Bowie, "uma espécie de Messias" que "será sempre inspiração"
O cantor britânico David Bowie morreu, aos 69 anos, após uma batalha de 18 meses contra o cancro.
Na conta oficial do Twitter de David Bowie, a última entrada, colocada já nesta segunda-feira, remete para um post no Facebook que refere que o músico "morreu pacificamente e rodeado da sua família, após uma corajosa batalha de 18 meses contra um cancro".
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"Enquanto muitos de vocês vão partilhar esta perda, pedimos que respeitem a privacidade da família neste momento de dor", pode ler-se.
David Bowie lançou na sexta-feira, 8 de janeiro, dia do seu 69.º aniversário, o álbum Blackstar, o 25.º da carreira, onde se apresenta como um 'rocker' ainda apostado em surpreender, ao enveredar por alguma experimentação jazz.
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O filho de Bowie, o realizador Duncan Jones, confirmou no Twitter a notícia da morte do cantor: "Lamento dizer que é verdade. Estarei 'offline' por algum tempo", escreveu, partilhando uma imagem da infância com o pai.
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Há apenas três dias, e coincidindo com o lançamento de Blackstar, Bowie divulgou oficialmente o videoclip de um tema do seu novo álbum. O nome da canção é Lazarus, a personagem bíblica Lázaro, que se ergue dos mortos. Talvez já devido à doença, este foi o primeiro álbum do músico, desde a sua estreia em nome próprio - há 49 anos - em que Bowie não aparecia na capa. Sem dar entrevistas nem concertos (o último tinha sido em 2006), vivia numa reclusão autoimposta, tendo sido mesmo o ator Michael C, Hall quem interpretou recentemente Lazarus no programa The Late Show with Stephen Colbert.
"Olha para mim, estou no céu / Tenho cicatrizes que não podem ser vistas / Olha para mim, estou em perigo / Já não tenho nada a perder.", cantou Bowie em Lazarus - deitado numa cama de hospital.
Multiplicam-se, em Portugal e no mundo, as reações à morte de David Bowie
Zé Pedro afirmou esta manhã ao DN que "Bowie é das figuras mais importantes da música contemporânea, era uma pessoa altamente inovadora em todos os aspetos." O músico recorda ter começado a ouvir o autor de Heroes na fase "da personagem incrível que era Ziggy Stardust, que para mim era fascinante".
"Era uma figura ímpar, carismática, e todos os adjetivos positivos que conseguirmos encontrar em relação ao trabalho do Bowie..." Um dos concertos da sua vida, recorda o membro dos Xutos & Pontapés, foi um espetáculo em Madrid, da Glass Spider Tour, que Bowie levou à capital espanhola em 1987.
"Não querendo ser muito fundamentalista, eu acho que a música morreu. É tão simples quanto isto. Não vejo ninguém na fila de espera sequer para chegar perto da carreira que o Bowie teve", declarou Nuno Gonçalves, dos The Gift, ao DN. "Podem haver bandas, os Stones, os U2, os Queen também o tiveram na sua altura. Mas não há ninguém como o David Bowie. E agora minutos antes de me ligar vim um post de um amigo Nuno Duarte, que me disse que tal como o Mozart, também ele teve o seu Requiem."
Esse Requiem terá sido Blackstar, editado na última sexta-feira. Para o músico português - para quem Life on Mars "é a melhor canção de sempre, o pop no seu estado perfeito, puro" - o facto de Bowie ter trabalhado naquele último álbum enquanto enfrentava o cancro "Só revela por um lado uma genialidade tremenda, um amor tremendo à música e aquela ideia fixa dele de querer fazer história e ser diferente dos outros. E isto é notável."
"O modo como a sua morte é lançada aos fãs é mais uma vez genial e de uma forma muito bonita e muito elegante - aliás como tudo o que ele fez na vida", diz Paulo Furtado. O músico conta ao DN que esteve ontem à noite a ouvir o novo álbum de Bowie e, depois, a "picar" algumas das canções mais conhecidas do músico. "Não fazia ideia de que ele ia morrer, é super estranho", diz o Tigerman. "Bowie sempre pertenceu a outro planeta, nunca consegui ver o homem para lá do artista." David Bowie "é o último de uma era em que a pop era algo arriscado". A forma "como morre e como a arte faz parte da sua morte é absolutamente tocante", acentua o Tigerman.
