Cinema e turismo querem atrair produções mundiais

Cinema internacional é visto como ferramenta para impulsionar o turismo em zonas de Portugal menos visitadas

Bollywood filma histórias de amor no Porto. Jeremy Irons e Une Famille Formidable passeiam-se pelas ruas de Lisboa. Benoît Jacques dirige Até nunca mais em Faro. Produções internacionais que vieram para Portugal com o apoio das Film Commissions (FC), estruturas que têm nascido pelo país para promover o cinema e com ele o turismo, ainda há dias chegaram do Festival de Cannes. A partir deste ano contam com um apoio financeiro às produções e vai ser criada uma Film Commission nacional.

Existe uma dezena de Film Commissions no país, incluindo as ilhas. A primeira foi a do Algarve, criada em Faro em 2006. "Fomos os precursores do movimento. Tivemos desde sempre um bom relacionamento institucional com o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) e em 2007 começámos a sensibilizar o Parlamento e o governo para a criação de incentivos fiscais, chegando a fazer uma proposta de lei." Paralelamente, "criámos uma dinâmica ligada às atividades criativas na região, nomeadamente ações de formação", explica Eduardo Pinto, da Algarve Film Commission. Considera que a criação do Fundo de Apoio ao Turismo, Cinema e Audiovisual "é o elemento que faltava para tornar Portugal um destino mais competitivo para a captação de filmagens". Perceberam isso na primeira reunião com a associação norte-americanas do setor, em Los Angeles.

São uma organização sem fins lucrativos, como parte das FC. Têm 16 longas-metragens rodadas no Algarve, entre as mais recentes, 522. Un Gato, Un Chino y Mi Padre, de Paco R. Baños (2018); Leviano, de Justin Amorim (2018), a partir de 5 julho na cinemas; Exposure, de Kristjan Knigge (2017); À jamais (Até nunca mais), de Benoît Jacquot (2016); Além de Ti, de João Marco (2012). Filmes que demonstram que as FC não captam apenas produtoras estrangeiras mas também nacionais. Visam filmes, animação e documentários. E não se limitam a mostrar o potencial do país para a realização cinematográfica.

"A FC tem de ser um facilitador, é aquele organismo que está entre a produção e as estruturas locais. Um dos problemas é a excessiva burocratização para as necessidades de uma produção. O nosso papel é cumprir os requisitos exigidos o mais rapidamente possível, o tempo é uma das coisas mais caras da produção cinematográfica. Não basta apresentar uma panóplia de locais bonitos e dizer que temos 300 dias de sol por ano, é preciso criar condições para as exigência das produtoras", defende Bruno Manique, o presidente da direção da Centro Portugal Film Commission (CPFC).

Quer dizer que não só apresentam os locais e os edifícios mais adequados a um argumento, como podem tratar das licenças para as filmagens, encontrar os figurinos e os décors, apresentar os técnicos que poderão participar na produção. E isso na região centro passa por sensibilizar os municípios, ao todo cem, distribuídos por seis distritos, e com 602 potenciais locais para filmagens, ilustrativos da grande diversidade geográfica e patrimonial deste zona do país.

Turismo e cinema de mão dada

"Com a divulgação dos locais de interesse cultural, paisagístico, arquitetónico e turístico, procuraremos captar para a região benefícios económicos, sociais e culturais, que satisfaçam as exigências dos potenciais interessados." É o objetivo da CPFC, uma organização sem fins lucrativos que desde o primeiro momento - 2016 - se aliou ao Turismo Centro Portugal, cujo presidente, Pedro Machado, é vice--presidente da comissão. "Tínhamos um conjunto avulso de organismos que promoviam festivais de cinema e não havia um elo de ligação. A CPFC nasce, por um lado, da necessidade de ter esse instrumento agregador. Por outro, temos recursos naturais, geográficos e patrimoniais que nos permitem estar bem colocados seja para a realização de filmes no território seja na captação das grandes produtoras. Queremos posicionar a região e torná-la competitiva, aproveitando a notoriedade de Portugal no estrangeiro."

