alarme"
"São 64 pessoas para 82 salas abertas ao público. De certeza absoluta que um destes dias há uma calamidade no museu. Só pode, porque andamos a brincar ao património. Mas a esta altura todas as tutelas dispõem de toda a informação cabal do que vai acontecer, mas quando acontecer, abre os telejornais", disse António Filipe Pimentel esta manhã numa das sessões da Escola de Quadros do CDS, que decorre em Peniche.
Confrontado pelo DN esclarece que o fez "em contexto de sala de aula", sem saber que estavam jornalistas presentes na sala, respondendo a questões sobre o estatuto do museu.
As frases de Pimentel não caíram bem e o diretor do MNAA sabe-o. "Está a irritar o Governo que está a fazer o seu trabalho, quando o ministro já fez declarações públicas sobre o futuro do museu", disse, acrescentando: "O ministro [Luís Filipe Castro Mendes] e a sua equipa estão a trabalhar bem".
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No início do verão, após a aquisição da tela A Adoração dos Magos, de Domingos Sequeira, numa ação em que o MNAA contou com a colaboração da sociedade civil, Castro Mendes anunciou que o Governo ia avançar com um novo modelo de financiamento dos museus nacionais e que o MNAA seria o pioneiro desta gestão mais autónoma. "Esse trabalho está a ser feito, não me posso rigorosamente queixar de nada", diz.
"É desnecessário fazer pensar que quero incendiar o paiol, porque não quero", afiança, em declarações ao DN. "A única coisa que alertei é que o museu está no limite da subsistência", continua, sobre a sua intervenção na Escola de Quadros do CDS, facto que já estava na mira do anterior governo, faz questão de recordar. "Há um consenso alargado sobre o MNAA que o próprio programa da PàF [coligação Portugal à Frente, do PSD e do CDS] previa isso", refere.
É desnecessário fazer pensar que quero incendiar o paiol, porque não quero
As suas declarações são lidas como mais polémicas, uma vez que saíram de um encontro de jovens do CDS. "Vindo do CDS parece uma denúncia, uma arma de arremesso". Ao mesmo tempo garante que aceitou o convite no quadro de um debate sobre cultura, ao lado de Pedro Mexia, assessor do Presidente da República para a área da Cultura, sem qualquer intenção de ficar conotado com o partido liderado por Assunção Cristas. E, lembra, a socialista Maria de Lurdes Rodrigues também está entre os palestrantes. "Não sou nem nunca fui do CDS, a ideia é, aliás, trazer pessoas de outros quadrantes, confrontá-los - esse foi o espírito que me foi transmitido".
Quanto à situação do museu, "não é mais do que o fruto de desnutrição que vem de longíssimo, explica. O MNAA é um dos museus portugueses mais visitados. No primeiro semestre de 2016, registou quase 104 mil entradas, mais 22 mil do que no anterior.
Pimentel disse ao DN que faz questão "justificar" a situação ao ministro da Cultura, o que ainda não tinha acontecido às 16.30. "Está em trabalho, falei com ele mais tarde, faço questão de dar uma palavra". Luís Filipe Castro Mendes está numa visita oficial ao Museu do Douro e Casa da Música.
Ao DN o gabinete do Ministro da Cultura diz desconhecer "qualquer ocorrência concreta que possa ter provocado este sinal de alarme que perpassa nas declarações proferidas hoje pelo diretor do MNAA, pelo que caberá ao Dr. António Filipe Pimentel contextualizar e concretizar as suas afirmações".
Segundo a mesma fonte, "o Ministério da Cultura é sensível às dificuldades que muitos serviços enfrentam com a carência de recursos humanos e está desde o primeiro dia a trabalhar diretamente com as instituições que tutela para encontrar as soluções mais adequadas".
"Trata-se de um assunto que não é de agora, nem surgiu de repente, e que é transversal a toda a administração pública, designadamente em áreas que revestem contornos mais sensíveis porque têm uma maior exposição que deriva do contato direto com o público", considera ainda.