Xana, a voz dos Rádio Macau, afirmou: "Elegância, talento e inteligência acima da média fazem de David Bowie um dos performers mais representativos da música pop rock. A notícia e natureza da sua morte são profundamente tristes, sentidas como se de um amigo se tratasse. O dia começou mal."
Miguel Ângelo, líder dos Delfins, recordou ao DN "um dos artistas que mais variações introduziu na sua carreira, musicais e estéticas. Acho que ele vai ficar conhecido como um músico completamente revolucionário, não é por acaso que lhe chamam o Camaleão."
Ouviu o novo disco Blackstar, editado três dias antes da morte de Bowie, e conta que, sabendo do cancro que o músico enfrentou, "as letras fazem muito mais sentido, infelizmente."
"Durante estas décadas todas o Bowie reinventou-se várias vezes. Será sempre uma inspiração, mesmo depois de morto, os seus heterónimos, desde o Ziggy Stardust ao Major Tom serão sempre uma inspiração para um miúdo que pegue numa guitarra, num piano, teclado ou computador e queira fazer música."
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Álvaro Costa, radialista, afirmou hoje que o músico britânico David Bowie, que morreu no domingo aos 69 anos vítima de um cancro contra o qual terá lutado durante 18 meses, foi na música, "um farol para muita gente" como contou à agência Lusa.
"Teve uma carreira extraordinária, hiper longa e estamos perante uma espécie de Messias, pelas pistas, pelas ideias e referências que foi deixando. Um artista com A gigantesco", disse.
"A forma como se despede deste mundo também diz muito sobre ele; é ao mais alto nível, com um disco que é de alguma forma premonitório - entendemos agora. Estive a ouvir outra vez o disco e há lá frases que dão pistas. Tem um tom quase profético", sublinhou Álvaro Costa.
David Ferreira, antigo diretor da EMI -- Valentim de Carvalho, lamentou hoje a morte do músico britânico David Bowie, considerando que se perdeu um "grande criador de música" e um "grande manipulador".
"David Bowie, além de ter sido um grande criador de música, foi também um grande manipulador", disse David Ferreira à agência Lusa, após ter conhecimento hoje da morte do músico britânico, que na passada sexta-feira completou 69 anos e lançou o álbum "Blackstar", o 25.º da carreira.
David Ferreira justificou o facto de David Bowie ter sido "um grande manipulador", lembrando que o público não fazia ideia de que o músico britânico lutava contra um cancro, conseguindo afastar a imprensa do assunto.
"Pensando no que deve ter sido horrível estes 18 meses, em que não fazíamos ideia de que ele lutava contra a doença, esta última grande manipulação ele ganhou-a. Não venceu a doença, mas venceu a curiosidade doentia de muita imprensa, sobretudo em Inglaterra, onde a imprensa tabloide é doentia, foi praticamente cruel no caso do cancro de George Harrison, há 15 anos", lembrou.
David Ferreira, que editou Bowie em Portugal, sublinhou que o músico britânico, ao manter no privado a doença que lhe causou a morte, "venceu a imprensa, que não merece esse nome".
Luís Montez, produtor musical, lamentou hoje a morte do músico David Bowie, considerando que o músico britânico era "um artista muito à frente", criativo e uma referência para qualquer artista.
"Ele era muito criativo e tinha sobretudo uma capacidade de se reinventar constantemente. Por alguma razão era o conhecido como o camaleão. Além da música que fez em Inglaterra, nos Estados Unidos, depois foi para Berlim, onde teve influência da música eletrónica", salientou à agência Lusa Luís Montez, que em 1995 trouxe o músico a Portugal, no âmbito do festival Super Bock Super Rock.
No entender do diretor da empresa Música no Coração, David Bowie "era um artista muito à frente, que apontava sempre os caminhos e era uma referência para todos os músicos.
"Não há nenhum artista que não conheça a obra e quem está na música tem de conhecer a música de David Bowie, porque era fundamental", vincou.
Luís Montez contou à Lusa que em 1995, quando trouxe David Bowie a Portugal pela segunda vez (este atuou antes em Portugal em 1990), teve um contacto muito circunstancial com o músico.