Os festivais internacionais de que fala são os de Seia, Figueira da Foz, Aveiro e Coimbra. E, a partir deste ano, o Festival Art & Tur, que se mudou para Leiria.

O Turismo Centro Portugal é o parceiro para atrair as atenções para a região, limitando-se o apoio financeiro à quota anual de 500 euros, o que pagam os municípios associados ao projeto, cinco até ao momento. Têm contactado os estabelecimentos de ensino, como a Universidade da Beira Interior, e que podem contribuir com equipamento técnico e profissional. A Centro Portugal Fim Commission espera a promulgação do decreto-lei da criação do fundo para tornar real os projetos em carteira.

Bruno Manique, que entrou no filme Por onde Escapam as Palavras e é diretor de comunicação do Figueira Film Art, além de presidir à FC, revela que existem produtoras portuguesas e estrangeiras interessadas. Entre estas, uma produção luso-espanhola que envolve o México; a Netflix está interessada numa série televisiva.

Autarquias como promotoras

As câmaras municipais do Porto e de Lisboa criaram as suas próprias estruturas. Cristina Matos Silva é a comissária da Lisboa Film Commission, criada em 2012, sucedendo ao gabinete de apoio ao cinema da autarquia. "Houve sempre apoio financeiro, não havia era uma estrutura, a partir de 2012 é que surge a vontade política e cultural para criar uma comissão que agilizasse todos os procedimentos. O incentivo do governo foi criado na hora certa." Através da estrutura é possível obter uma licença para filmagens em três dias; saber o que é preciso fazer quando se filma um bairro.

A Lisboa Film Commission apoia produções cinematográficas, mas também publicitárias. É a capital do país e Portugal está na moda, tendo recebido 700 pedidos para filmagens no ano passado, mais 22 % do que em 2013, dos quais 24 % para mercados estrangeiros.

Os pedidos concretizados significaram seis filmagens por dia, 265 mil euros de apoio não financeiro municipal (isenção de taxas e preços para filmagens), 486 mil euros de receitas de taxas municipais de filmagens, dez milhões de euros gastos pelas produtoras (só na atividade cinematográfica). Santa Maria Maior, Misericórdia, Parque das Nações, Estrela, Santo António, Arroios e Avenidas Novas são as freguesias mais procuradas. Entre as produções estrangeiras destacam o filme Comboio Noturno para Lisboa, com Jeremy Irons, ou a comédia Une Famille Formidable, para a televisão francesa. Além de muitos títulos de realizadores portugueses, como O Fim da Inocência, de Joaquim Leitão, e São Jorge, de Marco Martins.

A Porto Film Commission tem uma atuação idêntica, "facilitando a realização das produções audiovisuais com a sua intervenção". Entre as longas-metragens, destacam My Story, Bad Investigate, NBK 101 e Entre Sombras.

Apoios

Dez milhões de euros
Fundo de Apoio ao Turismo, Cinema e Audiovisual para 2018; 12 milhões nos anos seguintes. É gerido pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual e Turismo de Portugal.

Projetos
Ficção e animação num mínimo de 500 mil euros: documentários e pós-produção num mínimo de 250 mil. Regra geral, o máximo a receber por projeto é quatro milhões de euros.

Cash rebate
Pagamento adiantado e faseado, entre 25 % e 30 % das despesas elegíveis.

Admissão

Destina-se a produções nacionais e estrangeiras. Estas têm de ter um produtor local, abrir uma sucursal ou uma sociedade por tempo limitado em Portugal.

Requisitos
Teste cultural, ou seja, ver se o argumento vai mostrar o país e se utiliza equipas técnicas locais.

Acompanhamento
Grupo de trabalho interministerial para implementar a medida PIC Portugal e criar uma Film Commission nacional.

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