As festas começam com a Orquestra Gulbenkian
Vai ser uma festa. É assim que Risto Nieminen, o diretor do Serviço de Música da Fundação Gulbenkian, antevê o concerto que a Orquestra Gulbenkian vai dar esta noite, às 22.00, na Praça do Comércio, em Lisboa. A entrada é livre.
Esta não é a primeira vez que a Orquestra Gulbenkian participa nas Festas de Lisboa, embora seja a primeira vez que tem a honra de fazer o concerto de abertura. "Abrimos as Festas simbolicamente, trazendo a prestigiada Orquestra Gulbenkian literalmente para a rua, uma forma de tornar acessível uma proposta cultural de grande qualidade que habitualmente só pode ser desfrutada por alguns", comenta Joana Gomes Cardoso, a presidente da Egeac. Risto Nieminen concorda que "é importante e interessante ter oportunidade de fazer este tipo de concertos e de chegar a um público diferente udaquele que vem ao auditório." No ano passado, terão sido cerca de oito mil os espectadores que estiveram no concerto da orquestra no Terreiro do Paço. "Há sempre muita gente que não sabe que vai acontecer um concerto, as pessoas estão de passagem e são apanhadas desprevenidas. No ano passado, estávamos na régie e havia muita gente a perguntar-nos qual era a orquestra que estava a tocar."
A pensar nisso, e também pelo facto de Lisboa ser este ano a Capital Ibero-Americana da Cultura, foi escolhido um programa com obras de dois compositores mexicanos, dois brasileiros e um espanhol. "Escolhemos uma música que achamos que funciona bem ao ar livre, não pode ser demasiado subtil se não perdia-se", explica Risto Nieminen. "E há ainda um encore, que é surpresa."
A noite começa com Sensemayá, do compositor mexicano Silvestre Revueltas. A música baseia-se num poema de Nicolás Guillen que se refere a um ritual afro-cubano, "é um ritual antigo em que as pessoas matavam uma serpente", explica o diretor do Serviço de Música da Gulbenkian. Segue-se o Concerto de Aranjuez, de Joaquim Rodrigo, a obra que dá nome ao programa, e que é bastante famosa. "Foi escrito no final dos anos 30 e, na altura, o compositor não deu qualquer explicação sobre a sua inspiração, mas as pessoas diziam que tinha a ver com as vítimas da ditadura fascista, com a guerra civil de Espanha. Mais tarde, o compositor explicou que afinal tinha a ver com recordações pessoais", conta Risto Nieminen. Toda a gente já deve ter ouvido aquela melodia melancólica em guitarra, que aqui será interpretada pelo solista Pablo Sáinz Villegas.
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Do brasileiro Heitor Villa-Lobos escolheu-se a Cantileña das Bachianas Brasileiras, que é também uma peça bastante conhecida, "com uma música barroca ao fundo mas depois interpretada de uma maneira muito latina". Com a participação da soprano Eduarda Melo. El amor brujo: Danza Ritual de Falla é a obra mais antiga do programa, foi composta pelo mexicano Manuel Falla para um bailado em 1915. Já Danzon nº 2, do mexicano Arturo Márquez, é a mais recente. "Danzon tornou-se um sucesso por causa do maestro Gustavo Dudamel que, quando começou a fazer as digressões por todo o mundo com a sua orquestra, tocava esta peça como encore em todos os concertos. Até que começou a entrar no programa de outras orquestras." "É boa música mas divertida de ouvir, dá a sensação de se estar numa festa", conclui Risto Nieminen. Para dar as boas vindas ao verão.
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