"Um dos maiores de sempre, para sempre. Um artista/músico/performer sem igual, uma verdadeira e profunda inspiração", escreveu David Fonseca na sua página no Facebook. Ao telefone, conta que ontem à esteve a ouvir o novo disco, "Blackstar", "com o mesmo entusiasmo com que ouvi todos os outros", diz. Coisa rara nos artistas. "Os artistas quando envelhecem tornam-se iguais a si próprios e o David Bowie nunca foi nada disso. É uma pena e um cliché, mas o mundo fica mesmo mais pobre". O músico lembra-se perfeitamente do primeiro contacto com David Bowie, na década de 80. "Na altura em que tive acesso ao Bowie pela televisão, pelos vídeos". Os primeiros temas que ouviu foram "Blue Jean" e "Let's Dance". "Depois, fui daí para trás".
David Fonseca diz que estranhava o silêncio dos últimos anos. "Uma coisa que não deixa de ser curiosa é que quando uma celebridade tem uma doença, sabemo-lo. No caso do David Bowie, não me surpreende não se ter sabido porque nunca soubemos efetivamente muito sobre a sua vida pessoal, só sobre o seu lado artístico. Admiro-o ainda mais por isso, por nunca ceder".
Rita Redshoes, nascida em 1981, tem memórias antigas da música de Bowie na casa dos pais. Lembra-se de ouvir "Let's Dance". "Tive um período em criança em que não tinha perceção do David Bowie artisticamente". O despertar aconteceu "a partir da adolescência, quando comecei a fazer música e a ter bandas". Como outros músicos da sua idade, "o David Bowie era a referência" e o que a marca é "a maneira de cantar".
"Representa o que é a arte: não há estagnação, ela personifica a mudança, o pôr em causa", diz a artista. E acrescenta: "Representa aquilo que eu gostaria: não me repetir. Revisitar-me mas sempre com uma perspetiva nova".
Rui Reininho descreve David Bowie como "uma das poucas criaturas que considero genial". Recordando que o começou a ouvir na "adolescência, logo nos anos 70", diz ter ido "à procura das pistas que ele lançava. A primeira foi uma música estranhíssima, Space Oddity." Encarando o último álbum, Blackstar, como uma "missa negra, uma despedida", a voz dos GNR considera que nos videoclips de Lazarus e Blackstar "os olhos não escondem, há doença na personagem. A voz dele está muito trémula, nota-se que há aquele quebranto, aquele cansaço. Aquilo está cheio de pistas."
As reações internacionais
O filho mais velho de Bowie, o realizador Duncan Jones, confirmou no Twitter a morte do músico, já que o comunicado que anunciou a morte de Bowie, partilhado nas redes sociais, foi recebido com incredulidade. "Lamento dizer que é verdade. Estarei 'offline' durante algum tempo", escreveu, partilhando uma fotografia da infância com o pai.
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Brian Eno, o compositor e produtor musical que trabalhou com Bowie, limitou-se a colocar no Twitter um link com a notícia da morte do músico, escrevendo apenas: "As palavras não conseguem expressar: descansa em paz David Bowie".
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Tony Visconti, outro dos colaboradores próximos de Bowie, que produziu Young Americans e a "trilogia de Berlim" - que inclui os álbuns Low, Heroes e Lodger, escreveu na sua página de Facebook: "Ele sempre fez o que queria fazer. E queria fazê-lo da melhor maneira. A sua morte não foi diferente da sua vida - uma obra de arte. Fez-nos Blackstar, o seu presente de despedida. Soube durante um ano que seria assim. Era um homem extraordinário, cheio de amor e de vida. Estará sempre connosco. Por agora, é apropriado chorar".
Madonna escreveu na rede social que está "devastada". "Este grande artista mudou a minha vida. Foi o primeiro concerto que vi em Detroit".
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Outra reação chegou de Iggy Pop, colaborador próximo de Bowie. Os dois co-produziram o álbum Raw Power, dos The Stooges, a banda de Iggy, antes de produzirem os seus dois álbuns a solo. "A amizade de David era a luz da minha vida. Nunca conheci uma pessoa tão brilhante. Era o melhor que existe".
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Pharrel Williams e Kanye West prestaram tributo a Bowie, elogiando-lhe a criatividade, magia e inovação.
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David Cameron, o primeiro-ministro britânico, revelou que cresceu a ouvir e a ver "o génio da pop David Bowie". "Era o mestre da reinvenção, que acertava sempre. Uma enorme perda".
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[Notícia atualizada às 21.50]