Poucos arriscariam adivinhar que a frágil Frances (Fanny) Rose, atacada pela poliomielite logo aos 18 meses, filha de imigrantes judeus russos assediados pelo Ku Klux Klan de Winchester, Tennessee, haveria de tornar-se um dos maiores emblemas de sempre do mundo do espetáculo norte-americano, primeiro nas canções, depois na televisão. Mas foi precisamente essa a conquista de Dinah - nome que adotou depois de se mudar para Nova Iorque, em busca de uma carreira - Shore, que, durante décadas, disputou o título de rainha da TV com Lucille Ball, uma por força das comédias que protagonizou (Lucy), a outra (Dinah) em função dos programas em que a conversa e a música se misturavam para garantir uma "companhia amiga" aos telespectadores e, sobretudo, às telespectadoras..Para arrumar já a questão, Miss Dinah Shore colecionou um Globo de Ouro (em 1977), seis Emmys destinados ao horário nobre (como atriz, apresentadora, cantora e personalidade) e mais dois reservados à programação diurna, quando o seu Dinah"s Place passou a ser exibido à tarde, já na década de 1970. Além disso, rivalizou com cantoras como Doris Day. Peggy Lee, Patti Page ou Rosemary Clooney, mas nenhuma das suas "adversárias" conseguiu a impressionante série de 80 canções consecutivas a passar pelas listas de mais vendidos da Billboard..Dinah conseguiu ainda um contrato de um milhão de dólares (segundo os especialistas, equivalentes a dez milhões nos dias de hoje) com a editora RCA Victor, a troco de uma garantia da gravação de cem temas. Por fim, há que referir o seguinte: esta mulher, peregrina e de múltiplos méritos, conseguiu três "entradas" distintas nas estrelas dos Passeios da Fama de Hollywood - uma diz respeito à música e situa-se no 6901 do Hollywood Boulevard; outro à rádio, localizada no 1751 da Vine Street; o terceiro concerne ao seu trabalho na TV e "mora" no 6916 do já citado Hollywood Boulevard..Talento e teimosia.Quando era criança, Fanny Rose sonhava com uma carreira como cantora lírica - e Michael B. Druxman conta como o pai da menina a levava para a loja e a deixava cantar para os clientes, às vezes ganhando dez dólares como recompensa. Menos favorável a esta exibição dos dotes artísticos do rebento era a mãe que, entre outras questões, levantava a de a miúda "não saber quando parar", acabando por cansar o seu "público". Dinah revelaria, muitos anos depois, que um dos ralhetes da mãe se tornou precioso para o seu percurso como anfitriã de talk shows: "Se não fores percebendo o espírito das pessoas, vais acabar por ser uma maçadora. Tão importante como cantar ou falar são a disponibilidade para ouvir e a sensibilidade para não abusar"..Leia mais na edição impressa ou no e-paper do DN