As sardinhas estão de volta a Lisboa
Uma "lata ensardinhada", uma fanfarra, duas comadres a estender roupa à janela, um "mergulhador apaixonado" e um conjunto de "mulheres lisboetas" unidas num abraço - assim são as cinco sardinhas premiadas nas Festas de Lisboa deste ano. Nesta sétima edição, o Concurso Sardinhas recebeu 5168 propostas, oriundas de 60 países (do Afeganistão ao Canadá e até Singapura). O júri constituído pela jornalista Joana Stichini Vilela, o apresentador Fernando Alvim e o designer (e "pai" das sardinhas) Jorge Silva elegeu as cinco sardinhas vencedoras e, dada a qualidade dos trabalhos apresentados, ainda decidiu atribuir quatro menções honrosas.
Entre os vencedores há três portuguesas: Ana Melo, de 25 anos, desenhou A Fanfarra; Joana Não, de 28 anos, apresentou a Lata Ensardinhada (numa referências às conhecidas conservas); e Patrícia Penedo, de 21 anos, venceu com Comadres, uma sardinha que, segundo a autora, "ilustra a boa disposição, o convívio e a cusquice das vizinhas". Há ainda dois vencedores estrangeiros: o espanhol Antonio Araguez, de 62 anos, que apresentou o Mergulhador Apaixonado, a partir das lendas sobre mergulhadores encantados por sereias mas que, nesta versão, se apaixonam por sardinhas; e o holandês Miguel Angel Camprubi, de 21 anos, que ganhou com Mulheres Lisboetas, uma ilustração cujo conceito vem do fado, explica.
No ano em que Lisboa é Capital Ibero-americana da Cultura, a programação das Festas de Lisboa, hoje anunciada, confunde-se com a programação da capital e propõe uma viagem entre os três continentes, a partir de Lisboa com destino a África e à América Latina. "Atentos à diversidade do universo latino-americano e das diásporas que residem em Lisboa, apresentamos uma programação multidisciplinar e democrática, que potencia as novas centralidades de Lisboa", explica a Egeac no seu programa.
Exemplo disso é o Concerto de Aranjuez, logo no dia 3 de junho, oportunidade rara para ver e ouvir a Orquestra Gulbenkian num concerto de entrada livre na Praça do Comércio. O Concerto de Aranjuez é uma obra para violão clássico e orquestra composta em 1939 pelo espanhol Joaquín Rodrigo. Para a sua apresentação, a Orquestra Gulbenkian, sob direção de Rui Pinheiro, irá contar com o solista o espanhol Pablo Sáins Villegas, na guitarra. O repertório do espetáculo inclui ainda outras obras de compositores latino-americanos, como Arturo Márquez e Silvestre Revueltas e contará com a participação da soprano Eduardo Melo que interpretará uma das Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos.
Ao longo do mês, outros concertos vão insistir nesta mistura de géneros e de línguas. Assim, o Castelo de São Jorge recebe o "Fado no Castelo": no dia 8 de junho, o espetáculo "Fado es Volver" junta o fado de Ana Sofia Varela com o flamenco trazido pela harmónica do espanhol Antonio Serrano, e mais uma série de músicos de ambos os lados da fronteira; no dia seguinte, "Um Choro de Fado" traz para o mesmo palco o fadista Marco Rodrigues com o seu trio habitual de músicos e um trio de chorinho liderado pelo bandolineiro brasileiro Edu Miranda; e no dia 10, feriado nacional, o espetáculo "El Gordo Triste" provoca os diálogos entre o fado de Ricardo Ribeiro e o tango do argentino Daniel Schvetz.
Na mesma linha, o ciclo "Soy Loco por Ti, America", que se realiza nos dias 15 a 18 de junho no Jardim do Palácio Pimenta - Museu de Lisboa, inspira-se na canção popularizada por Caetano Veloso (de autoria de Gilbero Gil e José Carlos Capinam) em 1968 e é um exercício de tropicalismo em pleno ano de 2017: aqui se juntam a música e a literatura, de vários países e com vários sotaques. O programa é extenso mas é justo destacar os concertos da cantora peruana Susana Baca (dia 15), da cubana Yilian Canizares (dia 16), da argentina Adriana Varela (dia 17) e do brasileiro Chico César (dia 18).
No encerramento das Festas de Lisboa, a 1 de julho, a Egeac convida toda a cidade para um baile à beira rio, na Praça do Comércio, com as atuações de dois grupos históricos: os cubanos Los Van Van e os franceses Gipsy Kings.
Para além dos concertos, as Festas de Lisboa, que, mais uma vez, contam as ilustrações inconfundíveis de Nuno Saraiva, têm os eventos habituais ligados à tradição das festas de Santo António. Assim, ao longo de todo o mês haverá arraiais em várias freguesias, o concurso das Marchas Populares que vão desfilar na avenida da Liberdade na noite de 12 de junho, depois de nesse dia se terem realizado os casamentos de Santo António.
A programação em torno do padroeiro da cidade é igualmente extensa. Este ano, Lisboa recebe o colóquio internacional "A devoção a Santo António em Portugal e no Brasil", de 31 de maio a 2 de junho, no auditório da UCCLA, que conta com a participação de especialistas como Paulo Mendes Pinto e Aurélio Rosa Lopes. No primeiro dia de junho, na Igreja de Santo António, Luísa Amaro e Vítor de Sousa são os responsáveis pelo primeiro recital da "Trezena a Santo António" (todos os dias, até dia 12, pelas 19.00). No primeiro fim de semana do mês, os Tronos de santo António estarão em exposição pela cidade.
Veja AQUI a programação completa das Festas de Lisboa.